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Os Sentidos do Amor em Héstia e Afrodite

31 dez 1969 às 21:33
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Na primeira fase do universo, o príncipio primeiro era Caos, que em grego significa o abismo insondável. No dicionário dos símbolos de Jeam Chevalier e Alain Gheerbrant, o Caos é "a personificação do vazio primordial, anterior à criação, quando a ordem ainda não havia sido imposta aos elementos do mundo". Na cosmogonia egípcia, o Caos é uma energia poderosa do mundo sem forma que circunda a criação ordenada, de modo que existia antes da criação e coexiste ainda com ela, envolvendo o mundo formal como uma imensa e inexaurível fonte de energia criadora.

Do Caos, nasceram Géia que é a Terra, o Tártaro que é o local mais profundo das entranhas da terra e Eros, o deus do amor que significa o desejo incoercível dos sentidos e que promove os encontros e desencontros dos vários elementos, buscando alcançar a união dos opostos que significa ampliação e acolhimento de todos os matizes e tons possíveis na ocorrência dessa união.

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Eros garante não apenas a continuidade das espécies, mas também a coesão interna do cosmos. A coesão das relações. Representa a carência que impulsiona a busca pela plenitude jamais alcançada.
O amor em Eros é uma fonte de progresso quando vivido como uma efetiva união, mas quando é vivido como apropriação, o seu valor se torna pervertido e em vez de ser um centro de coesão torna-se princípio de divisão e morte.
O amor representado por Eros é a pulsão fundamental do ser, a libido a impulsionar toda a existência a se realizar em forma de ação.

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ALGUMAS RELAÇÕES/OUTRAS RALAÇÕES


A própria Géia gerou Urano, o céu. Urano cobriu a Terra (Géia) e desse casamento sagrado nasceu a primeira geração divina.
Crono e Réia, pais de Héstia, fazem parte desta primeira geração.
Réia simboliza a energia escondida no seio da Terra e Crono significa o tempo personificado que devora e estanca as fontes da vida. Ao fecundar Réia, a energia escondida no seio da terra, esse tempo personificado (Crono), tornou-se, ele próprio, a fonte da vida.

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Héstia, para os gregos e Vesta para os romanos, é a primeira filha de Réia e Crono e conseqüentemente a irmã mais velha da segunda geração dos deuses olímpicos e uma das principais entre as doze deusas olímpicas.
Quando Crono engoliu os seus filhos temendo ser destronado por algum deles, Héstia foi a primeira a ser engolida pelo pai e a última a ser vomitada.
De maneira que Héstia foi a filha que mais se familiarizou com as entranhas desse pai que é o Tempo. Por isso, Héstia representa o amor que sabe o momento certo de intervir, o momento certo de calar e o momento certo de se enfurecer ou colocar limite. Héstia sabe usar o tempo a seu favor e dispor da sabedoria advinda da experiência.



Héstia é a deusa da lareira, ou, mais especificamente, ela é representada como o fogo da lareira que consagrava tanto o lar, como o templo e a cidade.
A lareira deveria ser redonda, assim como o templo de Héstia. Seu símbolo é o círculo.
Enquanto não houvesse a lareira circular com a chama que a representava, nem o lar, nem o templo e nem a cidade estariam santificados.
Assim, Héstia é o fogo sagrado que ilumina, acolhe e aquece com sua suave presença.

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O amor em Héstia é como a brasa da lareira. Queima e arde sem, no entanto, se exaltar.


Essa deusa não se interessava pela vida social do Olimpo e nem podia ser encontrada ali. Não participava nem dos romances e nem das guerras dos deuses.
Tanto na vida social quanto nas guerras e nos romances, o fogo, ou melhor, a energia que se utiliza é uma chama febril, o que não faz parte das características dessa deusa.

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A deusa era encontrada em forma de fogo nos lares, templos e cidades.
O aconchego que se experimenta no lar; a união mística que se experimenta nos templos e o sentimento de pertencer a um lugar, se deve ao amor simbolizado por Héstia.


É considerada uma deusa virgem a quem Afrodite é incapaz de persuadir e dominar com os desejos afogueados da paixão.
Héstia não se deixa penetrar por idéias ou sugestões que considere inadequadas para si, dessa maneira, Héstia não se coloca como dependente e nem mesmo deseja que alguém seja dependente dela.
O amor representado por Héstia é livre e libertador. Não subjuga e nem prende. O amor em Héstia é amor de virtude.

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Poseidon, deus do mar e Apolo, deus do sol, foram induzidos por Afrodite a se apaixonarem por Héstia, no entanto, a deusa os recusou firmemente. De modo que, ao invés de um presente de casamento, Zeus lhe concedeu o privilégio de ter seu lugar no centro da casa e da cidade para receber o melhor das oferendas.


A deusa Héstia é a menos conhecida dentre os deuses olímpicos e nem foi representada em forma humana como os demais deuses.
O fato dela não ter uma forma humana, talvez represente a dificuldade em se estabelecer e praticar esse amor por ela representado. Esse amor não egoísta, que acolhe e se mostra presente independentemente de qualquer situação, um amor assim incondicional e, no entanto que não se submete, não pode significar um amor doente conforme os amores que necessitam de dependência. É de fato, uma maneira de amar bastante incomum. Não oprime, não exige e não se submete.
Quando uma pessoa sente esse tipo de amor, ela possui a sinceridade e honestidade para consigo mesma. Pois, mesmo amando incondicionalmente, não significa que ficará submetida se caso a relação não estiver sendo boa. Deixa aberta a possibilidade de olhar bem nos olhos do outro e dizer: "Eu tenho amor por você, mas devido a essa situação que efetivamente nos separa, eu não mais me entregarei a esse amor".

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Por outro lado, os rituais de celebração para a deusa Héstia, se dava através de rituais de fogo. Mas, não o fogo alto e jubiloso como o fogo do amor de Afrodite, é o fogo da lareira que torna o ambiente caloroso e estimulante ao aconchego e tranqüilidade.
Freqüentemente, Héstia era a parceira de Hermes, o deus mensageiro. Conhecido pelos romanos como Mercúrio. A representação mais primitiva de Hermes foi uma pedra em forma de pilar chamada "Herma". O círculo feminino de Héstia e o pilar fálico de Hermes simbolizam a união e parceria desses deuses. Cada qual com sua posição, cada qual com seu caminho, separados e juntos somente na comunhão do amor.


Em todas as casas, enquanto a representação de Héstia se fazia em lareira circular no centro do lar, Hermes, representado pelo pilar, era colocado na entrada.
Enquanto Héstia trazia calor a casa, Hermes se postava à porta para guardar e trazer fertilidade.
Essas divindades também apareciam ligadas nos templos.
Embora permanecessem separados, estavam relacionados tanto nas casas quanto nos santuários, inclusive com rituais de fogo para ambos.

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Os arquétipos de Héstia e Hermes estão intimamente relacionados ao fogo sagrado. Hermes-Mercúrio simboliza o espírito alquímico e transmutador do fogo elementar. De modo que Hermes é o elemento alquímico que acende o fogo que está no centro e que é representado por Héstia.
O espírito ágil de Mercúrio acende o mundo das idéias que irão excitar os sentimentos mais profundos. Hermes-Mercúrio é o elemento alquímico que incita de vida à pedra quando ela se abre para ele.
A pedra antes de acolher Mercúrio é tão somente uma pedra. Ao receber o elemento transmutador, a pedra se transforma em Pedra Filosofal que nada mais é do que o CORPO sensibilizado pela razão e sentidos, o cadinho alquímico de toda e qualquer transformação.
Hermes possibilita colocar em palavras aquilo que se sente e dar a forma ao mundo das idéias.
A união entre ambos simboliza a inteligência sensível que usando a chama do amor utiliza a espada da razão para concretizar o conhecimento em forma de ação no mundo.


Passemos agora a falar do amor em Afrodite. Em Hesíodo, Afrodite, a deusa do amor, nasceu da luta pelo poder entre Urano e seu filho Crono que viria a ser o pai da primeira geração de deuses do Olimpo.
Urano, para não deixar de ser o governador do mundo, tão logo nasciam seus filhos, imediatamente os devolvia ao seio materno, ao seio da Terra. Géia pediu aos filhos que a vingassem, todos se recusaram, exceto o mais jovem, Crono que com uma foice cortou os órgãos sexuais de seu pai e os atirou ao mar.
Da espuma branca feita esperma que se espalhou pelo mar, nasceu a bela Afrodite, posteriormente retratada por Botticelli em "O Nascimento de Vênus", nome romano de Afrodite.
A deusa Afrodite tem Urano como pai e as ondas do mar como a mãe. Afrodite pertence a primeira geração divina, portanto, anterior a deusa Héstia.
Como Afrodite é símbolo das forças irrefreáveis da fecundidade, do instinto repleto de desejo ardente que leva a procriação é natural que esteja presente já na primeira geração dos deuses.


Afrodite é a mais bela e talvez, a mais conhecida das deusas por representar o amor e a beleza. Dotada de irresistível encanto, foi por Homero denominada "amante do riso". É associada ao ouro, sêmem e ao mel, numa clara referência à procriação. Também, aos cisnes devido a beleza e as pombas por causa do constante acasalamento.


Ao contrário das demais deusas, Afrodite era livre para escolher seus companheiros e amantes que encantados por sua beleza, a disputaram.
Escolheu e casou-se com Hefestos, o deus do fogo e da forja.
Hefesto é um deus coxo que por tentar defender sua mãe por ocasião de uma briga com o pai, Zeus, o atirou do Olimpo ao espaço vazio. Caiu na ilha de Lemmos e se tornou o melhor de todos os artesãos na arte dos metais preciosos.
Junto a Afrodite, Hefesto sentia-se inferiorizado devido a sua deficiência física. Por compensação, tornou-se execessivamente servil. Mas, isso não foi o suficiente para manter seu casamento. Para tanto, seria necessário que se livrasse das amarras afetivas que ainda o mantinha ligado aos pais. Posteriormente, Hefesto conquista essa vitória sobre si mesmo, mas essa já é uma outra história.


No entanto, essa união entre Hefesto e Afrodite, nos permite pensar que o amor em Afrodite é um amor que engendra e forja as mais belas jóias e artefatos de ouro. O amor em Afrodite é aquele que possibilita a paixão ser concretizada na arte e nas relações através de criações.


Afrodite teve muitos outros parceiros e amantes tanto mortais como imortais. Um deles foi o deus Ares, deus das batalhas e da guerra.
Afrodite e Ares estariam assim, representando a união de duas paixões incontroláveis, o amor e a guerra.
Com ele teve três filhos: Harmonia (harmonia); Deimos (terror) e Fóbos (medo), sendo que os dois últimos acompanhavam o pai na guerra.
Dessa união com Ares, parece que o mais interessante é saber que a harmonia nasce exatamente em meio ao conflito entre o amor e a guerra! Ou seja, a harmonia não é um estado nirvânico como se quer hoje, muito ao contrário, harmonia é o enfrentamento das paixões e o resultado que se obtém a partir desse constante enfrentamento.


Outro amante foi Hermes, o mensageiro dos deuses que guiava as almas para o Inferno, o que significa que Hermes é aquele que auxilia e guia os seres em suas transmutações, e também o parceiro de Héstia, já citado acima.
Além de ser o patrono dos viajantes, dos ladrões e dos homens de negócios é também o deus da comunicação, inventor dos instrumentos musicais e trapaceiro olímpico. Dessa união nasceu Hermafrodito, o deus bissexual que herdou a beleza de ambos os pais na representação da androginia.


O élan afetivo representado por Hermes, somado ao amor de Afrodite, produz Hermafrodito, um deus andrógino que é símbolo da totalidade das potências, onde os opostos ainda se confundem. O andrógino está presente no inicio da Criação e no final da Criação. E todos os seres carregam, desde seu início até o seu fim, os traços andróginos, seja no aspecto biológico quanto em sua herança psíquica.


No amor propiciado por Afrodite há um tempo em que a paixão toma conta dos amantes a ponto de se confundirem mutuamente. É um momento de fusão, de sentimento oceânico, em que as identidades de um e de outro se confundem. Somente após esse momento é que se inicia a separação das identidades dos amantes. E é nesse período em que ambos irão reconhecer as diferenças e de fato amar o outro, pois que o amor está nas diferenças e não nas semelhanças. Nas semelhanças está apenas o amor narcisico, o amor com o espelho.


Embora Eros, o deus do Amor, tenha sido visto acompanhando Afrodite ao sair do mar por ocasião de seu nascimento, alguns escritores dizem que Eros é seu filho e amante.
Essa aparente incoerência pode ser compreendida se ela for percebida como uma união primeva e fusional entre ambos. Pois que o amor representado por Eros aqui já citado e por Afrodite, são ambos inseparáveis, posto que no amor é tão necessária a paixão quanto a conexão amorosa que só se faz posteriormente ao período da paixão.


Enfim, para haver amor, é preciso paixão. Porém, de paixão tão somente o amor não vive. Para viver e permanecer é necessário o amor de fogo de lareira que lentamente vai se queimando e suas brasas vão permanecendo para aquecer e propiciar a cumplicidade da intimidade e do acolhimento às diferenças.

Fonte consultada: BRANDÃO, Junito de Souza – Mitologia Grega – volumes
I,II e III - 9ª edição – Editora Vozes – Petrópolis – RJ - 1998


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