Fazenda, Administração, Transportes, Indústria e Comércio, Educação e Casa Civil são as peças-chaves do "xadrez político" iniciado pelo governador Jaime Lerner (PFL) e que pode culminar, a partir da semana que vem, na primeira grande reforma de secretariado de seu segundo mandato. Desgastado politicamente, pressionado de todos os lados e assustado com o avanço da oposição nas últimas eleições, o governador ainda não tem os nomes dos titulares para todas as pastas que pretende reformular. Lerner tenta durante o feriadão de Finados avançar na reengenharia. A reforma do secretariado é uma cartada decisiva para garantir a governabilidade nos últimos dois anos que ainda restam a Lerner no comando do Palácio Iguaçu.
O ponto mais delicado da reforma que se esboça é o destino do todo-poderoso secretário da Fazenda, Giovani Gionédis. O governador tem uma excelente relação com o secretário que, nos últimos anos, acumulou poder e influência dentro do governo. A habilidade em tratar de temas espinhosos como a privatização do Banestado e a antecipação dos royalties de Itaipu lhe fortaleceu. "O Gionédis é imexível, manda mais que o governador", descreve uma fonte ligada ao governo do Estado.
Nos bastidores, corre, entretanto, a versão que os superpoderes adquiridos pelo secretário passaram a inquietar o governador nos últimos meses. Pressionado por setores do próprio governo e por conselheiros políticos tradicionais como o ex-prefeito de Curitiba Saul Raiz e o empresário Maurício Schulmann, Lerner teria sinalizado disposição em rever os poderes que ele mesmo conferiu a Gionédis.
Leia mais:
Sede da Câmara de Londrina será entregue dia 10 e vai receber posse, diz presidente
Deputados paranaenses confirmam emendas para o Teatro Municipal de Londrina
Bolsonaro é plano A, posso ser o plano B, diz Eduardo sobre eleição de 2026
Comissão de Constituição e Justiça aprova projeto que transforma Detran em autarquia
Inúmeros fatores pesam contra e a favor do secretário da Fazenda. As brigas internas que já teve com a ex-secretária da Administração Maria Elisa Paciornick, que saiu do governo para assumir uma função na Renault, e as desavenças com o ex-presidente do Banestado e ex-ministro da Previdência Reinhold Stephanes, representaram desgaste aos olhos do governador, apesar de Gionédis sempre ter saído vencedor nas brigas domésticas.
Nas últimas semanas, Gionédis se digladiou com o chefe da Casa Civil demissionário, Alceni Guerra. Maria Elisa trombou com o secretário da Fazenda quando do pagamento das férias aos professores estaduais. Ela queria o repasse de uma só vez. Gionédis não. A briga com Reinhold Stephanes e com Alceni Guerra foi por conta da privatização do Banestado. Stephanes e Alceni, por motivos diferentes, queriam que a privatização fosse postergada. Gionédis mais uma vez venceu a queda-de-braço.
Corre ainda no Palácio Iguaçu a versão de que Lerner tenta até segunda-feira convencer Gionédis a assumir vaga no Tribunal de Contas (TC) do Paraná. Se o secretário aceitar a idéia de oxigenação nas finanças, colocando um outro nome para ocupar o posto, o governo vai se empenhar para fazê-lo o sucessor do conselheiro João Féder, que deixou o TC em junho passado.
A fórmula, porém, só pode ser colocada em prática pelo governador se até lá tiver o nome do substituto. Até ontem, eram especuladas as sondagens de Reinhold Stephanes, que teria o apoio de Saul Raiz e Maurício Schulmann para ficar com a pasta; e também do empresário do Grupo Inepar, Mário Celso Petraglia, que foi tesoureiro da primeira campanha de Lerner em 1994.
A primeira tentativa de remoção de Gionédis, para o TC ou até para outra pasta no governo, teria sido há cerca de quatro meses, segundo revelou uma fonte ouvida pela Folha. Durante uma viagem de avião, o governador sugeriu transferir Gionédis da Fazenda para a Administração. "Da Fazenda eu vou para casa", teria dito o secretário para Lerner. Desde então o governador não teria mais tocado no assunto.
A vitória apertada do prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL); a derrota do PFL nos principais colégios eleitorais do Estado; e o interesse da cúpula nacional do PFL de transformar Lerner numa opção política para 2002 teriam feito o governador refletir novamente sobre o assunto nos últimos dias. Porém, desta vez, a mexida promete ser mais ampla.