O Governo do Paraná vai fornecer 10 mil frascos de soro antiloxoscélico (contra o veneno de aranha-marrom) ao Ministério da Saúde. No início de junho, já foram enviados 4,6 mil frascos e até o final de 2015 serão entregues os restantes. O soro antiloxoscélico é produzido pelo Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI), ligado à Secretaria de Estado da Saúde, o único laboratório do País responsável por essa produção.
"O Paraná tem profissionais com importante acumulado técnico na área de pesquisa e produção de imunobiológicos. O trabalho dessas pessoas no CPPI nos torna referência nacional", explica a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual da Saúde, Eliane Chomatas.
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O soro já entregue ao Ministério da Saúde passará por um novo processo de análise da qualidade, e só posteriormente deve ser liberado para o consumo humano. "O soro só estará disponível para o uso geral após ser submetido a novas etapas de controle de qualidade, ainda a serem realizadas no Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS). Apesar de passar por um rigoroso processo de controle de qualidade no CPPI, o procedimento é repetido para que se tenha plena convicção de que o material pode ser usado em humanos", explica o diretor do CPPI, Sérvio Túlio Stighen.
SORO – O Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos produz um soro trivalente para picadas de aranha marrom, ou seja, combate o veneno de três espécies diferentes do gênero loxosceles. No entanto, há considerável dificuldade para se obter o veneno usado na produção. O processo todo, entre a coleta do veneno e a produção do plasma, leva em média oito meses para ser finalizado. "Como as aranhas são pequenas, o que se consegue de veneno é pouco. São necessárias centenas de exemplares para se produzir o soro", comenta o diretor do CPPI.
Posteriormente ao processo de análise de qualidade realizado pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, o Ministério da Saúde irá distribuir as cotas de antivenenos aos Estados, levando em consideração critérios epidemiológicos, que são as notificações de acidentes registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Segundo o CPPI, a maior parte do soro entregue ao Ministério da Saúde deve permanecer na região Sul. "Isso ocorre devido à prevalência do aracnídeo e ao alto índice de acidentes com aranhas na região", comenta Stinghen.
Os antivenenos, utilizados de forma adequada, são a forma mais eficaz de neutralização da picada da aranha. Para tanto, é de fundamental importância a disponibilização desses soros em quantidade suficiente e em locais estratégicos para reduzir o tempo entre o acidente e o atendimento médico adequado.
No Paraná, somente em 2014, foram registrados 4.220 casos de acidentes com a aranha-marrom. A região com maior número de picadas foi a Metropolitana de Curitiba, com 2.020 notificações.
PRODUÇÃO – A produção do soro antiloxoscélico acontece em parceria com a Fundação Ezequiel Diaz (Funed), de Minas Gerais. No processo compartilhado, o CPPI é responsável pela produção do plasma do antiveneno e durante toda produção são realizados testes de qualidade. Depois disso, o material resultante é encaminhado para a Funde, em Minas Gerais, onde o plasma é processado. Ao final desta etapa, o produto final é então encaminhado para o Instituto Butantan, responsável pelo envase do soro para a posterior distribuição.
ARANHA – Quatro espécies de aranha-marrom são encontradas no Paraná (Loxosceles gaucho, L. intermedia, L. laeta e L. hirsuta), sendo que a L. intermedia está bem adaptada ao cenário intradomiciliar. No Estado, o aracnídeo é encontrado com maior frequência em Curitiba e RMC, nas regiões de Irati, Ponta Grossa, Guarapuava, União da Vitória, Pato Branco e Jacarezinho. É importante lembrar que este gênero de aranha ocorre em vários países do mundo.
As teias produzidas pela aranha marrom são irregulares, com aparência de algodão esfiapado. Sua dieta é baseada em pequenos animais como o tatuzinho e principalmente insetos, como formigas, pulgas, traças e preferencialmente cupins.
ACIDENTES – O gênero Loxosceles possui hábitos noturnos, quando saem à caça de seus alimentos, e é nesse momento que podem se esconder em roupas, toalhas, roupas de cama e calçados. Por esse motivo, é preciso sempre prestar muita atenção antes de calçar os sapatos e vestir roupas.
No ato da picada, na maioria das vezes não há dor. Mas depois de cerca de 12 horas ocorre um inchaço na região afetada e febre. Com o avanço, e sem tratamento, o veneno pode causar necrose do tecido atingido, falência renal e até mesmo a morte.
As alterações locais mais comuns são dor e ardência, vermelhidão, mancha roxa, inchaço, bolhas, coceira e endurecimento da pele. Outras alterações podem ocorrer dias após o acidente, como necrose, dor de cabeça, mal-estar geral, náusea r dores pelo corpo.
Caso ocorra algum acidente com o aracnídeo, a vítima deve procurar o quanto antes a Unidade de Saúde mais próxima. Se possível, levar a aranha causadora do acidente para tornar o diagnóstico mais rápido.