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São Paulo Fashion Week tem recorde de negros e indígenas e destaca novas brasilidades

Pedro Diniz - Folhapress
23 jun 2021 às 09:28
- Divulgação
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Depois de uma mudança radical sobre o que se entende por moda brasileira na prática, a São Paulo Fashion Week inicia nesta quarta-feira sua 51ª edição tentando mostrar essa evolução. Se a edição passada direcionou os holofotes para a equidade racial na passarela, com a obrigação de que metade dos modelos que desfilam para as marcas sejam negros, afrodescendentes, indígenas ou asiáticos, o retrato do país que será visto agora está também na escalação das marcas.

Das 43 apresentações virtuais programadas para acontecer até o fim da semana, 34% são de grifes com donos não brancos, trazendo um retrato mais realista da diversidade de cores e ideias da produção brasileira de roupas.

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O número só foi possível de ser atingido com a entrada de designers vindos do evento autoral de moda Casa de
Criadores, entre eles, o piauiense Weider Silveiro e o pernambucano Walério Araújo, o retorno do estilista Wilson Ranieri à semana de moda e, principalmente, à estreia do Projeto Sankofa, que levará oito marcas de criadores não brancos à plataforma paulistana de desfiles.

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Idealizado pelo coletivo Pretos na Moda, cofundado pela modelo Natasha Soares e o mesmo que iluminou a discussão sobre a proporcionalidade racial na indústria fashion, em parceria com a startup de inovação social Vetor Afro-Indígena na Moda, ou Vamo, cocriada pelo estilista Rafael Silvério, o projeto é o primeiro gestado fora do escopo dos organizadores da SPFW a ter espaço na programação.

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Além da marca homônima de Silvério, as etiquetas Ateliê Mão de Mãe, Meninos Rei, Mile Lab, Santa Resistência, Naya Violeta, Az Marias e TA Studios vão apresentar os filmes de moda que, mais do que roupas, devem reverenciar as origens afro-indígenas do país.


O pulo do gato da iniciativa não se resume à exposição das roupas nas próximas três temporadas, mas também às mentorias que os estilistas recebem de advogados, psicólogos e estilistas do evento. Um deles é Isaac Silva, que vê como "uma evolução natural e urgente" do calendário da moda a inserção de profissionais que, como ele, tiveram de batalhar por representatividade num mercado competitivo como o da costura.

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"Saber que tem alguém por você, que você pode ligar para tirar dúvidas, é muito importante para quem está começando", afirma o estilista.


Essa edição, aliás, representa para Silva a consolidação de sua trajetória na moda. Primeiro estilista brasileiro convidado a criar uma coleção para a marca de chinelos Havaianas, ele encerrará o penúltimo dia de apresentações mostrando roupas que são extensões dos pares criados nessa parceria inédita, que unem tanto as raízes indígenas da moda nacional quanto as de origem africana.

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Ele criou suas próprias estampas gráficas, em parceria com a designer Neon Cunha, para fundar o que chama de "grafismos brasileiros", que tem como ideia fundir o padrão de repetições das capulanas, lenços de algodão usados na cabeça, e elementos essencialmente nacionais, como a semente olho de boi.


As roupas têm modelagem descolada do corpo para se adaptar a diferentes silhuetas e dar mobilidade a quem veste, "porque, nesse momento de mundo, ninguém quer mais se preocupar em se adaptar à própria roupa", diz o designer, que deu o nome de Axé Boca da Mata à série com mais de 20 looks.

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O filme é ambientado em cenário de mata fechada, um lugar que, Silva explica, é sagrado tanto para os indígenas quanto para os povos da África, ou seja, "para nós, brasileiros".


Foi pensando no Brasil e em como o estilo nacional absorveu padrões internacionais da costura que Weider Silveiro levará à sua apresentação referências às silhuetas helênicas. Em vez do ideal branco, loiro e europeu, as modelos não brancas vestem pedaços de alfaiataria desconstruída, camisaria vitoriana e plissados que remetem ao olhar eurocêntrico, aqui, revisto pelo olhar de um deste que é visto como um dos maiores designers afro-brasileiros do país.

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O espírito ativista que diversas vezes permeou o trabalho de Silveiro, segundo ele, agora está por trás das roupas, "no processo". Os profissionais que o ajudaram na execução são marginalizados pela indústria, como pessoas trans, negros e da periferia. "São elas que me inspiram, do início à finalização do trabalho. É um design que não parece afro-brasileiro, mas é", afirma.


É uma coleção essencialmente urbana, chamada Città, ou cidade, em italiano, que mostra silhuetas simples, a exemplo de saias longas e justas fáceis de usar, bem ao estilo dos anos 1990. "É tudo pensado no produto final, porque é o meu momento como estilista, de tornar a roupa feminina digerível e contemporânea. Um menino, que queira, também poderá usar."

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Esse tipo de abertura à roupa não binária está expressa também no rompante de diversidade que a São Paulo Fashion Week assumirá. Sustentabilidade, empreendedorismo feminino e inserção social farão parte de toda a programação, que incluirá palestras pagas e ações pensadas em conjunto com pensadores que devem se desdobrar em instalações artísticas marcadas para ocorrer em novembro.


O estilista Luiz Cláudio, da marca Apartamento 03, por exemplo, fará um encontro com a escritora e colunista deste jornal, Djamila Ribeiro, e o diretor criativo da Osklen, Oskar Metsavaht, com o neurocientista Sidarta Ribeiro. Serão quatro encontros criativos, idealizados em parceria com o organizador Marcello Dantas.


"Todas as bases do que estamos vivendo hoje estão em renegociação. Queremos falar sobre raça, identidade, gênero, ou seja, tudo o que nos afeta, e levar isso para a moda, que sintetiza as mudanças de comportamento.
Queremos causar essa fricção de pensamentos", afirma Dantas.


A grande diferença em relação ao passado do evento é que a programação se estenderá ao longo dos meses e culmina em novembro, com o resultado prático dessas discussões, dando corpo ao que a organização chama de Festival SPFW+. Ações presenciais não estão descartadas, a depender da evolução da pandemia da Covid-19 no país.

"É a primeira edição dos novos 25 anos da São Paulo Fashion Week. Queremos criar um sistema de conversas contínuas, de conectar as semanas do primeiro e segundo semestre para criar pontes. Não é uma versão só para agora", afirma o idealizador da SPFW, Paulo Borges. "É um momento de regenerar."


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