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Um em cada cinco brasileiros na elite europeia sofreu racismo na internet

Alex Sabino e Luciano Trindade - Folhapress
03 mai 2021 às 15:40
- Reprodução/Instagram
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Figuras de macaco. Rostos de gorila. Bananas. Ofensas à cor de pele da mãe. "Preto". "Neguinho". Zombaria por causa do cabelo. "Mono [macaco em espanhol] de merda". No final de semana em que parte do futebol europeu decidiu boicotar as redes sociais por acreditar que elas fazem pouco para combater o racismo, os jogadores brasileiros têm muitos motivos para protestar.

Levantamento feito pela Folha nas contas de Instagram dos atletas do país que atuam na elite do continente mostra que 23% dos que liberam de forma irrestrita os comentários em suas fotos receberam ao menos uma mensagem racista nesta temporada, iniciada em agosto de 2020.

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A pesquisa englobou as cinco principais competições nacionais de acordo com o coeficiente da Uefa (federação europeia): Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália.

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São 105 jogadores brasileiros em clubes de primeira divisão nesses países. Desses, 18 decidiram bloquear a conta (o que exige pedir autorização para seguir), não permitir comentários ou utilizar o filtro oferecido pelo Instagram para restringir interações. Um dos que fizeram isso foi Neymar, que tem 149 milhões de seguidores. Dos 87 que mantiveram as contas abertas, 20 receberam ao menos um comentário de cunho racista.

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O conteúdo discriminatório pode estar disfarçado, mesmo que seja de fácil compreensão. "Da favela e contra as ideias do seu presidente, bem coisa de n....", escreveu em espanhol um usuário ao lateral Marcelo, do Real Madrid, sem explicações se a referência era ao presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ou ao mandatário do clube, Florentino Pérez.


"Todas as vidas importam, seu preto", recebeu o atacante Wesley, do Aston Villa (ING).

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Há também as ofensas após resultados ruins. Poucas horas depois da derrota do Paris Saint-Germain para o Manchester City na última quarta (28), pelas semifinais da Champions League, uma postagem do zagueiro Marquinhos recebeu comentários com figuras de macacos.


Em união dos clubes, federações, associações de atletas, torcedores e emissoras de TV, o futebol inglês iniciou na sexta (30) um boicote de quatro dias às principais redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter). A Uefa e a Fifa se alinharam à medida.

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Pilotos de F1, como Lewis Hamilton, George Russell e Lando Norris, representantes de outros esportes populares na Inglaterra, como rúgbi, ciclismo e críquete, foram outros que aderiram ao protesto, assim como a Federação Internacional de Tênis (ITF).


"As plataformas [das redes sociais] têm como filtrar ou não filtrar [comentários]. Elas têm atitudes mais proativas do que tinham anos atrás e estão tentando identificar isso", diz o advogado Renato Opice Blun, especialista em direito digital e proteção de dados.

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"As redes sociais antes apresentavam uma justificativa de que seriam apenas os intermediários entre o ofendido e o ofensor. Isso não se sustenta, porque cada vez mais as plataformas têm desenvolvido funções para construírem a esfera pública", afirma Juliana Abrusio, advogada e professora da Faculdade de Direito do Mackenzie, em São Paulo.


Entre as ligas pesquisadas, o maior percentual de ofensas ocorreu na Espanha, onde, dos 15 jogadores com Instagram aberto, 7 foram alvos de racismo (46,6%). Dos cinco atletas do Real Madrid –Marcelo, Vinicius Jr, Eder Militão, Rodrygo e Casemiro–, só Militão não passou por isso.

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Na França, 33,3% dos atletas brasileiros receberam ofensas racistas, mais do que na Inglaterra (24%), Alemanha (16,6%) e Itália (4,3%), considerados os que têm perfil aberto.


"A inserção dos negros nessa modernidade esportiva é sempre da periferia para o centro. Esse sujeito deslocado para a periferia é para ser invisível. Quando ele aparece no centro, é como se fosse um invasor, não deveria estar ali. Então ele desperta um conjunto imenso de estranhamentos, fantasias e delírios em outras pessoas. A partir daí aparecem os xingamentos", diz Hilton Ferreira Junior, doutorando em estudos sociais e culturais do esporte pela Escola de Educação Física da USP (Universidade de São Paulo).

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Para o diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Medeiros Carvalho, o volume de ofensas nas redes sociais tem relação com a postura de governantes. "O aumento do discurso de ódio vindo de líderes como presidentes e primeiros-ministros, no Brasil e no exterior, encoraja os torcedores para que eles se sintam à vontade para proferir esses discursos de ódio."


Carvalho aponta, ainda, que a impossibilidade de ter torcida nos estádios devido à pandemia de Covid-19 tem feito os torcedores "descarregarem todo ódio, frustração e preconceito nas redes sociais".


"Os comentários nas redes sociais estão cheios de ódio e, acima de tudo, racismo. Não podemos alimentar essa cultura. Não podemos aceitar isso. Temos de lutar sempre. Somos maiores e melhores do que isso", reagiu o volante Fred, do Manchester United, ao constatar ter sido chamado de "macaco" num comentário.


Consultados pela reportagem, Instagram e Facebook (pertencentes à mesma empresa) afirmam em nota conjunta que, entre outubro e dezembro de 2020, as plataformas agiram com relação a 33 milhões de mensagens identificadas como discurso de ódio, sendo que 95% delas foram encontradas antes que qualquer denúncia fosse feita.


"Ninguém deveria sofrer abusos, em qualquer lugar, e é contra nossas políticas assediar ou discriminar pessoas no Instagram ou no Facebook. Concordamos e já avançamos em muitas das sugestões propostas pela comunidade do futebol, incluindo medidas mais severas contra as violações de nossas regras em Mensagens Diretas. Também anunciamos recentemente que, em breve, disponibilizaremos novas ferramentas, desenvolvidas com base em conversas com atletas e especialistas em antidiscriminação."


Sobre o boicote iniciado no futebol inglês, o Twitter diz que, desde o início da atual temporada no Reino Unido, houve 30 milhões de postagens sobre futebol, das quais 7 mil foram removidas por violação das regras da empresa.

"Trabalhamos para melhorar nossas medidas proativas e removemos, sem necessidade de denúncia, 90% dos abusos direcionados a jogadores. E fornecemos canais de denúncia para nossos parceiros de futebol, garantindo que qualquer conteúdo potencialmente violador seja analisado e acionado rapidamente."


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