Barriga negativa, 'thigh gap' (espaco entre as coxas) e outros padrões de beleza dos dias hoje são muitas vezes vistos como os maiores culpados pela propagação de distúrbios alimentares. No entanto, segundo o pesquisador Howard Steiger, da Universidade McGill (Montreal, Canadá), existem outros fatores determinantes para o aparecimento de quadros de bulimia e anorexia nervosa.
O professor esteve no 10º Congresso Internacional do Cérebro, Comportamento e Emoções, que começou dia 7 e se encerra no próximo dia 9 deste mês em Montreal, Canadá, e mostrou evidências de que agentes biológicos, psicológicos e ambientais são tão determinantes quanto os sociais para desencadear o problema.
Howard Steiger fala da importância da epigenética para analisar todos os fatores que levam pacientes a desenvolverem distúrbios alimentares. "Hoje em dia está cada vez mais comum culpar a epigenética quando não se tem uma resposta clara para alguma condição", afirma, "no entanto, nesse caso, foi possível avaliar que mães que passaram por momentos de estresse excessivo ou depressão durante a gravidez tiveram filhos mais propensos à obesidade e transtornos alimentares em geral", completou.
Leia mais:
Brasil mantém tendência de aumento de cobertura vacinal infantil, diz ministério
Famílias que ganham até R$ 1.200 por mês usam 82% dos recursos aplicados no SUS
Novo plano para combater câncer de colo do útero tem foco em rastreio e vacina
Brasil registra mais de 11 mil partos resultantes de violência sexual, diz pesquisa
Alem do período gestacional, situações de estresse e principalmente dietas restritivas mudam as atividades cerebrais e podem levar ao desenvolvimento desses transtornos. "Quem não faz dieta, não terá transtornos alimentares", destaca Steiger. Já pacientes que não foram expostos aos fatores também podem desenvolver transtornos alimentares caso fiquem constantemente em dietas restritivas.
A psiquiatra Melanie Pereira afirma que o tratamento mais comum para esses tipos de patologia é a terapia cognitiva comportamental. "A compulsão alimentar é como uma adicção, no entanto, diferente da dependência de drogas, não podemos falar em abstinência, daí a complexidade em tratar pacientes", explica.
Entenda a epigenética
Para explicar do que se trata a epigenética, o pesquisador exemplifica com um experimento feito com ratos. Crias que foram deixadas com as mães e tiveram atenção e carinho se tornaram animais mais calmos na fase adulta, o que não aconteceu com aqueles que foram tirados de perto da mãe ainda filhotes. Foi possível perceber uma mudança química no DNA, chamada de metilação, e que é herdada sem mudar a sequência original do código genético.
Enquanto os estudos genéticos revelam o mapa de genes, a epigenética evidencia a forma como esses genes se apresentam nos hábitos das pessoas. Os estudos mostram que esses hábitos causam efeitos que são transmitidos por gerações.