Os balcões de atendimento das farmácias paranaenses estão menores com as mudanças implantadas nos últimos meses pelas redes farmacêuticas no Estado. Atualmente, o próprio consumidor tem acesso aos medicamentos para tratamento de gripes e alívio de dores de cabeça e estômago espalhados por gôndolas de autoatendimento. A alteração na disposição dos produtos ocorreu após liminar da Justiça a favor das empresas, que derrubou a limitação imposta por uma resolução da Secretaria Estadual de Saúde (SESA). As farmácias alegam que a lei federal que regulamenta o funcionamento do setor foi atualizada pelo Congresso Nacional no ano passado e permite a prática nos estabelecimentos. Já o sindicato da categoria e a Secretaria Estadual da Saúde são contra as mudanças, pois facilitam a automedicação e podem colocar em risco a saúde do paciente que compram sem a orientação dos farmacêuticos.
O proprietário da rede Vale Verde, Rubens Augusto, argumenta que apenas os medicamentos classificados como isentos de prescrição ficam à disposição dos clientes, o que já ocorre nos Estados Unidos e em países europeus. Na Inglaterra, por exemplo, é possível encontrar o analgésico paracetamol nas prateleiras de supermercados. Apesar do acesso facilitado sem balcão, o empresário garantiu que o acompanhamento e orientação dos farmacêuticos continuam sendo realizados pelos profissionais para tirar dúvidas dos clientes. "Os medicamentos ficam separados por doenças e problemas de saúde, mas sempre o farmacêutico estará presente. Apenas produtos como analgésicos de primeira necessidade, vitaminas e suplementos sem contraindicações estão no setor de autoatendimento. Quem ganha com isso é o próprio cliente", opina.
Para ser classificado como um remédio sem tarja, Augusto lembrou que o medicamento precisa estar em circulação há pelo menos dez anos e passar pela análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que avalia o histórico do medicamento e se houve registro de ocorrências graves. "Cerca de 30 produtos aguardam a análise para comercialização sem tarjas", acrescenta.
Apesar do acesso fácil, a maioria dos consumidores ainda procura os farmacêuticos para esclarecimentos e orientações. A cozinheira Sueli Gravena diz que realiza compras frequentes em farmácias e prefere aguardar o atendimento dos profissionais da área. "Na dúvida é melhor esperar para conversar com o farmacêutico. Só quando a fila está muito grande e já conheço o medicamento que faço a compra diretamente", revela. Além das orientações sobre a utilização dos remédios, a corretora de imóveis Sandra Garcia afirma que o atendimento do farmacêutico também é importante para pesquisar os preços dos medicamentos, principalmente de uso contínuo. "No contato com o profissional é possível verificar se o produto tem desconto, o que pode gerar economia", comenta.
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Reações adversas
A presidente do Sindicato dos Farmacêuticos do Paraná, Lia Almeida, afirma que a entidade é contra as alterações na disposição dos medicamentos para facilitar o autoatendimento. De acordo com ela, o uso de remédios sem o acompanhamento médico e orientação dos farmacêuticos pode provocar intoxicação e reações alérgicas. "Ainda existe o risco de problemas provocados pela interação entre medicamentos. Pode até parecer um benefício para a população, mas o autoatendimento pode se tornar uma armadilha. O setor não deve pensar apenas na venda dos produtos", critica. Procurado pela Folha, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) confirmou que já recorreu da decisão da Justiça que derrubou a resolução que limita o autoatendimento nas farmácias paranaenses.