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Quando o corpo chora

01 set 2005 às 11:00

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Em algum momento da vida, de 15 a 20% da população apresentarão depressão, tornando-a um problema de saúde pública que merece muita atenção não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. "É, com certeza, um dos distúrbios que deveria ter prioridade no diagnóstico e tratamento pelos médicos e que muitas vezes – se não na maior parte das vezes – é subdiagnosticado e subtratado", comenta o Dr. Antonio Augusto de Arruda Silveira Júnior, clínico geral e geriatra responsável pelo Instituto Lyon de Curitiba.

Um grande estudo da Organização Mundial da Saúde sobre "O Impacto das Doenças Globais" reconheceu a depressão como uma das doenças que ocasionam maior comprometimento e sofrimento sendo que, juntamente com a Aids, serão as duas condições mais incapacitantes para a vida em 2020.

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Porém, ao contrário do que muitos leigos e até médicos acreditam, a depressão pode se apresentar sob formas bem diferentes das conhecidas classicamente, onde o paciente tem tristeza crônica, melancolia, perda de prazer pela vida, falta de energia, alterações do padrão do sono, baixa alto-estima, retraimento social e irritabilidade.

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"Muitas vezes, o quadro depressivo se manifesta de forma totalmente atípica", explica o médico. "Uma forma freqüente de manifestação depressiva é a ansiedade. A associação entre ansiedade e depressão é superior a 70% e isso acarreta um grande prejuízo aos pacientes que procuram atendimento médico, pois em grande parte das vezes lhes são prescritas medicações ansiolíticas (tarjas pretas), o que apenas leva a mascarar sintomas e pode levar à cronificação do quadro depressivo."

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Segundo Silveira Júnior, além dos sintomas de ansiedade, a depressão pode se manifestar através de sintomas clínicos que não conseguem ser diagnosticados mesmo por exames complementares minuciosos, trazendo ao paciente grande angústia e insegurança. Trata-se das Síndromes Somáticas Funcionais.


"Um estudo internacional de 1999, com dados da Organização Mundial da Saúde, demonstrou que em torno de 45 a 95% dos pacientes com depressão atendidos por clínicos apresentavam sintomas somáticos, sendo esta a sua principal queixa. Os sintomas mais referidos eram: dor de cabeça, constipação e dor nas costas", diz. "O número de consultas médicas como resultado de sintomas somáticos têm aumentado nos últimos anos, fazendo com que o paciente tenha uma peregrinação por especialistas, sem ter seu diagnóstico definido."

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Os sintomas mais comuns relacionados à depressão são:


o dor de cabeça crônica de forte intensidade com uso abusivo de analgésicos;

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o dor abdominal difusa, normalmente relacionada à tensão emocional, podendo acarretar até desmaios;


o dor na região do estômago com endoscopia digestiva normal;

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o síndrome do intestino irritável (diarréia crônica com excesso de gases);


o dor atípica no peito, não cardíaca;

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o falta de ar em repouso;


o síndrome da fadiga crônica (cansaço crônico sem origem definida);

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o sensibilidade química múltipla (alergias freqüentes), principalmente de origem alimentar e alcoólica;


o intensa tensão pré menstrual (TPM);


o dor atípica na face;


o dores articulares nos membros ou mesmo nas costas;


o disfunção sexual.


"Sabemos que esses sintomas somáticos são freqüentes na depressão porque a serotonina e a noradrenalina (neurotransmissores), que mediam várias funções no cérebro, modulam nossa sensibilidade à dor", esclarece o médico. "Desta forma, os pacientes com alterações nesses neurotransmissores têm maior tendência a apresentar sintomas físicos e psíquicos da depressão".


Antigamente, o uso de antidepressivos para tratamento de dores crônicas tinha efeitos colaterais que impediam o seu uso continuado. "Atualmente, temos medicamentos de grande eficácia, sem alteração sobre o peso, excelente perfil de segurança e tolerabilidade e alta capacidade de remissão dos sintomas", comenta Silveira Júnior. "E é por isso que é tão importante identificar e tratar a depressão da forma correta. É sempre bom lembrar que o diagnóstico de sintomas somáticos relacionados à depressão só pode ser feito após minuciosa avaliação clínica, laboratorial e com exames complementares, para que não ocorram erros diagnósticos e patologias graves, como, por exemplo, as cardiovasculares, que colocam a vida do paciente em risco", finaliza.

Dr. Antonio Augusto de Arruda Silveira Júnior – Especialista em Clínica Médica e Cardiologia e Pós-Graduado em Geriatria e Exercícios Físicos no Envelhecimento pela Faculdade de Medicina da USP. Médico responsável pelo Instituto Lyon de Curitiba. Autor dos livros "Musculação Aplicada ao Envelhecimento – O bem-estar não tem idade" e "Pare de Envelhecer Agora".


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