, 14/12/2014 - O PT virou uma máquina eleitoral. O PT está velho. O PT precisa ser passado a limpo. O PT necessita de dirigentes mais qualificados. As frases acima poderiam ter saído de uma manifestação contra o governo Dilma Rousseff, mas foram todas pronunciadas na sexta-feira, em São Paulo, por graduados dirigentes petistas durante a reunião da chapa majoritária Partido que Muda o Brasil (PMB), que detém mais de 70% dos cargos de direção.
Desgastado por seguidos escândalos que imputaram ao partido o estigma de corrupto, o PT tenta dar uma reviravolta com o objetivo de resgatar a imagem e viabilizar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto em 2018.
Aprovado há duas semanas em Fortaleza, durante reunião do diretório nacional que contou com a presença da presidente Dilma Rousseff, o Programa de Reorganização do PT 2015/2016 é descrito por alguns dirigentes petistas como a maior mudança de rumo no partido desde 2001, quando o 22.º Encontro Nacional do PT aprovou a política de alianças ampla que levou à primeira eleição de Lula em 2002.
A ideia agora é fazer o caminho de volta às origens. O principal ponto do programa é o resgate da imagem ética do partido, considerado fundamental na estratégia de combate ao antipetismo manifestado durante e depois das eleições deste ano.
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"É preciso passar o PT a limpo", disse Jorge Coelho, um dos vice-presidentes do partido.
O passo inicial foi a aprovação, também em Fortaleza, de uma resolução política proposta por integrantes da Mensagem, segunda maior corrente petista, que determina a expulsão dos filiados envolvidos em casos de corrupção.
O expurgo é uma das condições impostas por Lula para carregar pela sexta vez a bandeira petista em uma eleição presidencial.
Mais do que palavras, o PT pretende dar demonstrações práticas, como foi a ordem para que a bancada do partido na Câmara votasse pela cassação do ex-petista André Vargas, na semana passada. "Quando o PT pede a cassação do André, dá um exemplo concreto", disse o presidente nacional do partido, Rui Falcão.
TV-PT
Para reforçar o resgate da imagem, o PT vai levar ao ar em fevereiro uma web-TV. Estúdios foram montados em São Paulo e Brasília e o jornalista Albino Castro, com vasta experiência em televisão, foi contratado. O objetivo é criar um canal onde o PT possa dar sua versão para os principais fatos políticos.
Outra medida concreta será a qualificação do perfil dos dirigentes, hoje em sua maioria egressos da burocracia partidária. Na reunião de sexta-feira Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência, colocou o dedo na ferida. "Precisamos rever o próprio funcionamento do partido e de um grupo dirigente à altura das tarefas", disse ele.
Outro passo é abrir o partido, hoje totalmente tomado pelos grupos que fazem a disputa interna, para segmentos da sociedade que se mobilizaram pela reeleição de Dilma, têm proximidade ideológica com o PT, mas não encontram espaço na máquina partidária.
O Processo de Eleições Diretas (PED) para escolha da direção, foco de denúncias e irregularidades nos últimos anos, está com os dias contados, segundo dirigentes graduados.
Além de tentar reconstruir a imagem ética, o PT pretende se livrar da pecha de partido pragmático, cultivada ao longo de 12 anos no governo.
"Há quanto tempo somos uma grande máquina de ganhar eleições?", questionou o deputado José Guimarães (CE), outro vice-presidente petista.
O programa prevê a apresentação de uma nova agenda voltada para a juventude que foi às ruas defender a reeleição de Dilma com base em propostas para cultura, ocupação das cidades e questões comportamentais.
A ideia é sinalizar para os setores da "nova esquerda" uma guinada ideológica de volta às raízes e também se reaproximar de movimentos historicamente ligados ao partido.
"O PT tem uma estrutura velha para este novo momento", disse Guimarães.
A dependência excessiva do dinheiro, já verbalizada por Lula, também está no foco das mudanças. Na sexta-feira o tesoureiro do PT, João Vaccari, alvo da Operação Lava Jato, advertiu o partido sobre os impactos do fim das doações privadas de campanha, uma das principais bandeiras petistas. Segundo ele, uma saída é fazer campanhas para incentivar doações de pessoas físicas.
Durante a reunião, Falcão resumiu o programa da seguinte forma: "Revitalizar, repensar, revigorar, refazer. Mas nunca refundar". A frase é uma alusão ao grupo que pregou a refundação do partido no auge do escândalo do mensalão.
Para colocar o projeto em prática, o PT conta com apoio de Lula, que já deu sinais de que pretende participar mais da vida partidária. O resultado do esforço deve se materializar na etapa final do 5.º Congresso Nacional do PT, marcado para junho, em Salvador. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo