Moda e Beleza

Grifes apostam em máscaras de estilo e lucram com a pandemia

13 mai 2020 às 08:50

No teatro e no Carnaval, elas criam personagens, em movimentos revolucionários, já serviram para proteger a identidade de manifestantes e, nos hospitais e consultórios, são itens de prevenção do contágio de infecções.

Em meio à pandemia de Covid-19, as máscaras ganharam status de peça do vestuário. Algumas marcas de roupas decidiram entrar em campo e pôr no mercado itens de grife, candidatos a objeto de desejo.


"Estamos vivendo a ocidentalização das máscaras", conta o estilista Thomaz Azulay, 33, da grife carioca The Paradise. "Não vamos mais sair de casa sem elas, como já se faz na Ásia há muito tempo", diz.


Ao lado do sócio, Patrick Doering, ele criou dez estampas para as peças, vendidas, cada uma, por R$ 30 (duas peças por R$ 50). "Comecei a fazer máscaras para funcionários e amigos, mas os pedidos aumentaram muito'', conta Azulay. "Foi uma forma de manter a grife funcionando."



Sobras de tecidos de coleções passadas, além de lotes das atuais e até das próximas, ganharam novos recortes. "Se fosse uma guerra, estaríamos confeccionando uniformes."


Quem comprar as máscaras poderá cobrir o rosto com imagens caras à arte clássica, com desenhos de folhas e com paisagens do Rio de Janeiro.


A Osklen tentou surfar a onda, mas sua ação de marketing foi rejeitada nas redes. No início do mês, depois de anunciar um kit com duas máscaras por R$ 147, com direito à doação de uma cesta básica a uma comunidade do Rio, a grife carioca foi bombardeada por causa do preço das peças e retirou o produto do e-commerce.


Recém-formada em moda, Aline Rodrigues, 30, galgou seu espaço usando tecidos de origem africana –a samakaka, de Angola, e a capulana, de Moçambique. "É uma forma de mostrar a identidade pelo vestuário", define.


A samakaka exibe formas geométricas nas cores da bandeira angolana ou em preto, branco, bege e marrom.


O tecido capulana contém uma diversidade maior de estampas, multicoloridas, que retratam temas comemorativos ou trazem motivos florais.


Cada peça custa R$ 12, mas há opções de complemento. A peça pode vir acompanhada de chapéu, a partir de R$ 70 o conjunto, e também de blusa ou turbante, por R$ 60 o kit.


A temática africana é uma homenagem de Rodrigues à bisavó materna. Católica, parteira e benzedeira, a bisa Sátira representava o sincretismo, que começava a ganhar formas e cores aos olhos da menina.


Ao apostar numa moda inclusiva, sem gênero e distinção de idade, o estilista Issac Silva caiu no gosto de Taís Araújo, Camila Pitanga, Elza Soares e Liniker. Na hora do sufoco, regressou à máquina de costura.


"A miscelânea de tudo o que é Issac Silva está virando máscara", sintetiza. No mês passado, fez uma limpa nos estoques. O lote foi doado a um grupo de costureiras da Brasilândia, bairro da zona norte de São Paulo com o maior número de mortes pela Covid-19, a cargo das quais ficou a tarefa de produzir máscaras.


Mais - ele criou um kit de seis itens, vendido a R$ 49,90 sob a condição de o comprador levar quatro unidades e destinar duas à doação. Do material vendido, 250 máscaras foram doadas até agora, 80% delas a uma ONG voltada a imigrantes e os 20% restantes à população de rua.


"Nunca jogo fora retalho. Além do forte impacto no meio ambiente, esses tecidos sempre têm serventia, como estamos vendo agora", explica.


Para o designer de moda Antonio Borges, 31, tecidos reciclados estão ganhando novo significado nestes tempos. "Sempre estoquei", reforça. Com a mercadoria armazenada em casa, passou a criar máscaras (R$ 10). A peça, de dupla face, ganhou modelos em quatro tamanhos (baby, kids, adulto e adulto ampliado), de modo que fique bem ajustada.


A cara de gente como Sergio Moro e o presidente Jair Bolsonaro inspirou o designer gráfico e ilustrador Julihermes Cavalcanti, 38, de Natal, a desenhar uma coleção de máscaras em nove estampas (R$ 7).


Uma laranja dentro da boca de um Moro amarelado, a imagem do coronavírus vestindo a faixa presidencial ou dizeres como "eu avisei" e "fora, Bozo", são uma prova de que, no Brasil, a pandemia e a política estão na ordem do dia.

As máscaras de hoje podem cobrir a boca, mas não vão deixar ninguém calado.


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