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Para voltar a brilhar

Após tragédia, Chapecoense encara árduo trabalho de reconstrução

Agência Estado
04 dez 2016 às 12:17

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- Beto Barata/PR
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A partir desta segunda-feira, uma nova página começa a ser escrita na história da Chapecoense. A ordem no clube é enxugar as lágrimas e iniciar o árduo trabalho de reerguer o time catarinense para, quem sabe, recolocá-lo no patamar onde estava até a tragédia da última terça-feira ou acima disso. Mas será necessário muita ajuda e trabalho.

Clubes de todo o mundo prometeram auxiliar a equipe de Chapecó a se reerguer. Financeiramente, o clube vivia situação invejável para a maioria dos times de futebol brasileiro e nos últimos anos vinha fechando as contas no azul, sem que os dirigentes colocassem qualquer centavo do próprio bolso - como, por exemplo, fez o presidente Paulo Nobre, do campeão Palmeiras, ao emprestar dinheiro para quitar dívidas.

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No total, a Chapecoense teve neste ano uma renda de R$ 45 milhões, sendo R$ 25 milhões oriundos da cota de TV, R$ 9 milhões dos patrocínios da Caixa e Aurora e mais R$ 9 milhões de outras fontes (venda de produtos, sócio-torcedor, ingressos, etc). Entretanto, em nenhum ano foi preciso montar um novo time como agora.

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Por isso, a diretoria está propensa a aceitar que jogadores cheguem por empréstimo. Clubes da Série A se comprometeram a ceder gratuitamente atletas para o clube catarinense na próxima temporada. Até times do exterior também querem ajudar. O Libertad-PAR, o Racing-ARG e o Benfica-POR prometeram dar alguns reforços.

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A diretoria vai promover diversos garotos das categorias de base e analisará a situação de todos os atletas do atual elenco. Eles têm contrato até o fim do ano, mas avisaram que querem ficar para ajudar na reconstrução. No total, são 11 jogadores, entre eles o goleiro Marcelo Boeck e o meia Martinuccio.


Quem comanda

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Além de clubes, empresários também estão dispostos a ajudar. O agente Jorge Machado, que cuidava da carreira de Matheus Biteco, Dener Assunção e Tiaguinho, todos mortos na tragédia, avisou a diretoria que pretende ajudar levando atletas para o clube.


Existe ainda um grupo de empresários dispostos a investir cerca de R$ 30 milhões em contratações. A Chapecoense diz não saber de tal disposição, mas afirma que a ajuda seria bem-vinda.

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Existem dois pontos que mais preocupam a diretoria no momento. O primeiro é definir quem será o técnico, já que a quase toda a comissão técnica - inclusive o técnico Caio Júnior - faleceu. Existe a possibilidade de recorrerem a algum treinador que já tenha dirigido o time, para facilitar na questão da adaptação e ter maior apoio das arquibancadas.


Outra situação que faz todos na Chapecoense ficarem atentos é com possíveis aproveitadores. Os dirigentes sabem que o clube catarinense pode ser usado por clubes, empresários e atletas para se promover. Por isso, já avisaram que não pretendem contar com nenhum grande nome do futebol para ajudar na reconstrução. Exceto, se sentirem que pode ser útil.

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Fundador pede ajuda


"Perdi um filho que coloquei no mundo, vi crescer, me dar orgulho e agora morreu de forma trágica." Assim Altair Zanella resume a tragédia envolvendo o elenco da Chapecoense. Um dos fundadores do clube catarinense, o fanático torcedor ainda tenta entender o que aconteceu e não consegue se recordar dos seus "meninos" sem chorar.

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"Eles não eram daqueles jogadores que vinham para a Chapecoense só pensando em dinheiro. Eles tinham mesmo amor à camisa, assim como a diretoria. Ainda bem que faço tratamento no coração, caso contrário, acho que não aguentaria", contou o senhor de 75 anos que, ao lado de Alvadir Pelisser, Heitor Pasqualotto, Lotário Immich e Vicente Delai, formou o simpático clube de Chapecó no dia 10 de maio de 1973.


A equipe teve origem em uma fusão do Independente com o Clube Atlético de Chapecó, dois times de várzea do interior catarinense. A ideia inicial era que apenas disputasse torneios amadores. Não havia menor pretensão em transformá-lo no clube com o tamanho que tem atualmente.

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Simpático e querido pelos funcionários da Chapecoense, Altair Zanella se emociona ao ver a forma carinhosa com que todo o mundo tem tratado seu "filho". "Saber que tanta gente tem dado força para nos reerguer dá uma satisfação e um orgulho de dever cumprido muito grande. Só peço para que não abandonem a Chapecoense. Precisamos de todas as forças possíveis para nos reerguer", pediu o fundador, com voz embargada.


Conhecedor de toda a história da Chapecoense, Altair não pensa duas vezes quando questionado sobre o momento mais feliz nos 43 anos de vida do clube. "Ver o time subir para a Série A foi o momento mais marcante. Ficou uma satisfação e vi que havia participado da construção de uma família, que hoje está abalada, mas não podemos deixar morrer", disse, lembrando que a Chape ascendeu para a Série A do Campeonato Brasileiro em 2013, após sucessivos acessos - que tiveram início com o clube saindo da Série D.


Além de Altair, outro que participou da fundação do clube e que de vez em quando frequenta a Arena Condá é Alvadir Pelisser, um dos responsáveis pela escolha das cores verdes do uniforme.


"Eu era torcedor do Palmeiras, Juventude e Caxias, então pensamos em fazer outro time de verde e deu certo", contou o ex-dirigente, que atualmente tem 80 anos e está se recuperando de um AVC sofrido recentemente. Por causa de sua saúde debilitada, ele não foi à arena nos últimos dias.


Ver a Chapecoense chegar a uma decisão de um torneio continental e com chances de sagrar-se campeã foi algo surpreendente e grandioso demais para seu Altair, que, ao fundar o clube, tinha planos muito menos ambiciosos.


"Nunca pensei que a Chapecoense iria crescer como cresceu. Evoluiu muito e acredito que podemos nos reerguer e evoluir mais. Tomara que a nova diretoria tenha força e ânimo para continuar e refazer um time forte e que possa chegar mais alto", deseja.


Altair acredita que a tragédia pode mexer também com o crescimento da cidade de Chapecó. "Nosso objetivo era montar um time de amigos, mas a Chapecoense ajudou muito no crescimento da cidade. Basta ver como falam do clube e da cidade nos programas de TV e nos jornais. Já falavam antes mesmo da tragédia", dá como exemplo.


Base


Os meninos da base da Chapecoense rezam pelos que partiram, mas também para que todo o trabalho feito pelo clube nas divisões interiores não seja jogado fora. A morte do presidente do clube, Sandro Pallaoro, pode frustrar a ascensão dos garotos, já que o dirigente tinha um carinho especial pela base.


"Ele falava que era o orgulho dele ter uma base forte", lembra Giovanni Rigotti, coordenador das categorias de base. Por conta da tragédia, os meninos foram liberados dos treinos por tempo indeterminado e até a disputa na Copa São Paulo do ano que vem está sob risco.


Enquanto isso, os meninos do time sub-17 ainda lembram do treino que tinham feito contra o profissional, na preparação para o jogo contra o São Paulo. "O nosso técnico pediu para eles não marcarem tão forte, para jogarem mais leve. Era um jeito de a gente conseguir equilibrar um pouco a partida", lembra o volante Paulo Ricardo, de 16 anos.


Curiosamente, nenhum dos garotos da base é natural de Chapecó, mas eles são promessas garimpadas em outras cidades. O clube oferece alojamento para os meninos e exige que eles continuem os estudos. Na escola, são admirados por colegas de classe e convidados para disputar peladas de fim de semana. "A gente nem pode jogar bola com o pessoal da escola. No turno da noite, só tem pingue-pongue", brinca outro Paulo Ricardo, também de 16 anos, mas atacante.


Quando se reúnem no alojamento do clube, o clima tem sido mais silencioso do que de costume. Contam que, às vezes, falta força até pra conversar e que, nos últimos dias, a sensação mais comum é de que o time vai voltar e ainda disputar a final da Copa Sul-Americana.


Cada atleta do sub-17 tem uma história com um dos jogadores ou um sentimento relacionado ao momento do clube. O Paulo Ricardo volante é de Ibirama, em Santa Catarina. Ele conta que o atleta com quem ele tinha mais amizade era o lateral-esquerdo Dener. "Ele me deu quatro chuteiras. Eu nem precisei pedir. Ele era muito gente fina. Isso parece um sonho ruim, cara", comenta.


O respeito e o companheirismo era tão grande que o lateral-esquerdo Renan Gimenes, de 16 anos, conta que o atacante Tiaguinho foi falar com ele quando soube que seria pai. "Ele veio me contar. Estava todo feliz. Acho que ele queria ser um bom exemplo pra mim também.".

É o lateral-direito Jean Wunsch, 16 anos, de Santa Cruz do Sul, quem resume o sentimento do grupo. "A gente sabe da responsabilidade. A gente precisa honrar esse time e os jogadores que se foram."


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