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Entenda o que houve

Gestão Doria inclui alunos que não foram à escola em cálculo sobre incidência de Covid

Redação Bonde com Folhapress
16 mar 2021 às 15:59
- Reprodução/Pixabay
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O boletim de casos de Covid na comunidade escolar do estado de São Paulo sugere que, no período em que as escolas estiveram abertas, não houve disseminação generalizada do coronavírus nas unidades, embora um grupo de cidades ao sul despertasse preocupação. A conta feita pelo governo paulista para indicar que a taxa de incidência era baixa, no entanto, incluiu alunos que não pisaram nem um dia sequer na sala de aula.


O material divulgado pela gestão João Doria (PSDB) diz que houve 4.084 casos e 21 mortes entre professores, funcionários e alunos do estado, tanto na rede pública como na privada, entre janeiro, quando houve atividades de recuperação, e 6 de março, quando as escolas já estavam reabertas com atividades regulares para os estudantes que desejassem frequentá-las.

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Aguardado por todos os que pretendiam entender o impacto do retorno presencial sobre a circulação do coronavírus, o boletim da Secretaria da Educação afirma que, no período analisado, "a taxa de incidência notificada pelas escolas públicas e privadas foi 33 vezes menor do que a do estado".

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Para chegar a esse número, repetido nas redes sociais pelo secretário Rossieli Soares, o boletim divide o número de casos entre profissionais e alunos (4.084) pelo número total de alunos no estado (9,96 milhões) e chega a uma taxa de incidência de 41 casos por 100 mil habitantes, enquanto o índice geral do estado fica em 1.393/100 mil.

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Há dois problemas nesse cálculo.


O primeiro deles é que parcela considerável dos alunos não voltou às escolas, uma vez que o retorno era opcional e limitado a 35% da turma. Na rede estadual, segundo a secretaria, foram presencialmente às escolas 2,5 milhões dos alunos, cerca de 70% do total, e 1,1 milhão não foram -mas mesmo assim foram incluídos na população de referência para a conta da taxa de incidência.

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O outro problema desse cálculo é que professores e funcionários foram considerados para o total de casos de Covid registrados, mas não para o total da população da escola. Com isso, não se sabe qual foi a real incidência entre profissionais de educação.


O dado é relevante porque se sabe que entre crianças o risco de contágio e adoecimento com gravidade é menor, mas a segurança dos profissionais da educação depende ainda mais do cumprimento estrito de protocolos.

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O dicionário de epidemiologia da Universidade Oxford define taxa de incidência como número de casos em um período dividido pelo número de pessoas expostas a risco nesse mesmo período –quando o foco são as escolas, não seria esse o caso, portanto, de estudantes que ficaram em casa.


Integrante da Comissão Médica da Educação, instituída pelo estado para acompanhar o retorno às aulas e indicado pela Secretaria da Educação para falar sobre o tema, Wanderson de Oliveira disse à Folha que os dados do boletim têm limitações, mas mostram uma tendência.

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"Eu não tenho dúvida de que [a incidência nas escolas] é muito menor [do que na população em geral], eu não tenho certeza absoluta do quão menor é. Da mesma maneira, eu não tenho certeza de quanto é na comunidade. Segundo a literatura, para cada caso que eu sei, tem 10 a 12 que eu não sei."


Ele afirma que o cálculo da incidência na educação levou em conta o número total de alunos porque o boletim junta dados de nove semanas, e o total dos que frequentaram a escola variou ao longo do período. Assim, diz, a comissão e a secretaria buscaram um denominador que fosse estável ao longo do tempo.

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Já os profissionais da educação foram tirados do denominador para equilibrar essa diferença, justifica.


Essa tentativa de equalização, porém, esbarra na disparidade entre os dois dados, tomando-se como exemplo a rede estadual. Segundo a Secretaria da Educação, 166 mil de seus servidores foram trabalhar, número que corresponde a apenas 15% dos alunos da rede que não voltaram presencialmente.

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Ex-integrante da gestão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde, Wanderson diz que um indício positivo da segurança do retorno presencial é que as regiões com mais casos entre alunos e profissionais da educação coincidem com as que registram alto contágio na população geral, como a de São José de Rio Preto; e as que têm no geral menos casos, por sua vez, também têm menos casos na escola.


Isso indica que o problema não está localizado nas unidades educacionais, mas na transmissão comunitária.


Outro dado positivo do boletim é que a maioria das escolas (58%) não notificou nenhum caso desde o início de 2021, mesmo com a liberação de atividades regulares presenciais.


A sobreposição dos mapas de casos na comunidade escolar e na população geral, por outro lado, revela um foco de preocupação no sul do estado, em municípios do Vale do Paraíba como Bonsucesso de Itararé e Itapirapuã Paulista, em que há baixa incidência na população em geral e alta incidência na escolar.


Segundo Oliveira, a comissão agora apura informações com a regional de ensino.


Professor de políticas públicas da Universidade Federal do ABC, Salomão Ximenes aponta um "sonoro silêncio" do boletim sobre o risco para professores e funcionários e avalia que a inconsistência nos dados deixa toda a comunidade escolar mais insegura. "É um desserviço para um debate sobre os reais efeitos da reabertura das escolas", diz.


Wanderson afirma que o boletim traz os primeiros dados sobre o tema, mas não encerra a questão. Ele afirma que novas análises estão em produção, inclusive para integrar dados da área da saúde que podem apontar casos não notificados pelas escolas.


Um dos pontos em investigação são os óbitos de profissionais e alunos com comorbidades (62% do total), que, pelos protocolos, deveriam ter ficado em casa, com ensino remoto.


Segundo Wanderson, esses casos estão sendo investigados, mas uma possibilidade é que parte das escolas tenha notificado todos os casos registrados na comunidade, mesmo que a pessoa infectada não tenha aderido à volta presencial.


Em um momento de alta transmissão de casos, o boletim traz a afirmação de que "a manutenção de baixas taxas de infecção na comunidade é fator crítico para manter as escolas abertas durante a pandemia".

Na quinta-feira (11), a gestão Doria (PSDB) decidiu antecipar o recesso nos colégios estaduais. Na sexta (12), a Prefeitura de São Paulo suspendeu as aulas presenciais na cidade.


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