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Casos de reinfecção por coronavírus não devem provocar pânico, dizem especialistas

Tatiana Girardi - Ansa Brasil
31 ago 2020 às 14:27
- Ansa
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Os recentes anúncios de reinfecções pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) em Hong Kong e na Europa, além das suspeitas de episódios semelhantes no Brasil, deixaram muitas pessoas preocupadas ao redor do mundo.


As notícias, que surgem pouco mais de oito meses após os primeiros casos confirmados da Covid-19, no entanto, não devem ser motivo para pânico.

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Para o coordenador do laboratório de análise de casos de reinfecção do Hospital das Clínicas de São Paulo, Max Igor Lopes, "isso só vai ajudar a entender que esse é um vírus que se comporta de maneira mais próxima" a outros vírus respiratórios ou coronavírus já conhecidos por causarem resfriados.

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"Um vírus respiratório, você pega uma vez na vida? Não, todos estão sujeitos a pegar de novo por duas razões: todos os vírus vão mutando lentamente e, a segunda razão é que a resposta inflamatória e imune nunca é tão boa, ela é parcial. Então, isso vai favorecer que, em algum grau, você tenha recorrência dessa infecção e, então, por exemplo, eu não me espanto de encontrar isso com o corona", disse Lopes em entrevista à Ansa.

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Segundo o médico infectologista, os vírus respiratórios têm essa característica de provocar uma imunidade parcial, sem ser perene.


"Na verdade, isso é o natural do vírus respiratório. O que acho que é a preocupação maior - e acho que aí temos que mudar um pouco essa percepção - é que o problema, daqui a pouco, não vai ser pegar corona. O vírus, no meu entendimento, não vai sumir, você vai estar sujeito a pegar. O problema é não ter caso grave, caso que interne e caso que vá para a UTI, esse é o problema.

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Porque se não tivesse isso, qual seria o problema do corona? Nenhum. Tem quatro coronas circulando e ninguém liga. Nesse aqui, o problema são os casos graves", acrescenta.


Um dos motivos que deixa o especialista otimista é que, desde o início da pandemia, não há relatos de pessoas que tiveram casos graves na primeira vez - que tenham causado internação ou ida à UTI, por exemplo - e que voltaram a apresentar sintomas sérios em uma possível reinfecção.

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"As pessoas têm que ficar sem medo de voltar porque isso só vai ajudar a entender que esse é um vírus que se comporta mais perto do que a gente conhece. Que talvez mais pra frente você pegue de novo mesmo. Hoje, o problema é mais em relação à transmissibilidade, que é elevada. Esse vírus nos pertence. Ele não é mais um vírus de morcego, mas um vírus humano, adaptado ao homem e vai ficar", acrescentou Lopes à Ansa.


Para o coordenador do ambulatório do HC, com o controle da transmissibilidade e com as pessoas tendo uma "imunidade parcial ou que tenham recebido a vacina no futuro próximo", o Sars-CoV-2 "não deve causar grande problema".

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Reinfecção x Reativação


Uma das questões bastante discutidas com os anúncios recentes é se os casos são uma reinfecção pelo Sars-CoV-2 ou apenas reativações do vírus - ou seja, ele estava ainda no corpo e, por algum motivo, voltou a se manifestar.

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Segundo Lopes, a equipe do Hospital das Clínicas está somando "peças do quebra-cabeças" nos sete casos sob sua análise para entender "o que está acontecendo". "De qualquer maneira, são pessoas que adoeceram duas vezes e que têm teste positivo para Covid duas vezes em intervalo longo de tempo", diz o médico. O prazo entre uma manifestação e outra varia de dois a quatro meses "A primeira coisa que chama atenção, um pouco ao contrário do caso de Hong Kong, é que são pessoas que realmente ficaram doentes duas vezes. A outra coisa é que na primeira vez foi uma infecção Covid, teve sintoma e um teste RT-PCR. Outra característica é que elas ficaram um tempo bem no meio e, na segunda vez que adoecem, elas têm um novo teste positivo", explica.


A partir de então, os especialistas questionam se essa piora clínica foi "decorrente ou não da Covid" e se "haveria uma outra explicação para levar a esses sintomas".

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São três os principais cenários analisados. O primeiro é seguir o que foi feito em Hong Kong e ter o sequenciamento do vírus nas duas vezes e compará-los. No entanto, uma eventual diferença nesse sequenciamento não seria um fator definitivo para decretar uma nova contaminação.


"Assumindo que os vírus são diferentes, haveria uma probabilidade de ter ocorrido um nova infecção. Mas veja que o número de diferenças não é nada assim exagerado. Em Hong Kong, foram 24 alterações que eles encontraram, e vírus tem em torno de 30 mil [pares de bases]. Você tem uma diferença só em 24, o que não é um absurdo. Esse é um vírus que evolui de forma muito lenta. Então a gente poderia imaginar que o vírus poderia ter acumulado algumas mutações no próprio indivíduo", explica o infectologista.


O segundo ponto importante no caso da pessoa que fica doente é encontrar o vírus. "É difícil cultivar o vírus. De uma forma geral, você consegue cultivar até o oitavo ou nono dia, e o máximo na literatura são 20 dias. Então alguém que depois de vários meses ainda cultiva o vírus é sinal que tinha bastante carga no corpo. Não era fragmento viral, eu tinha um vírus viável ali", destaca Lopes, acrescentando que em todos os casos analisados esse prazo passou muito além dos dias máximos de cultivo já certificados pela ciência.


"A terceira forma de imaginar que era uma nova infecção é documentar que houve uma nova transmissão, porque se eu tenho casos secundários, eu tinha um vírus viável. Desses sete pacientes, nós temos uma que teve essa transmissão.


Possivelmente, ela transmitiu para o irmão e para a cunhada, que viajaram juntos no mesmo carro. Interessante é que o início dos sintomas dela é anterior ao início dos sintomas do irmão, então é possível que ela estava contaminada e que foi ela que transmitiu", ressalta.


Como tudo que se refere ao novo coronavírus, há mais hipóteses e dúvidas do que certezas. Entre os casos analisados pelo hospital, dois também fizeram uma investigação para saber se outro agente estava causando os sintomas: um teve resultado negativo, e outro testou positivo tanto para o influenza, que causa a gripe comum, como tinha resquícios do RNA viral do Sars-CoV-2.


"Outro fator dessa doença é que ela depende muito da resposta inflamatória. A chave dessa doença é isso, essa interação vírus-resposta", acrescenta. Até o momento, são pouco mais de 20 casos documentados de reinfecção entre os mais de 25,2 milhões de contágios globais relatados no mundo desde dezembro.


Fiocruz também investiga reinfecções no Brasil


A Fiocruz também investiga casos de reinfecção pelo novo coronavírus no país.

Em nota, a entidade informou que, "através da parceria entre o CDTS/Fiocruz (Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde), o INI/Fiocruz (Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas) e o IOC/Fiocruz (Instituto Oswaldo Cruz), tem desenvolvido pesquisas em torno da reinfecção por Covid-19, ainda em andamento e sem dados conclusivos". "Assim que os resultados forem obtidos e publicados, de forma segura, a instituição irá divulgar os dados", diz o comunicado.


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