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Anistia Internacional cobra Qatar por Copa e violação de direitos humanos

Alex Sabino - Folhapress
03 dez 2021 às 22:30
- Divulgação
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Se sediar a Copa do Mundo fosse um jogo de futebol, o Qatar estaria na retranca há mais de uma década.

A um ano do início do torneio, o país continua a se defender para mudar a percepção de ser uma nação hostil a minorias que desejarem viajar para assistir aos jogos. Também lança ações de relações públicas para mostrar avanços na questão do respeito aos direitos humanos.

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"É uma loucura. Vão todos presos. Mas quando isso acontecer, eu já estarei morto", previu em 2010 o presidente da AFA (Associação Argentina de Futebol), Julio Grondona, após o país do Oriente Médio ganhar o direito de receber a competição.

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A frase, dita a jornalistas amigos, embasbacados pelo Qatar ter vencido os Estados Unidos na disputa para abrigar o Mundial em 2022, foi profética. A escolha detonou a investigação do FBI por corrupção e suborno, conhecida como Fifagate. Resultou na prisão de dirigentes e empresários sul-americanos, no banimento de cartolas e na renúncia do presidente da Fifa, Joseph Blatter, em 2015. Grondona morreu em 2014.

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Levados em conta os projetos de infraestrutura, estádios e todos os equipamentos necessários para realizar a competição, o país vai investir cerca de US$ 220 bilhões na organização (R$ 1,25 trilhão pela cotação atual). A Rússia gastou US$ 12 bilhões (R$ 68,3 bilhões) para viabilizar a Copa de 2018.


São 11 anos em que o Qatar convive com acusações de descaso com direitos humanos, restrições à comunidade LGBTQIA+ e de descaso com a massa trabalhadora imigrante. O país é um emirado absolutista e hereditário, controlado pela Casa de Thiani desde o século 19.

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Em abril deste ano, as seleções da Noruega, Alemanha, Holanda, Áustria, Dinamarca e Irlanda entraram em campo em partidas das eliminatórias com camisas ou faixas pedindo respeito aos direitos humanos.


A situação dos operários imigrantes envolvidos nas construções dos estádios e da infraestrutura para a Copa do Mundo é motivo de polêmica desde 2010. As denúncias de entidades internacionais falam na inexistência de proteções trabalhistas para estrangeiros, jornadas exaustivas em temperaturas que podem superar os 50°C no verão, moradias precárias e, principalmente, a kafala.

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Trata-se do sistema que proíbe o trabalhador estrangeiro de trocar de emprego, a não ser que o seu patrão atual assine uma carta autorizando a mudança.


"A um ano para a Copa do Mundo, pouco mudou. Operários têm muita dificuldade para trocar de emprego. Muitos deles continuam a sofrer descontos irreais nos salários ou estes não são pagos. Eles deveriam levar os casos à Justiça, mas o acesso a ela é quase impossível", afirma May Romanos, pesquisadora para o Golfo Pérsico da Anistia Internacional do Reino Unido.

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"Há problemas com as condições para os trabalhadores, especialmente no verão. Nossos consultores dizem que as medidas tomadas até agora não são suficientes para protegê-los. Não há investigação apropriada para as mortes inexplicáveis nas construções dos estádios e obras de infraestrutura. Isso impede as famílias de buscar compensação", completa.


A Anistia Internacional descreve o Mundial no Qatar como "Copa do Mundo da vergonha".

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O Supremo Comitê para a Entrega e Legado, responsável pela organização do torneio, contesta essa a visão. Em texto divulgado pela Fifa, declara ter trabalhado de "maneira incansável para proteger a saúde segurança e bem-estar dos trabalhadores".


"Temos orgulho do que conseguimos nos últimos dez anos e acreditamos que nossas ações criaram uma referência de excelência, não apenas no Qatar, mas na região e ao redor do mundo", disse Hassan Al Thawadi, secretário-geral do comitê.

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Em entrevista à Folha de S.Paulo, em dezembro de 2019, ele pediu que os torcedores estrangeiros presentes no país para o evento esportivo estivessem de mente aberta e abraçassem a cultura do Qatar.
Nos últimos anos, a nação árabe assinou tratados quanto a condições de trabalho e aboliu, oficialmente, a kafala. Mas a Anistia Internacional assegura, em relatório publicado no mês passado, que o sistema continua a ser utilizado.


"O relógio está correndo, mas não é tarde demais para colocar em prática o que está no papel. É hora das autoridades qataris abraçarem de verdade as reformas trabalhistas. A complacência das autoridades tem deixado milhares de pessoas sob o risco de exploração de empregadores inescrupulosos. Depois da Copa do Mundo, o destino desses trabalhadores que continuarem no Qatar será ainda mais incerto", queixa-se Mark Dummett, diretor de questões globais da Anistia Internacional.


As obras de infraestrutura (inclusive uma nova cidade, Lusail, para receber jogos do Mundial) e estádios fez a população do Qatar crescer quase 150% nos últimos dez anos graças à massa de trabalhadores migrantes. Ela representa cerca de 2,4 milhões dos 2,7 milhões da população local. Os qataris foram a elite econômica e social.


Reportagem do diário britânico The Guardian revelou que 6.500 operários morreram desde que a nação recebeu o direito de sediar a Copa. O governo contesta esse número.


Outras entidades que defendem os interesses de trabalhadores consideram um avanço o fato de as leis terem mudado.


"Empregadores que negam direitos dos operários e cobram taxas ilegais serão processados. Acreditamos que a cultura de impunidade em que os empregadores não reconhecem as novas leis trabalhistas está acabando. Trabalhadores no Qatar têm direitos e estão protegidos com leis alinhadas com padrões internacionais", disse Sharan Burrow, secretária geral da ITUC (sigla inglês para Confederação Sindical Internacional).


Trata-se de uma mudança de opinião. Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 2015, ela disse que "o maior evento esportivo do planeta não pode acontecer sob a sombra de um regime de escravidão moderno".

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