O Instituto Butantan concluiu a reforma e ampliação de sua fábrica de soros para o tratamento de picadas de animais peçonhentos, como serpentes, aranhas e escorpiões, além de raiva, botulismo, difteria e tétano, em humanos.
O objetivo da obra foi atender a uma solicitação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que os fabricantes de soro no Brasil modernizassem as instalações de suas fábricas, a fim de atender os novos padrões de produção de medicamentos no Brasil, sem os quais não será mais possível a produção e a venda dos produtos para o Ministério da Saúde.
"Como tínhamos que fazer alterações nos fluxos de produção e nos equipamentos da fábrica para atendermos à solicitação da Anvisa, aproveitamos e melhoramos os processos de fabricação dos nossos soros – que serão mais automatizados – e aumentamos nossa capacidade produtiva", disse Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantan, durante a apresentação das novas instalações da fábrica à imprensa.
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A instituição produz atualmente 400 mil ampolas por ano de 13 diferentes tipos de soro.
Com a reforma e ampliação, a capacidade de produção da nova fábrica poderá aumentar em até 75%, chegando a 700 mil ampolas por ano.
"Se antes fornecíamos a metade do soro necessário no Brasil, com a nova fábrica poderemos atender quase que totalmente a demanda pelo produto no país [de 800 mil ampolas por ano], se houver a necessidade,", afirmou Kalil. "Isso permitirá que outras fábricas de soros no país se modernizem e que venhamos a atender outros países", avaliou.
A instituição já fornece soro para países como Moçambique, na África. Com o aumento da capacidade produtiva da nova fábrica, o Butantan poderá fazer acordos para o fornecimento do produto para outros países, como Myanmar, na Ásia – a nação que registra o maior número de acidentes com animais peçonhentos no mundo –, disse Kalil.
A expectativa é que o primeiro lote de soros da nova fábrica seja produzido no final deste ano, após a unidade fabril passar por uma etapa de qualificação de equipamentos, infraestrutura e fluxos de processamento, e de certificação pela Anvisa.
A previsão é que a fábrica esteja em plena operação no início de 2016. "Os padrões de produção e controle de processos da nova fábrica estão em patamares internacionais", afirmou Kalil.
Uma das principais mudanças implementadas na nova fábrica de soros, que contou com investimento de R$ 21 milhões, foi no processo de fracionamento de plasma hiperimune de equinos, obtido pelo Instituto Butantan em uma fazenda pertencente à instituição, localizada a 50 quilômetros de São Paulo, que possui 800 cavalos, com capacidade de produzir 22 mil litros de plasma hiperimune por ano.
Anteriormente, o processo de fracionamento do sangue dos cavalos – em que se separa os anticorpos produzido pela inoculação do antígeno do veneno de serpentes ou de aranha, por exemplo – era feito manualmente. Agora, o processo será quase que totalmente automatizado.
"Esse processo de separação será muito mais ágil e o nível de controle muito maior", comparou Kalil.
Atualmente, o Instituto Butantan possui um plantel de 45 mil exemplares de aranhas-marrom, 100 armadeiras e cinco mil escorpiões, cujos venenos dão origem a alguns dos soros produzidos pela instituição.
Os animais serão acomodados, nos próximos meses, em um novo laboratório de artrópodes que também acaba de ser construído pela instituição, ao custo de R$ 10 milhões.
Com 700 metros quadrados (m2), o novo laboratório tem quase o dobro de tamanho das instalações atuais e possui espaços específicos para criação e manutenção de cada grupo de artrópodes cujos venenos são usadas para produzir soros, como aranhas-marrom, armadeira e caranguejeira, além de escorpiões e lacraias.
O prédio também contempla uma área exclusiva para a entrada de animais provenientes diretamente da natureza, que permitirá mantê-los em quarentena antes que sejam juntados ao grupo de sua espécie, reduzindo, assim, o risco de mortalidade e contaminação de outros exemplares.
A estrutura permitirá, ainda, que o laboratório receba lagartas do gênero Lonomia para extrair as cerdas que contêm o veneno usado na produção do soro antilonômico. "O Butantan foi a primeira instituição no país a produzir o soro para tratar acidentes causados por esse gênero de lagarta", disse Kalil.