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Confira os trechos

Blocos no Rio e SP estão dispostos a não tocar músicas 'incorretas'

Agência Estado
15 fev 2017 às 12:16
- Rafael Neddermeyer/LIGASP/Fotos Públicas
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As notícias começaram a pular das páginas dos jornais aos poucos, anunciando que estes eram outros carnavais. Alguns blocos no Rio e outros em São Paulo estavam dispostos a não colocar mais músicas consideradas incorretas nos repertórios. O Cordão do Boitatá, no Rio, decidiu reforçar os cuidados diante de sua proibição de não tocar O Teu Cabelo Não Nega, de Lamartine Babo. Os versos ‘mas como a cor não pega, mulata / mulata eu quero o teu amor’ seriam os vilões de um mundo que não condizia com a realidade.

Antes mesmo de os blocos requentarem a discussão, algumas das 140 rodas de samba do Rio já haviam subido a guarda para canções consideradas socialmente inadequadas. Ai que Saudades da Amélia, que Mario Lago e Ataulfo Alves fizeram em 1942, já está na lista das inexecutáveis. Surgidos anos depois dos versos sobre a mulher que não tinha a menor vaidade, os olhos verdes da mulata que aparece em Tropicália, de Caetano Veloso, também chegaram a ser hostilizados. Ao jornal "O Estado de S. Paulo", Caetano diz: "Sou mulato e adoro a palavra mulato: é como o país é chamado em Aquarela do Brasil, que é nosso hino não oficial. Sempre detestei A Cabeleira do Zezé por causa do refrão "corta o cabelo dele", que é repetido como incitação a um quase linchamento. Mas não tenho vontade de proibir nada."

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Em São Paulo, alguns blocos se posicionaram a favor do cuidado com o que iriam tocar para não reforçarem preconceitos. O saxofonista Thiago França, do Espetacular Bloco da Charanga do França, que sai em Santa Cecilia, explica sua posição: "Há um equívoco constante em relação ao que é tradicional ou clássico. Tradição também se inventa. O papel do artista é sempre criar, sempre retratar seu tempo. Criar coisas novas não tem a ver com negar o passado, aniquilar a tradição, acabar com uma cultura, pelo contrário: tem a ver com mantê-la atual, interessante, dialogar com o espaço/época."

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João Roberto Kelly tem cerca de 100 marchas carnavalescas, todas longe de padrões instituídos décadas depois de suas composições: Cabeleira do Zezé, Menino Gay, Maria Sapatão e Mulata Bossa Nova são algumas. "Nunca vi um patrulhamento tão grande, nem no tempo da ditadura. Carnaval é brincadeira, meu querido. A gente goza do careca, do barrigudo, não podemos levar as coisas ao pé da letra."

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Tom Zé se assusta quando ouve que sambistas estão deixando de tocar Amélia. "Puxa vida, mas ela era uma mulher tão dedicada... Carnaval é a época de fazer tudo ao contrário, mas agora querem concertar o mundo." Sua mira é outra. Tom acaba de fazer uma marcha sobre a operação Lava Jato: "Homologo, logo, homologo / mas querem transformar a Lava Jato em Lava Rápido / homologo, logo, homologo / e o país nesse teatro / pisa num rabo de gato".


"Estão querendo mostrar serviço no lugar errado", diz Djavan. Para ele, a discussão do reforço de estereótipos precisa passar, antes, pela educação. "O racismo está ligado à falta de formação, desde sempre."

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Para Ney Matogrosso, há patrulhamento. Ele lembra que Maria Sapatão, por exemplo, não está falando mal da mulher quando diz que "o sapatão está na moda, o mundo aplaudiu / É um barato, é um sucesso / dentro e fora do Brasil". "Estão gastando energia com coisas desnecessárias", diz.


O pesquisador Tárik de Souza também fala: "Ninguém pode ser obrigado a cantar o que não quer. Mas a volta da censura, mesmo que por razões consideradas nobres, é algo assustador. O carnaval tem sempre um sentido anárquico e caricatural. Já pensou se forem revisar também as chanchadas da Atlântida, vetar os personagens malvados e politicamente incorretos dos folhetins de TV? Vamos acabar num quartel ou num colégio de freiras carmelitas?" Seu colega de profissão, Ruy Castro, se atenta ao termo "mulata": "Das dezenas de marchas que falam da mulata, muitas foram compostas por Assis Valente, Wilson Baptista, Haroldo Lobo, a dupla Zé e Zilda, Haroldo Barbosa, Monsueto Menezes etc. etc., e lançadas por cantores como Orlando Silva, Silvio Caldas, Aracy de Almeida, Carmen Costa, Ciro Monteiro, Moreira da Silva, Jorge Veiga, Angela Maria etc. etc.. Todos mulatos. E não viam nenhum problema nisso."

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Música e expressões no alvo


Maria Sapatão
A música de João Roberto Kelly, feita com a colaboração de
Chacrinha, foi a mais executada no carnaval de 1981. A expressão pegou imediatamente.

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Cabeleira do Zezé
João Roberto Kelly e Roberto Faissal compuseram outro hit para todos os carnavais. Sua letra é acusada de reforçar preconceitos contra gays, sobretudo na parte do "será que ele é, bicha!".


O Teu Cabelo Não Nega
Lamartine Babo fez uma das mais imortais marchinhas em 1932 com versos como "o teu cabelo não nega, mulata / porque és mulata na cor / Mas como a cor não pega, mulata / mulata, eu quero o teu amor".

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A Pipa do Vovô
A marcha de Manoel Ferreira e Ruth Amaral ficou famosa na voz de Silvio Santos em 1987. Há intérpretes que julgam a letra preconceituosa contra os idosos.


Mulata Bossa Nova
João Roberto Kelly, de novo, faz outra música acusada de racista anos depois. À época, não houve nenhuma resistência. O problema seria o uso da palavra mulata.

Ai, Que Saudades da Amélia
A música de Mario Lago e Ataulfo Alves, de 1942, proibida em algumas rodas de samba do Rio de Janeiro, reforçaria aimagem do machista e da mulher ultra submissa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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