Referência regional para dengue e febre amarela, o Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi designado pelo Ministério da Saúde para fazer também o diagnóstico laboratorial de casos suspeitos de febre chikungunya inicialmente no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Comum na África e na Ásia, o vírus começou a se espalhar no Caribe em dezembro do ano passado e, desde então, vem causando epidemias na região. Em 17 de julho, autoridades dos Estados Unidos divulgaram o primeiro caso de transmissão da doença ocorrido no país.
A chefe do Laboratório de Flavivírus do IOC, Rita Nogueira, explica que o vírus tem capacidade de se disseminar rapidamente. Por isso, a detecção precoce dos casos é fundamental para conter o avanço da doença. A infecção é considerada de notificação compulsória no Brasil, o que torna obrigatório que os casos suspeitos sejam informados pelos serviços de saúde às autoridades para a adoção de medidas preventivas. Ainda não há transmissão autóctone no país e, até o momento, 20 casos importados foram registrados de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Em sete meses, 300 mil casos no Caribe
Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), até o dia 3 de julho, foram registrados 300 mil casos suspeitos da doença na região do Caribe, com epidemias na República Dominicana, Haiti, Martinica e Guadalupe, além de países da América Central. "O vírus já circula em áreas de fronteira brasileira, como Guiana, Guiana Francesa e Venezuela. Considerando que temos a presença de vetores capazes de transmitir a doença no país, podemos admitir que existe um risco importante", afirma a virologista, lembrando que um estudo coordenado pelo IOC, em parceria com o Instituto Pasteur, da França, mostrou que os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopicuts presentes no Brasil são altamente capazes de propagar a infecção.
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A transmissão da febre chikungunya ocorre quando mosquitos se alimentam do sangue de pessoas doentes, contraindo o vírus e, em seguida, picam outros indivíduos. "Na situação atual do Brasil, a vigilância é o fator mais importante. Logo que um caso é diagnosticado, medidas para combate aos vetores devem ser intensificadas na localidade de residência do paciente no sentido de interromper a transmissão do vírus. Se não for possível impedir a disseminação do chikungunya no Brasil, pelo menos podemos trabalhar para diminuir o impacto sobre a população", avalia Rita.
Fase de preparação
O interesse dos pesquisadores do Laboratório de Flavivírus do IOC pelo vírus chikungunya teve início em 2010, após a confirmação de um caso importado no país. Devido à similaridade em relação aos sintomas da dengue e de relatos na literatura médica sobre a coinfecção envolvendo dengue e chikungunya, o caso serviu como alerta para a equipe, que passou a acompanhar a disseminação da doença em outros países e buscou apoio de instituições internacionais para implantar os métodos de diagnóstico.
As técnicas moleculares para detectar o material genético do vírus em amostras de pacientes de casos suspeitos foram implantadas no laboratório ainda em 2012. Atualmente os pesquisadores contam também com métodos sorológicos – tanto os chamados testes ‘in house’, elaborados localmente, quanto kits comerciais para avaliação dos níveis de anticorpos IgM e IgG. "Esse tipo de preocupação precisa vir antes da epidemia. Sempre tivemos o compromisso de nos antecipar para conseguir realizar o diagnóstico das infecções que possam vir a acontecer no país no âmbito da abrangência do Laboratório", ressalta a pesquisadora.