Aos 36 anos, o lateral Ruy "Cabeção" jogará no meio de campo, ao lado de Paulo Almeida, para tentar dar mais experiência ao jovem time do Mixto, que terá uma partida difícil contra o Santos, nesta quarta-feira, pela Copa do Brasil, no primeiro jogo oficial da Arena Pantanal, em Cuiabá. O jogador confessa que, em outros tempos, uma partida contra um grande time pelo torneio nacional seria uma ótima vitrine para mostrar seu futebol. Mas ele garante estar desiludido com a profissão e confessa que os dirigentes não querem saber de jogador acima dos 30 anos.
"Para ser sincero, não me iludo mais. Vou fazer 36 anos, imaginavam que eu estivesse gordo, que não conseguisse correr mais e ficasse no departamento médico, e o futebol brasileiro pensa isso de jogadores acima de 30 anos. No nosso mercado, esse tipo de atleta está acabado. Posso até ter oportunidade em equipe grande, por causa da minha experiência e dos meus títulos, mas se estivesse com 21 anos, depois desse jogo com certeza estaria em uma equipe grande. Só que não tenho mais essa ilusão. Torço, claro, para que receba algum convite, ficaria lisonjeado, mas tenho os pés no chão e não vou me deslumbrar. Ainda mais que as grandes equipes são gerenciadas por grupos de investidores, empresários fortíssimos, e a gente sabe como é difícil entrar", lamenta.
Ele já jogou em grandes times como Cruzeiro, Grêmio, Figueirense e Fluminense, entre outros. Também atuou na Europa, mais especificamente na Hungria. E lá começou a perceber as coisas erradas no futebol nacional. "Infelizmente, o desenvolvimento do futebol brasileiro está muito atrasado. Aqui o futebol só é profissional em equipes de primeira divisão, mas ainda existe o problema de atraso de salários, e em algumas poucas da Série B. Fora isso, no Brasil a gente tem o futebol semiprofissional. Prova disso é o Mixto. Temos agora o último campeonato do ano, que é a Copa do Brasil, a não ser que a gente pleiteie uma vaga de Série D ou C, que vai ser decidida na Justiça. Muitas equipes vão fechar as portas e os jogadores vão ficar desempregados, vão trabalhar como porteiros, chefes de obra, ou quem tiver algum estudo vai trabalhar em sua profissão."
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Ruy não poupa críticas e sabe que o Brasil precisa evoluir bastante, principalmente a partir dos homens que comandam o esporte. "A diferença para o exterior é essa: apesar das novas arenas belíssimas, o nosso futebol é amador a partir da CBF. Enquanto ela não se preocupar realmente com o futebol brasileiro, nossa classe vai se prejudicar mais ainda", avisa. Independentemente disso, o jogador está ansioso para entrar em campo. "A expectativa é muito grande, faz tempo que a equipe não tem um jogo importante como esse. É a inauguração de um estádio de Copa, contra um ótimo time, então temos todos os ingredientes que uma equipe precisa para voltar a aparecer em cenário nacional."
O atleta lembra muito bem da campanha que fez com o Figueirense pela Copa do Brasil em 2007. O time chegou à decisão e só parou diante do Fluminense. "A gente tinha uma equipe mais ou menos parecida com a do Mixto, de jogadores jovens e desconhecidos, e a Copa do Brasil nos dá essa oportunidade de poder surpreender. Temos um grupo em formação e não dá para prever muita coisa", explica, lembrando que vem conversando com seus companheiros sobre a importância da partida desta quarta. "Já passei para eles que o futebol é muito rápido, às vezes um jogo como esse, contra uma das melhores equipes do Brasil, se você surpreende, portas se abrem e oportunidades aparecem. Foi isso que aconteceu no Figueirense. Daquele time, quase todo mundo saiu. O Felipe Santana está na Alemanha, o Cleiton Xavier está fora do País, tinha o André Santos, o Chicão, foram vários jogadores que pegaram essa oportunidade."