O vice-presidente do Conselho de Administração do Centro Integrado e Apoio Profissional (Ciap), Eliézer Boaventura, minimizou ontem, em entrevista exclusiva à FOLHA, a intervenção imposta à entidade pela Justiça Federal do Paraná.
A medida, anunciada anteontem, já no dia quando da posse do interventor em Curitiba, atendeu ação civil pública ingressada em julho pelo Ministério Público Federal (MPF) na qual, além da intervenção para que fossem avaliadas contas e convênios da entidade, foi requerida ainda a desconstituição do Conselho de Administração (CA) da entidade.
De acordo com Boaventura, empossado com a diretoria provisória - afetada agora pela decisão do juiz federal Marcus Holz - no último dia 2, entretanto, o cenário vislumbrado para o período pós-eleitoral é o mais aguardado pela oscip: ''Creio que depois das eleições cada uma das prefeituras e governos aos quais a entidade presta serviços terá que assumir sua parcela de culpa, de modo que o bode expiatório Ciap vai ser tirado de cena. Agora cada um terá fazer uma prestação de contas ao interventor, que vem com sua equipe, com auditores, com equipe da Receita Federal... Essa avalanche vai provar quem são os verdadeiros culpados'', disse.
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A declaração de Boaventura é uma resposta à expectativa de representantes do Ciap ao que o então delegado-chefe da Polícia Federal (PF) em Londrina, Evaristo Kuceki, dissera à reportagem semanas depois de deflagrada a ''Operação Parceria'' - na qual, junto com Receita Federal e Controladoria Geral da União (CGU), houve apreensões e prisões referentes à oscip, acusada de desvios de R$ 300 milhões de verbas federais, em quatro estados, nos últimos cinco anos -: que as entre as futuras etapas da investigação na oscip estava a averiguação dos contratos com agentes públicos.
A entrevista foi concedida em um hotel de Londrina ontem de manhã. O vice-presidente do CA desconstituído disse que não conseguiu chegar a tempo na capital, na véspera, para acompanhar a posse do interventor - à qual uma advogada do Ciap esteve presente -, mas garantiu que a notícia não surpreendeu o grupo. ''Porque as denúncias que aconteceram em relação ao Ciap são vazias, na maior parte. Mas, na realidade, foi bom haver essa intervenção, pois ela colocará luzes a muitas coisas que foram ditas e que nos esforçamos ao extremo para cumpri-las, mas não conseguíamos - agora veremos se a Justiça vai provar e cumprir aquilo que ela disse.''
Na esfera criminal, denúncia do MPF acusou 21 pessoas ligadas à oscip de crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro; a Justiça Federal Criminal a acatou em relação a delas, agora 18 réus no processo. ''Cabe agora ao interventor, todo o aparato judicial que ele tem, mais as informações da PF às quais não tivemos acesso, enfrentar o que vem pela frente - inclusive as 7 mil ações trabalhistas de que o Ciap virou alvo, nos últimos meses, após esse processo acusatório, tanto aqui no Paraná quanto no Maranhão, em São Paulo e no Pará.'' Ainda sobre o interventor, não poupou elogios: ''Ele agora é o Ciap. Sei que é um homem ilibado, é um delegado, pessoa preparada, que atuou em todas as intervenções do Paraná nos últimos 20 anos; trata-se de uma pessoa extremamemente capacitada'', enumerou, alegando desconhecer o nome do interventor.
No caso de Londrina, onde a Prefeitura já avisou que haverá rescisão de convênios - são quatro, ao custo anual de cerca de R$ 48 milhões -, o vice-presidente resumiu: a decisão final caberá ao interventor. ''Cabe ao interventor e à sua penetração política definir se continuam esses convênios ou não, mas entendo que ele terá o mesmo problema que tivemos: se uma oscip presta serviços de alto nível, como o Ciap, e de repente há um problema como houve e entra o MP e a Justiça, e aí começam esses atrasos de pagamento, prova-se que a coisa caminhava bem.'' Funcionários do Ciap em Londrina, no entanto, já afirmaram que há mais de ano os salários vinham atrasando.
A defesa do Ciap tenta reverter a decisão da intervenção - por enquanto vigente para seis meses -, do dia 20 de agosto, mas em ação civil pública que corria em segredo de Justiça, no Tribunal Regional Federal (TRF) da 4 Região, no Rio Grande do Sul, com medida que tramita na 6 Vara Cível. A assessoria de imprensa do MPF não retornou as ligações da FOLHA sobre as atribuições práticas e mesmo o nome do interventor, que, a princípio, deve atuar a partir de Curitiba, sede fiscal do Ciap.