A expressão "Ano Novo, vida nova" terá um significado especial para o corretor de imóveis Luiz Eduardo Viezzi, de 30 anos. Ele sobreviveu a um grave acidente de carro, teve a mão esquerda reimplantada após ter sido arrancada com a violência da batida e 12 dias depois já consegue mexer, mesmo que de leve, o dedão.
Internado no Hospital do Coração de Londrina, ele deve receber alta amanhã e já faz planos para 2016. "Vou me dedicar a recuperar os movimentos da mão. Vou me esforçar para voltar todos os movimentos", disse o corretor. A recuperação será lenta e o corretor deve ficar com sequelas.
A equipe de ortopedia do Hospital do Coração considera a cirurgia um sucesso pelo alto nível de complexidade do caso. A mão esquerda foi arrancada o que comprometeu as estruturas musculares e nervosas, tornando o procedimento de reimplante ainda mais complicado. O cirurgião traumatologista Alexandre Yoiti Aoyagui, que comandou a equipe cirúrgica, explicou que o primeiro passo foi estabelecer o fluxo sanguíneo. Para isso, os médicos retiraram duas veias safenas das pernas do corretor e fizeram quatro pontes de safenas.
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Depois foram reconstruídos os nervos e tendões. Os médicos utilizaram microscópio e equipamentos especiais para pinçar os vasos sanguíneos. "É uma cirurgia detalhada e específica e quando envolve implantação de veia de safena aumenta a complexidade", explicou Aoyagui. A cirurgia durou em torno de 11 horas.
Viezzi precisou de uma segunda cirurgia, realizada cinco dias depois, para colocação de um enxerto de pele. "A mão perdeu uma grande porção de pele, que deixou expostas veias importantes e que precisavam de uma cobertura", explicou o cirurgião. A pele foi retirada da coxa direita do paciente. Para este segundo procedimento foram mais sete horas de cirurgia.
Mas para ter a sua mão de volta, Viezzi contou com uma série de fatores que "conspiraram" a seu favor, como o atendimento rápido, não ter sofrido nenhuma outra lesão e a equipe médica conseguir chegar a tempo para realizar a cirurgia.
Aoyagui estava em São Paulo naquele dia. Ele trabalha no Hospital do Coração de segunda a quarta-feira e o acidente ocorreu em uma quinta-feira. "Consegui comprar uma passagem aérea assim que me avisaram", contou o médico. O acidente ocorreu por volta das 6 horas da manhã e às 15 horas Viezzi estava na sala de cirurgia. Também participaram do procedimento o microcirurgião Celso Hillackawa e o cirurgião plástico João Pedro Billo.
De acordo com Aoyagui, a avaliação médica é de que o corretor tem 90% de chances de não ter rejeição do membro. No entanto, tem um longo caminho pela frente. Ele teve fratura do punho e vai precisar aguardar a consolidação do osso para iniciar a fisioterapia. Uma terceira cirurgia não está descartada.
"Ele vai sentir muita dor no futuro. A musculatura deve ter uma recuperação melhor. Ele vai conseguir dobrar e esticar os dedos, mas sensibilidade e os movimentos finos ficarão restritos", explicou o médico. A estimativa é que ele recupere em torno de 80% dos movimentos da mão.
Em acidentes com amputação, os médicos orientam que o membro deve ser acondicionado em um saco plástico com soro fisiológico e colocado em um recipiente com gelo. O membro nunca deve ser colocado diretamente no gelo, pois isso queima os vasos sanguíneos e compromete a recuperação. O reimplante pode ser feito até 36 horas após a amputação.
O ACIDENTE -Os planos de Luiz Eduardo Viezzi e dois amigos de passar alguns dias na praia de Caiobá foram interrompidos no início da manhã do dia 17 de dezembro, quando a caminhonete em que eles estavam bateu em um caminhão, no trevo de acesso à Bratislava, na BR-369, em Cambé (Região Metropolitana de Londrina). Viezzi conta que eles estavam indo abastecer o veículo antes de pegar a estrada. "Eu estava distraído e quando vi tínhamos batido no caminhão. Na hora, a minha preocupação foi em ver como estavam os meus amigos. Só depois percebi que tinha perdido a mão. Saí do carro, tirei a camiseta e usei para estancar o sangue. Sentei no meio-fio e vi a mão no chão atrás da caminhonete", contou.
O socorro chegou rápido. "Não vi quem pegou a minha mão", disse. Quando chegou ao Hospital do Coração, a equipe de plantão do pronto-socorro colocou o membro no soro fisiológico e acondicionou em um recipiente com gelo para preservá-lo até a cirurgia.
"Bateu um desespero quando vi que tinha perdido a mão. Agora, o sentimento é diferente. Tento levar tudo na brincadeira dizendo que agora não posso mais participar da Paralimpíada", disse brincando. "Você vê um membro longe de você e de repente ele está ali de volta. É um milagre", disse, mexendo o dedão. "Já estava crente que ia viver sem a mão. Agora vou me dedicar para recuperar os movimentos. Acho que vai dar tudo certo. Os médicos fizeram um milagre", comemorou. Os amigos de Viezzi tiveram ferimentos leves. O motorista do caminhão saiu ileso.