Em discurso para a militância petista, na quadra do Sindicato dos Bancários do Estado de São Paulo, O ex-presidente Lula disse na noite de sexta-feira (4) que não irá se calar mesmo ameaçado por perseguição política e denúncias infundadas. E que para derrotá-lo, os opositores terão de enfrentá-lo nas ruas.
Lula falou em ato organizado pelo PT, sindicatos e movimentos sociais sobre a situação política após ter sido conduzido pela Polícia Federal ao Aeroporto de Congonhas para depor nas investigações da Operação Lava Jato.
"Eu vim aqui para dizer o seguinte: eu não sei se vou ser candidato, mas eu queria dizer a todos que me ofenderam hoje pela manhã que foi uma ofensa; um ex-presidente que fez por esse país o que eu fiz, não merecia receber o que eu recebi hoje de manhã. Mas sem mágoa. Quero dizer para você aqui, se eles tiverem que me derrotar, eles vão ter que me enfrentar nas ruas deste país", disse o ex-presidente.
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O discurso de Lula, o último do evento, foi acompanhado por militantes e lideranças políticas que lotaram a quadra dos bancários. Muitas pessoas, no entanto, não conseguiram entrar no local, e acompanharam a fala do ex-presidente do lado de fora, na rua Tabatinguera, na região da Sé.
Lula disse que não pretendia se candidatar nas próximas eleições presidenciais, mas diante da atual conjuntura, colocou-se à disposição da militância para a candidatura de 2018. "Eu estava quieto no meu canto. Estava na expectativa que vocês escolhessem alguém para disputar 2018. Cutucaram o vulcão com vara curta. Portanto quero me oferecer a vocês, esse jovem de 70 anos de idade com tesão de um jovem de 30, com corpo de atleta de 20. Não tenho preguiça de acordar as 6 horas. E não tenho problema de dormir às dez".
"A partir de hoje, a única resposta que eu posso dar a insolência que fizeram a mim, a ofensa que fizeram a mim, é ir para rua dizer: estou vivo e sou mais honesto do que vocês. De coração eu quero agradecer a cada um de vocês", acrescentou.
Lula voltou a dizer, como havia feito no pronunciamento à tarde, que voltará a viajar pelo país e que não se calará diante do que diz ser perseguição política e denúncias infundadas. "Estou disposto a viajar esse país do Oiapoque ao Chuí, estou disposto. Se alguém pensa que vai me calar com perseguição e denúncia, não sabe que eu sobrevivi à fome, e quem sobrevive à fome não desiste nunca", disse.
"Eu não sou vingativo, não carrego ódio na minha alma, mas eu quero dizer para vocês uma coisa: eu tenho consciência do que eu posso fazer por esse povo, e tenho consciência do que eles querem comigo. Portanto, queridas e queridos companheiros, se vocês estão precisando de alguém para animar a nossa tropa, o animador está aqui", destacou.
O ex-presidente ainda disse que a operação da Polícia Federal confiscou um celular de sua esposa, Marisa Letícia, e papéis da casa de seu filho, Luís Cládio, que já haviam sido levados há quatro meses.
"Na casa de meu filho, Luís Cláudio, levaram a mesma papelada que já levaram há quatro meses atrás. As perguntas que fizeram hoje já fizeram cinco meses atrás. Então é pura provocação. Estão dizendo: nós existimos e vamos criminalizar o PT. Eu quero dizer, vocês existem mas eu existo. E eu vou resistir à criminalização".
No ato, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse que a ação da Polícia Federal foi um "golpe no Estado de direito" e classificou o ocorrido como muito grave.
"É muito sério o que aconteceu hoje. É muito grave o que aconteceu hoje. Foi um golpe no Estado democrático de Direito. Não foi outra coisa. Não se faz isso, não é necessário nada disso", disse em discurso na quadra do Sindicato dos Bancários do Estado de São Paulo, na região da Sé.
"A nossa lei assegura que ninguém nesse país pode ser coagido se estiver à disposição da Justiça, se estiver colaborando com a Justiça. Se estiver disponível para enfrentar qualquer debate, público ou privado, se estiver disponível para prestar qualquer esclarecimento, se tem endereço certo, se trabalha em lugar certo. E se está há 50 anos defendendo a democracia no Brasil, e esse é o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva", disse.
"O que está por trás desse tratamento, o que está por trás desse tipo de ação e iniciativa totalmente desnecessária em se tratando de uma pessoa, que mais fortaleceu a Polícia Federal, que mais autonomia deu ao Ministério Público Federal?", acrescentou.
Haddad ainda sugeriu que, se a condução coercitiva foi tomada para garantir a segurança do investigado - como argumentaram procuradores e o juiz do caso – que a militância passe a escoltar o presidente Lula."Ninguém pode se furtar a qualquer investigação, todos nós estamos sujeitos, sobretudo homens públicos. Mas nós temos que nos dar o respeito, e exigir o cumprimento da lei. O que aconteceu hoje foi um ato desnecessário. Mobilizar centenas de profissionais para escoltar um homem? Nós escoltaremos o Lula da próxima vez".