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Pé de boi

18 jul 2018 às 11:20

O desbravamento era bruto demais.
Derrubadas, queimadas, destocas com muita poeira, muito suor, e tudo entremeado com muita chuva e muita lama.
O boi enfrentava, carregava, puxava, abria, semeava, desbravava.
Como dizia o meu pai: "O boi não sabe a força que tem".
Canela seca e grossa pisava empurrando com força, passando e repassando, fazendo o trilheiro na mata, na capoeira, nas minas d’água, vencendo cascalho, pedras e tocos com seu casco grosso, em passadas picadas.
Pode contratar que este eu garanto. Este homem é um verdadeiro "pé de boi", ou seja, ia trabalhar incansavelmente.
Aproveitando a fama, lá na metade dos anos 60 a Volkswagen lançou o fusca modelo "pé de boi", que fazia referência a um automóvel rústico e forte.
Pra ser assim sinônimo de fortaleza tinha que ter muito osso, muito tutano e couro grosso.
Como do boi só não se aproveitava o berro, com água fervente os cascos saiam, sapecado no fogo os pelos eram raspados. Ficava branquinho e lisinho pra o machado afiado cortar em pedaços.
Cozido por horas no tacho de ferro com cebolas, alho, louros e muitas ervas, virava iguaria.
O bar era numa das esquinas da Mato Grosso. Aproveitando uma casa antiga de perobas, derrubaram o muro, calçaram com cimento e fizeram um puxado de "Eternit". As mesinhas e cadeiras de ferro dobrável eram esparramadas até as calçadas, apesar de abundantes eram disputadissimas. Pra sentar tinha que chegar cedo.
Ali no Bar do Souza os petiscos e a cerveja gelada cativavam a freguesia. Eu todas as sextas madrugava e bem instalado nem precisava pedir. Exímio maitre, conhecedor da profissão, meu amigo Celso com o sorriso aberto sob o vasto bigode servia rapidamente o consagrado "Caldinho de mocotó", que eu saboreava com rodelas de pão e muita pimenta.
Assim na boca toda força se tornava sabor.

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