Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade
IOC e Fiocruz

Pesquisa aponta relação entre Chagas e depressão

Agência Brasil
29 mai 2013 às 09:16

Compartilhar notícia

- Divulgação
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

Receber o diagnóstico de uma enfermidade como a doença de Chagas pode causar mudanças na rotina, nos planos e até no estado de espírito dos pacientes, causando apatia e tristezas nos anos subsequentes ao diagnóstico da enfermidade?

Essas e outras perguntas relacionadas à doença começam a ser respondidas por pesquisadores da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que desenvolveram estudo inédito identificando linhagens do protozoário Trypanosoma cruzi (causador da doença de Chagas), circulantes no Brasil, tipos I e II, podem sim provocar desequilíbrio neuroquímico no paciente, resultando em associação biológica entre a doença e o quadro depressivo.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


A constatação foi feita a partir do Laboratório de Biologia das Interações da Fiocruz, onde a equipe liderada pela pesquisadora Joseli Lannes identificou que o protozoário causador da doença pode desencadear uma desordem imunológica e neuroquímica associada ao quadro depressivo entre os pacientes.

Leia mais:

Imagem de destaque
Análise

Opas se preocupa com aumento de casos de dengue, oropouche e gripe aviária nas Américas

Imagem de destaque
Está sob cuidados

Presidente Lula fará procedimento endovascular nesta quinta

Imagem de destaque
Ministro da comunicação

Pimenta diz não ver necessidade por ora de afastamento de Lula da Presidência após cirurgia

Imagem de destaque
Balanço semanal

Com 1.176 casos de dengue, regional de Londrina lidera registros de dengue no Paraná


A partir do estudo, a equipe de pesquisadores da Fiocruz concluiu que a mudança de comportamento registrada nos portadores da doença se dá "a partir da incerteza do destino e do elevado percentual de incurabilidade da doença, agravados pelo baixo nível socioeconômico predominante entre os portadores da enfermidade".

Publicidade


Publicado na revista científica de referência Brain, Behavior and Immunity, o estudo, cuja autora principal é Glaucia Vilar-Pereira, derruba de certa forma a tese predominante até então na literatura médica de que o transtorno recorrente entre pacientes crônicos – e que levava à depressão – era motivado por fatores psicológicos. O estudo sugere, ainda, um tratamento combinado à base de drogas já disponíveis no mercado: benzonidazol e pentoxifilina.


Segundo a Fiocruz, a ideia que deu origem à pesquisa surgiu quando Joseli Lannes realizava experimentos sobre danos cardíacos com camundongos e, ao longo do estudo, notou que alguns dos animais eram mais apáticos.

Publicidade


Na avaliação de Joseli uma marca inconfundível da depressão é a desistência do paciente - neste caso, do animal. "Para identificar o que estava acontecendo, utilizamos dois grupos de camundongos. Cada grupo foi infectado com cepas tipo I e tipo II de Tripanosoma cruzi. Constatamos que só o primeiro grupo apresentava imobilidade e desistência quando submetido a testes".


Para a pesquisadora, esse "era um sinal preliminar de que a depressão, na doença de Chagas, poderia não ser um processo psicossomático. Afinal, o animal não tem consciência da doença ou de sua condição social. Os dados indicariam, enfim, que o processo não é associado ao sickness behavior mas, de fato, à depressão", esclarece.

Publicidade


A cepa tipo I é encontrada em todo o Brasil, com maior incidência nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Estima-se que existam dois milhões de portadores da doença de Chagas no país.


Em busca dos biomarcadores que justificassem o comportamento apático dos camundongos, a equipe identificou que os níveis da enzima IDO, que compromete a síntese de serotonina – o neurotransmissor associado à satisfação e à felicidade – estavam acima do normal nos animais incluídos no experimento.

Publicidade


Para Joseli, isso acontece porque a presença do parasito no organismo, ainda que reduzida na fase crônica da doença, induz à expressão da enzima IDO no sistema nervoso central. "Essa enzima degrada o triptofano, aminoácido substrato para a produção da serotonina, reduzindo, assim, os níveis deste neurotransmissor", explicou.


Os pesquisadores trataram os camundongos com uma combinação de benzonidazol, quimioterápico utilizado contra o parasito, e fluoxetina, antidepressivo que aumenta a disponibilidade da serotonina no cérebro. Os resultados foram satisfatórios, mas a melhora significativa dos animais ainda não convenceu a equipe.

Publicidade


"Sabemos que 30% da população mundial não responde à fluoxetina, principalmente pacientes com câncer e doenças autoimunes. Isso ocorre porque nem toda depressão é causada apenas por desordens químicas envolvendo a serotonina. A resposta imunológica à doença também participa deste processo", esclarece.


Os pesquisadores partiram, então, para a análise dos níveis de fator de necrose tumoral (TNF) nos camundongos. Trata-se de uma citocina produzida pelo sistema imunológico durante infecções por parasitas e na presença de tumores, associada a inflamações sistêmicas e alterações de comportamento, como a anorexia.

Publicidade


A resposta aos experimentos que se sucederam foi positiva, o que possibilitou à equipe confirmar que o quadro depressivo, na doença de Chagas, é resultado de um complexo circuito imunológico que interfere de forma contundente no sistema nervoso central, tendo como agente deflagrador o próprio parasito Trypanosoma cruzi.


"Muitas doenças inflamatórias crônicas, tais como artrite reumatoide, também são associadas à depressão e muitos pacientes não respondem a antidepressivos comuns. Nossos achados transcendem a doença de Chagas, pois acreditamos que a pentoxifilina possa ser usada de forma muito mais ampla, estendendo os benefícios a pacientes de diversos agravos", enfatizou Joseli.


O próximo passo será estender o experimento aos seres humanos. Em breve, uma parceria entre o Laboratório de Biologia das Interações do IOC e o Ambulatório de Referência em Doença de Chagas - coordenado por Wilson Oliveira Junior e vinculado ao Pronto-Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco (Procape), da Universidade de Pernambuco (UPE) – possibilitará a realização de uma pesquisa clínica para investigar o uso da terapia sugerida pela equipe liderada por Joseli.


A proposta é realizar um estudo com a participação de psicólogos e cardiologistas, com duração prevista de dois anos, para só então testar as intervenções terapêuticas sugeridas pela equipe do IOC.


Para a especialista, se comprovada a eficácia, o protocolo sugerido poderá ser implementado nas unidades de saúde sem demora, uma vez que o benzonidazol, a pentoxifilina e a fluoxetina já estão aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disponíveis no mercado.

A Fiocruz esclareceu, ainda, que o estudo contou com a colaboração do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC, bem como de pesquisadores do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Laboratório de Farmacologia da Neuroplasticidade e do Comportamento, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade
LONDRINA Previsão do Tempo