A cena clássica de alguém sendo socorrido por meio da respiração boca a boca não deve mais ser vista a não ser em filmes antigos. Isto porque o socorro a quem sofre uma parada cardíaca vai mudar - o leigo deve esquecer a respiração boca a boca, sob pena de reduzir as chances de sobrevivência do paciente, e aplicar somente compressão durante procedimento de ressuscitação cardiopulmonar.
Segundo o cardiologista Manoel Canesin, coordenador do Centro de Treinamento em Emergências Cardiovasculares da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a compressão cardíaca deve ser feita (veja quadro) em ritmo rápido (cem por minuto), até que a chegada do suporte básico, que é o desfibrilador automático, chegue. Caso a pessoa esteja em local onde o equipamento não está disponível, as compressões devem acontecer até a chegada do suporte avançado, que é o atendimento médico de emergência, como o Samu.
''O leigo deve aplicar somente compressão a partir de agora. Essa é uma das maiores descobertas da emergência cardiovascular dos últimos tempos. Para médicos, a orientação é que a massagem deve ser prioridade, antes de se preocuparem com choque, medicamentos, etc'', afirma.
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A recomendação da Aliança Internacional dos Comitês de Ressuscitação (Ilcor, na sigla em inglês) tem por base estudos que apontam que a respiração boca a boca reduz as chances de sobrevivência de quem sofre uma parada cardíaca. A explicação para isso é que ao deixar de fazer a compressão, que mantém o fluxo sanguíneo, para fazer a respiração boca a boca, há uma recução desse fluxo, justamente quando o coração está parado e o organismo mais necessita que o sangue com oxigênio continue circulando. A nova diretriz será publicada nos principais periódicos internacionais de cardiologia em outubro de 2010.
Haverá mudanças também com relação ao uso do desfibrilador. A aplicação de choque pode ocorrer antes da massagem somente até cerca de quatro minutos após a parada do coração. Depois desse tempo, a compressão deve preceder o uso de desfibrilador. Isso porque, após esse período, há alterações metabólicas no organismo e o coração precisa ser preparado com a compressão antes de receber o choque.
Outra novidade, segundo Canesin, é uma recomendação da SBC de inserir o ensino de ressuscitação cardiopulmonar no currículo das universidades em cursos de todas as áreas. ''O leigo tem que estar treinado e nada melhor que na universidade, mas a ideia é que isso se estenda para todos os níveis de ensino. Sem o leigo é difícil sobreviver'', aponta. A estimativa é que a compressão aumente em 30% a 40% a chance de sobrevivência. Hoje, no Brasil, são cerca de 300 mil paradas cardíacas por ano, das quais 1% a 2% saem vivos. (com Folhapress)