Acompanhado por duas funcionárias e uma enfermeira de um posto de saúde da família localizado no bairro de Cajazeiras, periferia de Salvador, o médico cubano chega ao local de trabalho, no início da tarde. Está no carro de uma das funcionárias, voltando de visitas a pacientes da comunidade que atende. A "carona", conta ele, foi uma forma encontrada para economizar recursos - seus e do posto.
"Ela estava saindo para almoçar e perguntei se não poderia me levar até a casa de um morador - e me pegar na volta", diz o integrante do Programa Mais Médicos, que pediu para não ser identificado. "Fiz o que precisava e não gastamos com isso." Os 34 cubanos que trabalham pelo programa do governo federal em áreas periféricas de Salvador têm adotado diversas técnicas para reduzir os gastos - e assim fazer render mais o dinheiro que recebem pelo programa.
Um levantamento feito pela Secretaria de Saúde do município mostra, por exemplo, que praticamente todos eles estão morando em bairros periféricos, mais baratos e próximos dos locais de trabalho. A maioria ainda divide os aluguéis com colegas de posto ou com outros integrantes do programa que atuam em unidades de saúde próximas. Oito dos médicos seguem morando no alojamento disponibilizado pela Prefeitura, em Itapagipe, no Subúrbio Ferroviário. Segundo a secretaria, eles ainda não encontraram imóveis para fazer a mudança.
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O médico do posto de Cajazeiras mora a cerca de 10 quilômetros do local em que atua, em uma favela próxima do bairro de Itapuã, na orla da cidade, mas conta que basta uma viagem de ônibus para chegar ao posto. Ele divide o imóvel e as contas com outro médico cubano do programa - e diz que dois outros são seus vizinhos. De acordo com a Prefeitura, além dos vencimentos pela participação no programa, os médicos recebem R$ 1,6 mil mensais da administração municipal como ajuda de custo, para moradia, transporte e alimentação.
Apesar do desconforto, ele garante que estava preparado para lidar com esse padrão de vida quando resolveu vir ao Brasil para participar do programa. "Viemos para trabalhar em comunidades pobres, assim como já fizemos em outros países", diz o médico, que conta ter passado por experiências semelhantes em missões na América do Sul e na África.