O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Francisco Inácio Bastos afirmou nesta quinta-feira (21) que a situação da mulher usuária de crack é ainda mais vulnerável do que a do homem usuário da droga. Em audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, ele apresentou resultados do estudo "Estimativa do número de usuários de crack e/ou similares nas capitais do País", encomendado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) à Fiocruz e divulgado em setembro.
A pesquisa mostrou que os usuários regulares de crack ou de formas similares de cocaína fumada (pasta-base, merla e oxi) somam 370 mil pessoas nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. A pesquisa também traçou o perfil dos usuários: homens (78,7%), com idade média de 30 anos e em situação de rua (47,3%).
De acordo com o pesquisador, a mulher que usa crack encontra-se em situação ainda mais vulnerável porque muitas vezes sofre violência sexual durante o uso e troca sexo por droga. Segundo ele, a pesquisa mostra que muitas usuárias inclusive ficaram grávidas no período de uso.
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Ações multilaterais
Bastos enfatizou que o usuário do crack, de forma geral, consome diversas drogas, sendo o crack a mais potente delas. Segundo ele, o uso do crack tem aumentado, e o de drogas injetáveis, diminuído. "Houve uma migração do uso de cocaína injetável para o crack", explicou. "Trata-se de uma droga barata e impura, o que traz uma série de problemas extras de saúde", complementou.
O pesquisador da Fiocruz ressaltou ainda que o crack é utilizado sobretudo em ambientes públicos, por uma população extremamente carente. Segundo ele, como é usado em grande parte por uma população que vive na rua, isso significa que são pessoas que procuram pouco os serviços públicos de saúde. Para lidar com o problema, ele disse que são necessárias ações multilaterais, nas áreas de saúde, de educação, de segurança pública e de política social.