O time heroico não deu chances para um possível ato de heroísmo do rival nesta quarta-feira. Com a vantagem do 2 a 0 no jogo de ida, o Atlético-MG não deu sopa para o azar, foi dominante, atuou como se ele precisasse da vitória e saiu do Mineirão com seu primeiro título da Copa do Brasil. Sem fugir de suas características e da receita que deu certo na ida, derrotou o arquirrival Cruzeiro por 1 a 0, levantou o troféu nacional e, de quebra, jogou água no chope do adversário pela conquista do Campeonato Brasileiro no último fim de semana.
Foi o segundo título do Atlético-MG no ano - já havia sido campeão da Recopa Sul-Americana, mas a construção deste time é bem mais antiga. A identidade ofensiva e guerreira deste time permanece desde a 'era Cuca', que liderou na conquista da Libertadores de 2013, competição para qual garantiu vaga no ano que vem com o título desta quarta.
Um dos pontos desta identidade é o heroísmo atleticano. Se na Libertadores de 2013, foram viradas incríveis sobre Newell's Old Boys e Olimpia, nesta Copa do Brasil foram Corinthians, nas quartas de final, e Flamengo, na semifinal, que sofreram reviravoltas ainda mais espetaculares. Em ambas as ocasiões, os mineiros perderam fora de casa, na ida, por 2 a 0, levaram o primeiro gol em casa e foram buscar o improvável 4 a 1, mostrando que tinham o que era preciso para ficar com o título.
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Nesta final, fizeram justamente o oposto e souberam aproveitar muito bem o triunfo por 2 a 0 na ida, no Independência. Pior para o Cruzeiro, que viu ruir o sonho da tríplice coroa e, em meio a tantos sucessos em 2014, encerrará o ano com o incômodo tabu de não ter vencido seu maior rival na temporada - foram quatro vitórias atleticanas e três empates em sete jogos.
O JOGO - O começo foi um prenúncio do que seria a partida. Antes do primeiro minuto, Carlos poderia ter marcado se não fosse travado por Bruno Rodrigo. Aos três, Willian deu o primeiro chute ao gol para o Cruzeiro. Em meio a um ambiente de nervosismo, as equipes corriam e iam para cima. Até o Atlético-MG, que não fugia de suas características ofensivas apesar da boa vantagem.
Diante de tanta briga e velocidade, o primeiro cartão amarelo também demorou pouco, para Rafael Carioca, aos nove minutos. A advertência tinha explicação: a forte marcação atleticana já no meio de campo. E foi assim que o time criou a primeira grande chance do jogo. Aos 12, Luan recuperou e deu enfiada perfeita para Marcos Rocha, que dividiu com Fábio. No rebote, Diego Tardelli tocou para fora.
O Cruzeiro parecia mais nervoso, mas ainda assim respondeu e criou grande momento na sequência. Após chutão para frente, a zaga atleticana falhou e Ricardo Goulart apareceu sozinho na área, mas bateu torto, para fora. O time celeste reagia, mas seguia errando muitos passes. O Atlético-MG, mais inteiro, seguia levando perigo. Aos 24, Dátolo bateu falta da esquerda, a bola passou pelos zagueiros e Diego Tardelli, livre, finalizou meio sem jeito, de joelho, para fora.
Os visitantes só diminuíram o ritmo quando perderam Luan por lesão. O nervosismo seguia evidente, principalmente do lado do Cruzeiro, mas era impossível manter a intensidade. Até que aos 42, o Atlético-MG quase marcou em contra-ataque. Diego Tardelli deu enfiada linda para Maicosuel, que mais uma vez parou no esperto Fábio. A sobra ficou limpa para Dátolo, dentro da área, sem goleiro, mas o argentino isolou.
O primeiro tempo tão atleticano, só poderia terminar com a abertura do placar pelo time visitante aos 47 minutos. E justamente com uma arma tão usada pelo Cruzeiro nesta temporada: a bola aérea. Após sobra de escanteio, Dátolo pegou o rebote e recolocou na área. Diego Tardelli apareceu sozinho e, desta vez, não desperdiçou.
O Cruzeiro voltou para o segundo tempo sabendo que precisaria se expor e arriscar, mas estava ainda claramente abalado pelo gol. Se aproveitando disso, o Atlético-MG manteve seu estilo, não recuou e quase marcou aos seis minutos, quando Douglas Santos passou por Ceará e cruzou para Maicosuel, que foi atrapalhado pelo desvio de Fábio e não conseguiu cabecear para o gol.
Os donos da casa pareciam mortos. Além da desvantagem e do fator psicológico, o desgaste físico parecia eliminar qualquer chance de reação. A equipe até tentava em lances esporádicos, como aos 17 minutos, quando Ricardo Goulart aproveitou sobra pela direita e encheu o pé na rede pelo lado de fora, mas era muito pouco para quem precisava de quatro gols. A resposta do Atlético-MG foi muito mais perigosa e Dátolo acertou chute fortíssimo no travessão em cobrança de falta.
Vendo o time estagnado, derrotado em campo, e diante das provocações dos atleticanos, a torcida do Cruzeiro finalmente fez sua parte. Aos gritos de "tetracampeão", referentes à conquista do Brasileirão, e cantando o hino do clube, mostrou reconhecimento pela grande temporada da equipe. Mas a festa era toda da torcida adversária, que cantava a "freguesia" diante do maior rival e pôde comemorar um título inédito. Nem mesmo a breve confusão no fim, que terminou com expulsão boba de Leandro Donizete, estragou a festa.