Os 96 torcedores do Liverpool que morreram no Hillsborough Stadium, no dia 15 de abril de 1989, foram "ilegalmente mortos" por causa de erros da polícia, um júri inglês concluiu nesta terça-feira. Parentes das vítimas daquele desastre, o maior da história do esporte britânico, estavam em lágrimas do lado de fora do tribunal quando souberam do veredicto do novo inquérito sobre o caso, que culpou a ação das autoridades policiais pelas mortes ocorridas naquele trágico episódio.
Fãs do Liverpool gritavam "Justiça para os 96" e entoavam o famoso canto da torcida, "You'll Never Walk Alone" (Você Nunca Andará Sozinho), depois de ouvirem o novo veredicto para o caso, que foi conhecido após mais de 25 anos da ocorrência do evento que ficou conhecido como "Tragédia de Hillsborough".
Famílias de vítimas gastaram mais de um quarto de século lutando por justiça neste caso depois de inquéritos iniciais terem apontado que as mortes foram acidentais e sem responsabilidade da polícia naquele abril de 1989, quando Liverpool e Nottingham Forest disputavam a semifinal da Copa da Inglaterra no estádio Hillsborough, em Sheffield, no norte do país.
Em 12 de setembro de 2012, uma comissão de investigação independente já havia concluído que a polícia britânica foi responsável direta pela tragédia na qual 96 pessoas morreram pisoteadas e esmagadas, enquanto outras 766 ficaram feridas. Após a conclusão da investigação, o veredicto original foi derrubado e novos julgamentos passaram a ser realizados em Warrington, cidade próxima a Liverpool no noroeste da Inglaterra.
Antes deste novo veredicto sobre o caso, ninguém havia sido responsabilizado ou julgado pela tragédia, sendo que inicialmente a polícia e até parte da imprensa culparam a ação de torcedores violentos, que ficaram conhecidos como hooligans, pelas mortes dos 96 torcedores do Liverpool.
O júri, que havia considerado 14 questões feitas pelo legista do caso, concluíram, por maioria de 7 votos a 2, que as mortes ocorreram de forma ilegal, em decisão que provocou soluços e gritos de alguns presentes ao tribunal.
O júri também concluiu que erros de planejamento da polícia "causaram ou contribuíram" para a situação que levou ao esmagamento dos torcedores, assim como confirmou que o comportamento da torcida não provocou ou foi a causa para a tragédia.
O veredicto desta terça-feira, porém, não significou o fim da batalha travada pelos familiares das vítimas da tragédia. O Ministério Público Britânico disse que ainda irá "considerar formalmente se acusações criminais deverão ser trazidas contra qualquer pessoa física ou jurídica".
É provável, porém, que o novo veredicto do tribunal em Warrington provoque a abertura do processo penal que poderá punir os responsáveis pelo policiamento daquela partida de abril de 1989. Na época, o então chefe da polícia de South Yorkshire, David Duckenfield, era quem liderava a segurança do confronto.