Atualmente, mais de 4 mil estudantes estrangeiros migrantes, refugiados ou apátridas, de 76 nacionalidades, estão matriculados na rede estadual de ensino do Paraná. Esse número engloba alunos do ensino regular, na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e no Curso de Português para Falantes de Outras Línguas, por meio do Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (Celem).
Todo migrante que vem ao Brasil, em suas diferentes condições, tem direito à escolarização e ao acesso à educação básica. No processo de adaptação em um novo país, o desafio imposto pela língua se destaca. Por isso, para facilitar a adaptação e a compreensão dos novos alunos, o Paraná também oferece cursos de Língua Portuguesa para não falantes da língua.
"O domínio do idioma é importantíssimo para a integração dessa população na sociedade brasileira pois, quanto melhor se comunicar em português, maior a facilidade para usufruir das oportunidades, não só do mercado de trabalho, como para vivenciar a rotina na cultura, transporte, saúde", explica Joice Barbaresco, representante da Secretaria de Estado da Educação no Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do Paraná.
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Damasco para Curitiba
Em 2015, a família dos primos Eili Al Housh, 12 anos, e Daniel Al Saad, 11 anos, deixaram a cidade de Damasco, na Síria, fugindo da guerra civil, e vieram ao Brasil em busca de um recomeço. Eles escolheram o Paraná por recomendação de conterrâneos que vivem aqui. Hoje, já adaptados, reconhecem que o acolhimento com que foram recebidos no Colégio Estadual Júlia Wanderley foi fundamental para superar a barreira da comunicação.
"No início eu era quieto, ficava sozinho porque não falava o idioma, mas com o tempo fui aprendendo, os professores foram pacientes e explicaram bem devagar até que eu aprendi", diz Eili, num português que não fica devendo nada aos falantes nativos.
"Minha principal dificuldade no início foi entender o que as pessoas diziam porque o brasileiro fala muito rápido, mas as professoras foram atenciosas e eu consegui aprender rápido. Aqui é uma escola muito boa, é onde estão meus amigos agora", contou Daniel.
Do mundo
Além de alunos que migraram para o Paraná em busca de uma nova vida, o Colégio Júlia Wanderley também recebe estudantes intercambistas da Holanda, Alemanha, Itália e Estados Unidos, entre outros países, que vêm ao Paraná para aprender português. Segundo a diretora auxiliar do colégio, Valéria Meller Pereira da Silva, o intercâmbio proporciona uma grande troca cultural e de conhecimentos entre os estudantes brasileiros e os estrangeiros.
"Eles contam um pouco da cultura do seu país e aprendem a nossa, também ajudam os colegas com assuntos que já viram em suas escolas", diz Valéria. "Essa experiência enriquece não apenas o vocabulário de quem está aprendendo um novo idioma, mas também abre um leque de possibilidades para os alunos que passam a ver o mundo de outra maneira. Já os professores absorvem um pouco de como é a educação nesses países", conta.
Direito à escolarização
O acesso pleno à educação em todos os níveis e modalidades de ensino é garantido aos estudantes estrangeiros de acordo com a deliberação n°09/01 do Plano Estadual de Educação. O aluno migrante que chega ao Paraná sem nenhum documento que comprove sua escolaridade, mas quer estudar, tem três maneiras de ingressar no ensino regular: Classificação; Matrícula na série compatível com a idade e Equivalência e a Revalidação de Estudos Incompletos.
O primeiro passo é verificar o nível de conhecimento da Língua Portuguesa por meio de uma prova de classificação. Se o aluno comprovar que consegue se expressar e se comunicar em português, ele é encaminhado para o ano ou série referente à etapa de ensino condizente ao conhecimento que ele apresentar na prova.
Se o estudante não fala suficientemente o português, então é matriculado em série compatível com a sua idade e, junto com a matrícula da escola, pode fazer também o curso Português para Falantes de Outras Línguas (Pfol), oferecido pelo CELEM. O curso, aliás, é aberto à comunidade e pode ser feito por toda a família.
"Já se for o caso de o aluno trazer um certificado do país de origem, a escola faz uma análise para verificar qual a equivalência do aluno, ou seja, o que ele já aprendeu e o que equivale ao sistema de ensino brasileiro", explica coordenadora da Educação de Jovens e Adultos da secretaria, Marcia Dudeque.