A delegada do Núcleo de Repressão ao Crime Contra a Saúde (Nucrisa), Paula Brisola, entrega nesta segunda-feira ao Ministério Público do Paraná, em Curitiba, o inquérito policial sobre as mortes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico. No dia 19 de fevereiro, a chefe do setor, Virgínia Soares de Souza, foi presa sob a acusação de homicídio qualificado. Ela é suspeita de provocar a antecipação da morte de pacientes. O Ministério Público terá até cinco dias para oferecer a denúncia, pedir novas diligências ou arquivar o processo.
Já o advogado da médica, Elias Mattar Assad, vai entregar ao juiz Pedro Corat, da Vara de Inquéritos, um memorial com uma lista de erros, segundo Assad, ocorridos durante as investigações. "Este documento é um instrumento da defesa, em que mostramos alguns problemas ocorridos."
Entre essas falhas estão, segundo a defesa, interpretações erradas de frases gravadas na UTI, problemas de transcrições das interceptações telefônicas, além de falta de peritos nas análises relativas às questões médicas. "O que está se julgando não é apenas uma médica, mas sim a medicina. É a medicina que está no banco dos réus", disse o advogado.
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Acusada de antecipar a morte de pacientes, Virgínia também é suspeita de mandar desligar os aparelhos que mantinham o paciente Ivo Spitzner vivo. Em uma conversa interceptada, ela fala para uma pessoa não identificada: "O próximo que vamos desligar é o Ivo". O paciente morreu dois dias depois.
Segundo a defesa, o trecho da conversa está fora de contexto. O paciente, segundo Assad, havia sofrido uma descarga elétrica de alta tensão e precisou ter os braços e as pernas amputados, ficando apenas com o tronco, que também apresentava queimaduras graves. A morte de Spitzner era esperada, segundo a defesa de Virgínia. "Quando ela fala sobre ?desligar o aparelho?, se refere a uma situação na qual estava clara a falta de chances de sobrevivência", afirmou Assad.
Além do prontuário de Spitzner, também estão com a polícia os registros de Paulo José da Silva, Pedro Henrique Nascimento, André Luis Faustino e Luiz Antônio Propst, mortos entre os dias 24 e 28 de janeiro deste ano.
A investigação começou em março do ano passado, quando denúncias anônimas chegaram à Ouvidoria do Estado do Paraná, que as repassou ao Ministério Público. Além de Virgínia, estão presos os médicos Edson Alsemo, Anderson Freitas e Laís Groff e Maria Israelita Bocato.
"As denúncias foram caluniosas e a partir delas as outras foram feitas por inércia. Não há materialidade para existência de algum crime e, além disso, ao conversarmos com outros médicos intensivistas, algumas declarações mostram pessoas que não estão habituadas com as linguagens usadas em UTIs de todo o País", disse Assad. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.