O atacante Robinho se mostrou preocupado ao saber que um de seus amigos estava conversando pelo Facebook com a mulher que o acusa de abuso, mostra a transcrição de um áudio anexada ao processo que levou a sua condenação, na Itália. O documento foi obtido com exclusividade pelo UOL Esporte.
O jogador e o amigo Ricardo Falco foram condenados em segunda instância, na última quinta-feira (10), a nove anos de prisão por violência coletiva, crime que teria acontecido em 2013, em uma boate de Milão. Na época ele atuava pelo Milan. Sua defesa afirmou que vai recorrer à terceira e última instância. Contratado pelo Santos, ele aguarda a resolução do caso em liberdade, no Brasil.
Um ano depois do encontro na boate, Robinho telefonou a um dos amigos que estavam no Brasil. E relatou que o alvo havia descoberto o nome de todos os envolvidos no ato. Ela teria então passado as informações à polícia, que tentava interrogá-los. A conversa foi gravada com autorização judicial.
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Esta reportagem omite o nome dos companheiros de Robinho que não estão sendo processados pela Justiça italiana.
Robinho: "Agora a questão é o seguinte, mané. A questão é que o [amigo 2] ficou trocando maior ideia com a mina, a mina foi pelo Facebook pegou todo mundo, pegou tu, eu falei: 'Como que a mina sabe, como que o cara sabia o nome de vocês?
Amigo 1: "Que isso cara, então alguém que deu, e foi o [amigo 2]." Robinho: "É, eu quero falar com o [amigo 2], mano, pro [amigo 2] sacar bagulho de Facebook porque os caras estão investigando e não é brincadeira, não."
A transcrição foi anexada ao processo pela defesa do atacante, que alegou erros de tradução da língua portuguesa para a italiana. No documento, constam a transcrição do áudio original e uma tradução para o italiano, feita pelo tradutor Adriano Lellis Gaiotto.
Um dia depois do encontro na boate, a mulher, que comemorava seu aniversário de 23 anos, passou a conversar com ao menos dois amigos de Robinho pelo Facebook. Os amigos tentavam convencê-la de que a relação havia sido consensual, embora o alvo insistisse que estava muito alcoolizada para dar consentimento.
Através de tecnologias de geolocalização, a polícia descobriu que, enquanto conversava com o alvo, um dos amigos estava na rua em que Robinho morava na Itália. Quando as investigações chegaram mais perto de si, Robinho se mostrou irritado com o bate-papo.
Robinho: "Eu falei 'Cara! Se esse bagulho sair na imprensa vai me foder', aí, resumindo, falou que perguntou de você, falou que tinha seu nome, seu telefone, porque o [amigo 2] ficou falando com a mina pelo telef... pelo Facebook mano..."
O jogador tentou entrar em contato com o amigo para que ele parasse de conversar com a mulher.
Amigo 1: "Mas, mas, Neguinho, [...] ainda falei pro [amigo 2] 'mano, esquece isso aí', quer ficar batendo papo.
Robinho: "Exato. Mas então eu quero tentar falar com ele, mas eu não consigo falar com ele, eu preciso [...]"
Em outro trecho, Robinho afirma acreditar que seu nome só foi envolvido na denúncia depois que a mulher conversou com seus amigos pela internet, já que a mulher não teria conhecimento sobre quem ele era. No entanto, ela afirmou à Justiça que já conhecia o atacante brasileiro, pessoalmente, desde antes do encontro em 2013.
Robinho: "Mano, o [amigo 2] deu maior mole de ficar querendo resenha com a mina, de ficar de ideinha, de pá, por causa do Facebook a mina pegou todo mundo, porque até então a mina só ia falar que conhece o Jairo [músico que tocou na boate] e o Ricardo, porque ela não conhece ninguém, ela não me conhece, meu telefone ela não tem."
A polícia, o Ministério Público e a Justiça consideraram "auto incriminatórias" as conversas gravadas entre Robinho e seus amigos. Ao lado do depoimento do alvo e de testemunhas presentes na boate, as transcrições, traduzidas para o italiano, foram as principais provas produzidas pelas investigações.
Robinho e seus advogados têm argumentado que elas foram tiradas de contexto ou mal traduzidas. O jogador sustenta que recebeu oral de maneira consensual, que não teve relação e que, portanto, não praticou o crime.
A publicação das conversas privadas do jogador, em outubro, causou uma onda de indignação e levou patrocinadores a pressionarem o Santos. O clube resolveu suspender o contrato com o atacante, até que o caso tenha um desfecho.