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Estudo

Bebês começam a 'aprender' idioma antes de virem ao mundo

Reinaldo José Lopes - Folhapress
23 nov 2023 às 14:03
- Nappy/Pexels
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Quem nasce no Brasil costuma ouvir suas primeiras "aulas de português" ainda na barriga da mãe, começando a se habituar com o ritmo característico da nossa língua nos meses finais de gestação. Essa conclusão não vale, é claro, só para a língua portuguesa, mas para todos os idiomas maternos do mundo, indica um estudo realizado por pesquisadores europeus.


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A equipe liderada por Benedetta Mariani, da Universidade de Pádua (norte da Itália), mostrou que uma afinidade mais elevada pelo idioma da família da criança começa a se construir ainda no útero ao fazer uma série de experimentos --obviamente, não invasivos- com bebês recém-nascidos. A atividade cerebral dos pequenos apresenta diferenças significativas quando eles ouvem a língua materna e quando são expostos a idiomas estrangeiros.

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Os detalhes da descoberta acabam de sair no periódico especializado Science Advances. Mariani e seus colegas da França e da Holanda estavam interessados em entender um pouco melhor uma das capacidades mais impressionantes da cognição humana: a facilidade com que a maioria das pessoas aprende todos os elementos essenciais de um idioma, por mais complicado que ele seja, nos primeiros anos de vida.

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Essa facilidade, às vezes considerada um "instinto da linguagem", obviamente não se restringe à língua que o futuro bebê ouve durante a gestação (para ser mais exato, a partir de um momento entre a 24ª e a 28ª semana de gravidez, período em que o feto começa a distinguir sons do exterior).


Bebês que são adotados por pais de outros países, por exemplo, aprendem com igual tranquilidade o jeito de falar de sua nova família. E o mesmo costuma valer para filhos de imigrantes, que tendem a se tornar bilíngues sem sotaque com muita rapidez, desde que cheguem ainda pequenos ao novo país.

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Estudos anteriores já tinham demonstrado, porém, que recém-nascidos costumam preferir a voz de sua mãe, quando comparada à de outras mulheres, e também vozes que falem o idioma de sua mãe, em vez de idiomas estrangeiros. Por outro lado, o ambiente dentro do útero parece atuar como um filtro que barra certas frequências sonoras (já que há uma barreira líquida entre o feto e o mundo exterior).


Isso significa que, nessa fase, os bebês não conseguem captar os sons exatos de consoantes e vogais, por exemplo, mas sim a chamada prosódia -o "sobe e desce" de entonação na fala, o jeito característico de "cantar" sílabas e frases quando conversamos.

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Nos experimentos, Mariani e seus colegas tiveram como "voluntários" recém-nascidos que tinham o francês como língua materna. Participaram do estudo 49 bebês (19 deles do sexo feminino) com entre 1 e 5 dias de vida. No protocolo experimental, os bebês ficavam num espaço silencioso por três minutos; depois, ouviam uma voz calma contando a célebre história infantil "Cachinhos Dourados e os Três Ursos" durante sete minutos; por fim, vinha mais um silêncio de três minutos.


O pulo do gato do esquema experimental é que o conto de fadas era ouvido pelas crianças em três idiomas diferentes (francês, espanhol e inglês, em ordem aleatória). O espanhol foi incluído na lista por sua relativa semelhança estrutural com o francês, enquanto o inglês é a língua mais distante do trio. Enquanto ouviam, os bebês passam por um exame de eletroencefalografia, uma medição da atividade cerebral que é feita por meio de uma touca com eletrodos.


Ao analisar a atividade do cérebro dos recém-nascidos, os pesquisadores identificaram, grosso modo, uma reação muito mais coordenada ao francês do que às duas outras línguas -como se os neurônios dos bebês reagissem dizendo "ah, já ouvi isso antes!" e extraíssem informações do idioma reconhecido com mais eficiência.


Uma possibilidade é que esse tipo de processo aconteça, em alguma medida, em outros tipos de aprendizagem auditiva, como a música, embora isso ainda precise ser investigado com mais detalhes.


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