Em dez meses, oito cidades do Paraná deixaram de ter atendimento hospitalar para seus moradores. Levantamento feito pelo Portal Bonde mostra que a maior parte desses novos municípios sem hospitais está no Norte do Estado. São as cidades de Nossa Senhora das Graças, Paiçandu e Santo Inácio. Com isso, a população precisa de deslocar cada vez mais em direção a Londrina ou Maringá para conseguir internações e atendimentos mais complexos.
O jornal Folha de Londrina realizou, em julho de 2013, um levantamento com base no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do governo federal, que mostrava ausência de hospitais gerais em 125 dos 399 municípios do estado. Quase um ano depois, são 131 cidades sem estabelecimentos médicos com atendimento de maior complexidade. Além dos já mencionados municípios do Norte, também perderam hospitais Balsa Nova, Cafezal do Sul Nova Fátima, Moreira Sales, Mariópolis e Pitanga. De lá para cá, dois municípios ganharam hospitais: Itaúna do Sul, no Noroeste, e Santa Mariana, no Norte Pioneiro.
O pior cenário está em Almirante Tamandaré, na Grande Curitiba. Com 110 mil habitantes, é o maior município do Paraná sem atendimento hospitalar. Há, no máximo, um Centro de Atendimento de Pequenas Urgências e Emergências 24 horas. Anunciado pela a prefeitura como um "novo investimento", o estabelecimento apenas mudou de local – de um bairro para o centro da cidade. O detalhe curioso é que este Centro de Urgências está no prédio onde já funcionou um hospital.
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A população avalia que este estabelecimento e os postos de saúde suprem apenas algumas necessidades. A dona de casa Regiane Andrade Nascimento conta que no ano passado teve dificuldades na internação da sogra, que estava com problemas pulmonares e cardíacos. "Ficamos um dia inteiro atrás de atendimento até conseguir vaga em Curitiba". Ela reclama da faltam de UTIs, pediatras e maternidades em Almirante Tamandaré. Para a costureira Arlete Milinofre Cardoso, o que mais dificulta é a distância até Curitiba para ter atendimento. "Moro quatro quilômetros longe do posto de saúde mais próximo em Almirante Tamandaré e é ainda mais longe para chegar a Curitiba, ainda mais usando ônibus".
Problemas - A prefeitura do município disse, em nota, que a falta de recursos ocasiona a ausência de um hospital para atender à população. A administração pública local culpa os governos estadual e federal. "O que está ocorrendo é que os agentes públicos responsáveis pela área de saúde de média e alta complexidade não vêm cumprindo os deveres constitucionais de assegurar estes serviços causando ainda mais problemas aos municípios", diz a nota.
O superintendente de gestão de sistema de saúde da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (Sesa) Paulo Almeida diz que não se pode avaliar o estado na questão de quantidade de hospitais ou leitos, mas se esses leitos estão qualificados para atender à população. Historicamente, segundo Almeida, muitos consultórios do interior do Paraná aos poucos se transformaram em hospitais com menos de 50 leitos. "Muitos desses hospitais ficaram abandonados. Trabalhamos agora na reestruturação desses hospitais".
Almeida esclarece, entretanto, que não seriam hospitais gerais em todas as cidades pequenas ou médias, mas a Sesa tem a intenção de, por meio de melhorias em pequenos hospitais, torná-los referência nas áreas em que são mais especializados. "Isso tudo é discutido com secretários municipais de saúde. O Ministério da Saúde apóia a logística financeira e o Estado entra com políticas de apoio", explica.
Ainda na opinião de Almeida, o essencial é focar o atendimento na atenção básica e mudar a cultura da população que busca, na maioria das vezes, atendimento direto nos hospitais e não nas unidades básicas ou unidades de pronto atendimento.