Aquele velho ditado "mulher ao volante, perigo constante" revela mais sobre quem o diz, do que acontece na prática. Em 2017, levantamento da Seguradora Líder, responsável pelo Seguro DPVAT, mostra que do total de indenizações pagas em virtude de acidentes no trânsito, 25% foram para mulheres contra 75% para os homens. O número sobe quando se analisa os casos com vítimas fatais: motoristas do sexo masculino representam 82%.
Então, qual o sentido para que elas, mesmo sendo mais prudentes e cautelosas no trânsito como mostram as estatísticas, continuem sendo alvo de preconceito? Não é difícil chegar a um denominador comum: machismo. Para a jornalista Aleile Moura, 33 anos, essa é uma questão que deve ser superada, tendo em vista que nada impede que uma mulher dirija o que ela quiser.
"Costumo ouvir que carro de mulher tem que ser carro pequeno, que seja fácil de estacionar. Mas, por que isso? Nós somos capazes de dirigir um carro grande, como um SUV – veículo utilitário esportivo com porte avantajado, interior mais espaçoso e que trafega dentro e fora das cidades – ou seja lá o que for", opina a jornalista.
Leia mais:
UEM aplica provas do PAS para quase 24 mil estudantes neste domingo
UEL aprova calendário de graduação para 2025
Violência contra mulher negra: 55% dos casos iniciam na juventude
Estudante de ensino superior privado ainda pode se inscrever no Fies até sexta
Além de boa motorista, Aleile é da turma que ama o universo automobilístico e defende que este espaço, embora com menor presença feminina, também pode ser dominado por elas. E esse foi um dos principais motivos para que a jornalista criasse o Direção Feminina (@direcaofeminina) no instagram. No perfil, ela conta sobre novidades do setor, suas experiências na direção de automóveis e as dificuldades que passam as motoristas iniciantes "nesse trânsito louco e ainda carregado de preconceito e intolerância", como define Aleile.
A jornalista sempre gostou do universo automotivo. Então, a ideia de criar o Direção Feminina partiu dessa paixão por uma área ainda dominada pelo público masculino. "O perfil também está ai para mostrar que o lugar da mulher é onde ela quiser e que essa divisão de gênero é uma coisa que ficou no passado", defende Aleile.
Mecânica feminina
Nos bastidores, ou melhor, na construção e manutenção de veículos, elas também têm garantido lugares de destaque. "Não somos mais aquelas figuras de demonstração, mas, sim, de participação", reflete a jornalista Aleile. Um bom exemplo deste protagonismo são as estudantes Nathália Bulhões e Letícia Passos, de 19 e 21 anos respectivamente.
Alunas do curso de Engenharia Mecânica, atualmente elas integram a Kamikaze Racing Team (KRT), uma equipe de estudantes que representa a Universidade Federal da Bahia (UFBA) nas competições Fórmula SAE Brasil. Criada em 2004, a Fórmula SAE Brasil reúne estudantes de instituições públicas e privada de todo o país para porem em prática o que aprendem nos cursos de engenharia. Junto com outros cerca de 30 membros do KRT UFBA, as meninas têm o desafio de construir do zero um protótipo de automóvel tipo Fórmula.
Apesar de pouca presença feminina nas salas de aula do curso, tanto Letícia quanto Nathália encontram no KRT um espaço onde podem, construir com outras meninas, representatividade na universidade. "As próprias mulheres e os homens da equipe se preocupam em não propagar ainda mais o que vem de lá de fora", comenta a estudante Nathália. Na atual equipe, o KRT UFBA conta com três lideranças femininas responsáveis por áreas de produção do carro. "Ano passado, Nathália era nossa líder de aerodinâmica e esse ano eu sou líder de powertrain. Os líderes têm como papel proporcionar a união dos sistemas, gerando o produto final, que é o nosso carro", explica Letícia.
As meninas, que são apaixonadas pelo universo da engenharia mecânica, relembram que a decisão de seguir carreira nessa área não foi de cara aceita por pessoas mais próximas. A preocupação era a engenharia mecânica seria uma "profissão de homem". Elas não deram ouvidos e hoje seguem sendo exemplos para outras estudantes que também têm vontade de ser engenheiras.
"Ouvimos muito que tem esse preconceito com a mulher engenheira. Na verdade, as pessoas de fora acabam gerando mais preconceito do que internamente. Aqui dentro se você se dedica e vai em busca do que você quer, você acaba passando por cima de todos os preconceitos", aconselha Nathália. "Acho que se você gosta, se é apaixonado por aquilo que faz, independente de gênero, você consegue ultrapassar esses obstáculos", completa Letícia.
Tenha mais informações no site do Educa Mais Brasil.