Uma fração de tempo, que não se conhece, guarda o vazio das horas em que o simples ato de viver esconde algumas emoções, engolidas pelo cotidiano. No espetáculo ''Sopro'', que a Companhia Lume Teatro, de Campinas (SP), apresenta de sexta a sábado, na Usina Cultural na programação do Festival Internacional de Londrina (FILO), um mergulho nesse buraco negro levará o espectador a não querer compreender o turbilhão de sentimentos por trás de cada realidade, mas a tocá-los com alma livre.
No espetáculo, que já está com os ingressos esgotados, o tempo que insiste em ser cronometrado pára diante da técnica do ator e pesquisador Carlos Simioni, um dos criadores do Lume, em 1985, que acerta os ponteiros na direção do bailarino, coreógrafo e diretor japonês Tadashi Endo, diretor artístico do Festival Mamu International Butoh Festival, Gottingen, na Alemanha.
''O espectador tem um impacto com a imagem inicial do espetáculo e com o tempo real das ações do ator. Ele é obrigado a transformar seu tempo cotidiano em tempo não medido, portanto desconhecido. Não é necessário entender o espetáculo, pois ele não tem história. É sensorial e o público briga consigo mesmo, mas acaba entrando no universo do vazio''; afirma Carlos Simioni.
Leia mais:
Aniversário de Londrina terá atrações culturais; confira a programação
Apresentação no aniversário de Londrina abre programação do Filo
Londrina é destacada como modelo de ecossistema referência no Brasil
Em Londrina, primeira edição do Fiil debate futuro da inovação
Estendendo sobre o palco do festival londrinense, a tradição das famílias do teatro Nô japonês, amarrada à técnica corpórea de representação, criada por Simioni, ''Sopro'' deixa entrever pela fresta do tempo em que dura a encenação, as emoções que são completamente diferentes das que o cotidiano deixa ver.
Tadashi Endo chega a elevar a encenação do ator ao altar, onde praticamente um ritual acontece, exigindo concentração de quem está em cena e do público.
''Acho que quando criamos algo, não temos que pensar em tradições japonesas ou européias. Isso quer dizer que a estrutura cênica, a dramaturgia ou a direção deveriam ser as mais livres possíveis e não depender de diferentes tradições. A única coisa que eu sempre reconheço é a diferença entre a concepção do tempo ou do 'timing'. Às vezes, o teatro europeu tem o fôlego curto demais em comparação com o teatro japonês tradicional. Posso imaginar que, antigamente, a sensação do tempo na Europa provavelmente também fosse diferente da de hoje, mas, no Japão, isto se conservou no teatro tradicional. E este sentimento do tempo é a única coisa que eu respeito durante o trabalho'', avalia Endo sobre o que o Lume acrescenta à sua experiência com o teatro ocidental.
O Lume foi o grupo selecionado pelo Núcleo de Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil para uma co-produção de montagem. O organismo pretende desenvolver e difundir a cultura brasileira no País e no exterior.
A montagem conta ainda com música original de Denise Garcia, que para Endo ressoa com todos os sons da natureza no interior do corpo - tanto do artista como do público, uma escala para a técnica inédita de Simioni, que transcende o estado do ator num único e intenso sopro.
Serviço:
''Sopro''
Data: de sexta a sábado, dias 09 e 10 de junho
Horário: 21h30
Local: Usina Cultural
Endereço: Avenida Duque de Caxias, 4159
Ficha Técnica:
Criação e concepção: Carlos Simioni, Tadashi Endo e Denise Garcia. Atuação: CArlos Simioni. Direção: Tadashi Endo. Música original: Denise Garcia. Desenho de luz: Tadashi Endo. Figurinos: Adelvane Néia. Cenografia: Abel Saavedra. Co-produção: Núcleo de Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil.
Ingressos para o FILO: posto de venda no primeiro piso do Royal Plaza Shopping. Das 11 às 22 horas. Ingressos R$ 10,00 por espetáculo (com meia-entrada para aposentados, estudantes, classe artística, funcionários da UEL e portadores do cartçaoi Petrobras). Mais informações pelo telefone: (43) 322-2596.