Quase dois anos depois da realização da Copa do Mundo no Brasil, a CBF ainda não conseguiu ter acesso aos fundos prometidos pela Fifa como parte do legado do Mundial. À reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, fontes da entidade em Zurique confirmaram que a entidade comandada por Marco Polo Del Nero até agora não conseguiu mostrar como pretende gastar o dinheiro, avaliado em cerca de US$ 90 milhões (cerca de R$ 317 milhões).
Ao final da Copa, o ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, anunciou a criação de um fundo para ajudar o futebol brasileiro, com recursos que iriam para os estados que não tinham recebido os jogos e para a construção de centros de treinamento. Depois de uma liberação inicial de US$ 8,7 milhões, toda a transferência foi suspensa em razão da prisão de José Maria Marin e do indiciamento de Marco Polo Del Nero, que continua na presidência da CBF.
Em diversas reuniões e negociações, a Fifa deixou claro que apenas voltaria a autorizar o repasse se soubesse exatamente como seria usado o fundo, quais critérios seriam utilizados para comprar terrenos e como seria o controle de gastos. A CBF prometeu, ainda no ano passado, aprimorar os planos. Mas, durante o Congresso da Fifa na semana passada no México, a constatação dos auditores era de que pouco havia sido realizado e que a liberação dos recursos não se justificaria.
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Os auditores da Fifa autorizaram a liberação de cerca de US$ 10 milhões para a Concacaf, dinheiro que também estava bloqueado até que a entidade desse demonstrações de que estava passando por uma reforma, depois da onda de prisões de seus dirigentes. Mas a autorização não foi dada à Conmebol. Para a Fifa, nenhuma reforma que garanta maior transparência da forma que o dinheiro será usado foi aprovada. Portanto, a remessa de US$ 10 milhões continuou bloqueada.
O congelamento levou o presidente da Conmebol, Alejandro Domingues, a lançar uma dura crítica contra o ex-auditor chefe da Fifa, Domenico Scala. Para o paraguaio, o bloqueio era de sua responsabilidade.
No fim de semana, Scala renunciou em protesto contra a manobra do novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, de enterrar as reformas na entidade. Na sexta-feira, no congresso anual da Fifa no México, Infantino acabou com a independência das investigações e, por 186 votos a favor e apenas um contra, a entidade aprovou mudanças no estatuto, dando à cúpula poderes que Joseph Blatter jamais imaginou ter.
Pelas novas regras, Scala, assim como o juiz independente Hans-Joachim Eckert e o investigador independente Cornel Borbely, poderão ser simplesmente demitidos pela direção da entidade, sem qualquer justificativa. Foram eles quem conseguiram limpar de uma certa forma a Fifa de personalidades suspeitas, com decisões que desagradaram muitos. Até agora, as regras indicavam que eles somente poderiam ser demitidos por um voto de todo o Congresso da Fifa, com 211 membros.
Para Scala, um investigador poderia ser ameaçado de demissão se optasse por abrir um inquérito contra um cartola. "Isso impede investigação", disse. "Isso mina o pilar central da boa governança da Fifa e destrói o centro das reformas", declarou. Foi Scala quem de fato presidiu a Fifa por quase um ano, entre a queda de Joseph Blatter e a eleição de Infantino. Foi ele também quem desenhou as reformas e colocou limites aos dirigentes, inclusive estabelecendo regras para o uso do avião oficial da entidade.
Scala renunciou por considerar que as investigações e os comitês tiveram sua "independência terminada". Em resposta, a Fifa acusou Scala de estar fazendo declarações "sem base".