Um sorriso no rosto mostra que a infância ainda é doce, um cavalinho de madeira e bolinhas de gude distrai uma criança que aguarda atendimento pediátrico. Essa é a primeira mensagem compreensível ao se aproximar do portão do Centro de Nutrição Infantil (CENNI), localizado em Foz do Iguaçu. As garantias fundamentais do parágrafo 5º da Constituição desde muito cedo lhe foram negadas. Travar uma batalha pela vida antes dos cinco anos de idade não parece algo muito justo, não, em se tratando de comida. O CENNI, instituição sem fins lucrativos é referência no tratamento às crianças de 0 a 5 anos com desnutrição e adolescentes com problemas de obesidade. A maioria das crianças chega ao programa após passarem por postos de saúde e hospitais.
A história da Luzia da Silva, 20 anos, moradora de Foz do Iguaçu é o retrato da desinformação. Grávida aos 19 anos e abandonada pelo namorado, Luzia só amamentou Maria Vitória por dois meses. Parou com a amamentação porque queria voltar a estudar, confessa. As conseqüências desse ato vieram logo depois, quando a filha, aos quatro meses desenvolveu uma alergia ao leite comum e começou a perder peso. Maria foi internada no CENNI aos quatro meses e hoje, faltando dois meses para o seu primeiro aniversário, a pequena Maria sequer engatinha, pesa 3,8 quilos quando deveria pesar pelo menos 8,5 quilos, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
"Estou muito arrependida do que fiz, se eu tivesse tido acesso as essas informações jamais teria parado de amamentar" desabafa Luzia que há oito meses vive uma rotina puxada. A mãe chega às 8hs no programa para a internação da filha e volta para casa, onde mora com os pais, às 18hs. Todo esse vai e vem é porque o CENNI não dispõe de internação noturna, pois o repasse da prefeitura não é o suficiente para a manutenção do programa em período integral. Para a nutricionista, faltam políticas públicas que visem melhorar a qualidade, tanto da estrutura, quanto do quadro médico do programa, tendo em vista a importância do trabalho da instituição para a comunidade iguaçuense.
Leia mais:
Famílias que ganham até R$ 1.200 por mês usam 82% dos recursos aplicados no SUS
Novo plano para combater câncer de colo do útero tem foco em rastreio e vacina
Brasil registra mais de 11 mil partos resultantes de violência sexual, diz pesquisa
Sesa reforça gratuidade dos serviços ofertados pelo SUS
Andriolo faz ainda um alerta para a importância do aleitamento materno: "crianças que não são amamentadas têm grandes chances de desenvolver alergias alimentares, hoje nosso maior caso de internação" lamenta. A alergia ocorre, na maioria das vezes, quando a mãe para de amamentar antes dos seis meses de vida do bebê e o substitui pelo leite de vaca. Nos primeiros meses de vida essa alergia faz a criança perder peso rapidamente e compromete todo o seu desenvolvimento.