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Cansaço da quarentena faz até apoiadores do isolamento saírem de casa

31 jul 2020 às 10:09

Há quase cinco meses, as pessoas entraram em quarentena com a expectativa de que ela durasse 15 dias, um mês ou, no máximo, dois meses.


Passados 130 dias que cidades como São Paulo iniciaram as restrições de deslocamento e aglomeração, os números de casos e mortes ainda não pararam de crescer – mesmo que a reabertura já esteja em prática – e, a cada final de semana, mais e mais pessoas vão às ruas encontrar amigos e parentes. Entre os "furadores da quarentena” também estão os que a defendiam meses atrás.


De acordo com especialistas, esse comportamento é algo comum e já esperado pela ciência. Acontece que os mecanismos de alerta do corpo, em especial os cerebrais, entram em colapso depois que são exigidos por um período longo de tempo. Assim, as pessoas que estavam receosas em março, começam a ver que, em algum momento, algumas concessões deverão ser feitas. Esse é o comportamento chamado de fadiga da quarentena ou falência adaptativa pelos cientistas e especialistas.


"Nosso sistema faz esforços para nos adaptar a situações novas e indesejadas, de privação. Mas, quando somos obrigados a fazer isso por muito tempo, esse mecanismo entra em falência e não conseguimos mais racionalizar”, explica Ricardo Sebastiani, especialista em psicologia clínica e saúde pública.


Deste modo, as saídas ocasionais serão ainda mais frequentes nos próximos meses.


Somado ao agravamento no número de casos e mortes, a população que permaneceu em casa ainda assistiu às descobertas sobre o vírus, os modos de lavar as mãos, uma série de suposições sobre tratamentos e tem acompanhado o desenvolvimento das vacinas. Toda essa exposição ao assunto pode ter resultado em duas coisas: perda do medo e naturalização do período.


"Mas agora a verdade é que, enquanto não tivermos uma vacina, para muitos não se trata de ‘e se eu pegar a Covid-19′, mas, sim, de ‘quando eu pegar a Covid-19′. Quando o medo imediato some, as pessoas voltam a fazer churrasco e a lotar as praias”, diz Sebastiani.


Além disso, há o ressentimento com o Governo, que não conseguiu controlar o contágio, e com as pessoas que estão saindo de casa. Nas redes sociais, é comum encontrar pessoas que se acham "palhaças” por ainda estarem em casa quando notícias, fotos e vídeos de festas se espalham pelas plataformas digitais. "Passados quatro meses, como os resultados desse sacrifício não foram os esperados, algumas pessoas podem passar a descumprir a quarentena, até mesmo com atitudes vistas como egoístas”, diz a psicanalista Amanda Mont’Alvão Veloso.


Saúde mental no isolamento


Mesmo que a única tarefa do isolamento social seja simples – o famoso ficar em casa –, a longo prazo, esse comportamento torna-se frustrante para as pessoas que estão cumprindo, desde o início, a quarentena. Isso porque elas seguem com parte das rotinas antigas – trabalho e estudo, principalmente –, mas não conseguem ter os momentos de diversão em sua plenitude.


"Tudo isso é muito estressante. São mais de cem dias de privações e medo durante os quais recebemos muitos estímulos negativos e poucos estímulos positivos. Fomos privados até dos pequenos prazeres do dia a dia, como tomar café com um amigo”, diz Sebastiani.


Para os profissionais formados na faculdade de psicologia, tanto o medo do coronavírus como o isolamento social podem desencadear e agravar quadros de depressão e ansiedade.

Para amenizar os efeitos, especialistas alertam para a importância de seguir em contato com amigos e parentes, tentar manter uma rotina de exercícios e uma alimentação balanceada, além de aproveitar o tempo para fazer coisas que realmente gosta. Se for o caso, também é possível consultar psicólogos, através da telemedicina, para evitar que os transtornos se instalem.


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