O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) anunciou na quinta-feira, 26, a liberação dos primeiros R$ 2 milhões destinados a acelerar as pesquisas com fosfoetanolamina sintética, a polêmica substância desenvolvida no Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo, que ficou conhecida como "pílula do câncer".
O dinheiro faz parte de uma verba de R$ 10 milhões que será destinada até 2017 a três centros de pesquisa, responsáveis por testar a eficácia e a segurança da substância em ratos e camundongos.
O ministério solicitou 500 gramas de fosfoetanolamina à USP para serem encaminhadas aos laboratórios. A expectativa da pasta é que essa primeira fase de testes, chamada de ensaios pré-clínicos, dure "ao menos sete meses".
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Os laboratórios que participarão da pesquisa são o Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), de Florianópolis; o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), de Fortaleza, ligado à Universidade Federal do Ceará; e o Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (LassBio), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O ministério planeja investir R$ 10 milhões no estudo da fosfoetanolamina até 2017 - desde que esses resultados iniciais justifiquem a continuidade da pesquisa. "O que nós queremos mostrar para a população brasileira, principalmente as famílias que possuem doentes, é que o MCTI está agindo com rigor, mas também com muita agilidade, porque existe uma comoção nacional, existe um anseio das famílias por uma resposta", diz o ministro Celso Pansera, em um comunicado da pasta.
A fosfoetanolamina sintética foi desenvolvida nos anos 1990 pelo químico e professor do IQSC Gilberto Chierice, hoje aposentado. Acreditando ter achado uma cura para o câncer, ele distribuiu pílulas da substância gratuitamente para pacientes durante anos, sem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), até que o IQSC determinou a interrupção da produção, em 2014.
Base científica
Alguns estudos chegaram a ser publicados, mostrando uma ação antitumoral da substância em células in vitro e em camundongos. Mas muito longe, ainda, de comprovar a eficácia ou a segurança da fosfoetanolamina como uma droga anticâncer, segundo o bioquímico Adilson Kleber Ferreira, responsável pela maior parte dos experimentos.
"Os dados indicam que a fosfoetanolamina é um candidato a fármaco; mas é tudo preliminar", disse Ferreira. "Nenhum dos dados justifica a aplicação clínica." Hoje no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, ele foi orientado nas pesquisas pelo imunologista Durvanei Maria, do Instituto Butantã. Chierice é coautor dos trabalhos.
Ferreira diz que sempre foi contra a distribuição da substância e a segurança da molécula não está comprovada. "Não há relatos de efeitos nocivos, mas isso não é comprovação de que ela não é nociva. Há muito a ser respondido."
"Pode até ser que tenha algum efeito, mas não espero que seja uma molécula milagrosa. O que mais preocupa é a segurança", diz o especialista João Calixto, diretor do CIEnP.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.