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Alterações no sangue permitem estimar dia do parto, aponta pesquisa

05 mai 2021 às 16:07

Prever quando o bebê vai nascer não é só uma questão de deduzir se o aniversário tem chance de coincidir com o do pai, da tia, do avô ou da prima, mas uma questão de saúde. A prematuridade é uma das maiores causas de morte em crianças, e, se o bebê demora demais a nascer, pode ser indício de um parto complicado e risco aumentado de morte para a mulher.


Uma nova pesquisa da Universidade de Stanford, publicada nesta quarta (5) na revista Science Translational Medicine, mergulhou nesse problema e, com a análise do sangue de 63 mulheres grávidas, tentou encontrar uma maneira mais precisa de saber quando vai chegar a grande hora.


Atualmente essa previsão é feita com base na data da última menstruação e, depois, a partir de medidas obtidas no primeiro ultrassom. A partir daí, estima-se o prazo total de 40 semanas para o parto. O problema é que a natureza não necessariamente obedece a essa diretriz, e partos com menos de 37 semanas ou mais de 42 podem trazer riscos adicionais para mãe e bebê.


O plano dos cientistas envolveu uma extensa análise das diversas moléculas que são produtos das reações químicas que acontecem no corpo e que vão parar no sangue, os chamados metabólitos. Esse conjunto de informações recebe o nome de metaboloma.


A mesma coisa acontece para o estudo de proteínas, proteoma, e para o estudo das células do sistema imunológico, o imunoma. A investigação da interação desses três "-omas" e de seus componentes ajudou a entender com boa precisão quais são as mudanças no sobe e desce das células e moléculas e como essa complexa teia de interações abriga informações dos próximos passos da gestação.


Essa janela de observação ocorre nos cem dias que precedem o dia do início espontâneo do trabalho de parto.


"Nosso estudo é a primeira tentativa de prever o início do trabalho de parto a partir do sangue materno em vez de usar cálculos da última menstruação e ultrassom. Fizemos uma análise exploratória de alto rendimento de mais de 7.000 características para caracterizar a biologia da abordagem do trabalho de parto da forma mais abrangente possível", relatam à reportagem por email Ina Stelzer e Brice Gaudillière, primeira autora e autor sênior do estudo, respectivamente.


Além de diversas técnicas para detecção de metabólitos do sangue, uma das abordagens empregadas foi a citometria de massa, que, com base na ligação de anticorpos a células da amostra, consegue identificá-las. O truque é que esses anticorpos são ligados a metais raros, capazes de serem reconhecidos pelo equipamento.


Os cientistas observaram que há uma fase de transição do curso normal da gestação para a fase pré-parto e que ela se dá entre duas e quatro semanas antes de o trabalho de parto se iniciar. A capacidade de predição do modelo atinge seu ápice 23 dias antes do início do trabalho de parto.


Matematicamente, é como se a variação a o longo do tempo desses fatores deixassem de crescer de forma contínua e ganhassem uma aceleração, o que permitiu delimitar esse período mais crítico.


Nessa mudança de estágio, existem alterações nas proteínas presentes na placenta, nos fatores de coagulação, em hormônios e em proteínas ligadas à formação de vasos sanguíneos, por exemplo.


Também há uma crescente concentração dos chamados marcadores inflamatórios. Apesar disso, a habilidade de células do sistema imunológico responder à inflamação nessa fase é atenuada, mostrando uma regulação até então inesperada, segundo os autores. Um dos marcadores de destaque nessa história é o IL-1R4, molécula responsável por inibir o efeito inflamatório causado por outra molécula, a citocina IL-33.


A ideia agora é avançar rumo a uma versão comercialmente viável do exame, que, no momento, requer análises de 45 biomarcadores no sangue. "O próximo passo é reunir um novo grupo de voluntárias e aperfeiçoar e construir um modelo com dez ou doze fatores que sejam todos acessivelmente medidos em plataformas disponíveis em um laboratório clínico padrão", dizem os autores.


Para aumentar a performance e a robustez do modelo, os Ina Stelzer e Brice Gaudillière relatam que estão firmando parcerias com grupos de pesquisa de outras partes do mundo a fim de enriquecer o banco de dados do ponto de vista étnico e socioeconômico -uma das limitações do modelo atual é que ele foi feito em uma amostra muito homogênea, contendo majoritariamente pessoas brancas e asiáticas.

Também será importante obter amostras de sangue de mulheres que tenham entrado em trabalho de parto prematuramente, com menos de 37 semanas de gestação, a fim de, com as informações obtidas em um eventual futuro exame, ser possível intervir e fazer um manejo mais adequado dessas gestações.


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