Uma córnea transplantada é uma preciosidade e deve ser tratada com este valor. O olho de um transplantado é mais frágil e é necessário ter consciência disso, atender a agenda de revisões médicas, a aplicação dos medicamentos e observar os cuidados indicados. De acordo com o último relatório do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), em 2008, o transplante de córnea respondeu por quase 75% de todos os transplantes realizados no País.
No Distrito Federal, a Sociedade Brasiliense de Oftalmologia, divulgou esta semana que foram realizados 147 cirurgias para cada um milhão de habitantes no primeiro trimestre deste ano, posicionando a capital do País em primeiro lugar no ranking nacional de transplantes de córnea.
A recuperação é lenta
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O processo de recuperação de um transplante de córnea é lento e passar por este período sem problemas requer paciência, observa o oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), Patrick Tzelikis, especializado em transplantes.
Um transplante de córnea implica em pelo menos um ano de visitas periódicas ao oftalmologista para acompanhar a adequação do organismo ao novo tecido que passa a integrá-lo, diz o médico. Trata-se da substituição de um tecido com anormalidades estruturais que impedem a formação adequada da imagem, por uma córnea saudável. É um processo que envolve um receptor e um doador, pois as córneas transplantadas são naturais.
Diagnóstico
A substituição da córnea é indicada quando há alguma lesão ou doença que afete a integridade ou a curvatura da córnea comprometendo, dessa maneira, a visão de uma pessoa. A principal alteração na córnea que exige a realização de um transplante é o ceratocone - uma anomalia na qual a córnea sofre mudanças em sua estrutura, tornando-se mais fina e obtendo o formato de cone. Essa irregularidade interfere na curvatura do olho, aumenta o astigmatismo e, consequentemente, distorce muito a imagem.
Para os portadores de ceratocone que não conseguem melhorar a qualidade e a quantidade de visão por meio de tratamentos com óculos, lentes de contato, anel de Ferrara ou crosslink, a indicação é o transplante. Em torno de 20% dos portadores de ceratocone são indicados para transplante de córnea, calcula Tzelikis.
Atualmente, avalia o médico, 80% das indicações de transplante de córnea são feitas para portadores de ceratocone. "O transplante só não é recomendado para quem não tem potencial bom de visão. Conforme o caso, não vale a pena realizá-la, nem fazer a pessoa passar pelo sacrifício do pós-operatório", assinala.
Além do ceratocone outras distrofias genéticas levam à indicação de transplante. Estão nesta relação, por exemplo, casos em que uma camada mais profunda da córnea, o endotélio, apresenta problemas à visão. Esses casos, geralmente, se manifestam após os 50 anos de idade.
A cirurgia
A cirurgia de transplante de córnea é realizada em torno de uma hora, mas os cuidados que o paciente precisa ter no pós-operatório exigem atenção por cerca de um ano e devem ser rigorosamente observadas para o sucesso do procedimento. O primeiro ano pós-transplante é o período em que o paciente está mais suscetível a encontrar dificuldades na recuperação. Nesse período, avisa o médico, o paciente vai percebendo melhoras, mas é comum notar variações. "Um dia enxerga melhor, outro pior, mas não é necessário deixar de fazer as atividades. Apenas é indicado evitar esportes de contato como futebol", diz.
As avaliações devem ser cumpridas rigorosamente. No primeiro mês do pós-operatório, são semanais. A partir do segundo mês, passam a ser mensais. De acordo com a recuperação, passam a ser trimestrais, semestrais e, depois anuais, quando todos os pontos estiverem removidos. "São cerca de 16 pontos e, às vezes, demora um ano, período que exige acompanhamento médico", observa.
Infecção e rejeição
De acordo com Patrick, um dos maiores riscos a que está sujeito um paciente com córnea transplantada é o de infecção e rejeição, em razão de ter recebido um novo órgão. Os cuidados no pós-operatório, vão além das visitas médicas para avaliação. O transplantado deve, por exemplo, usar óculos de proteção para atividades do dia-a-dia, aplicar colírio de corticóide conforme indicação médica, ter muita atenção com a higiene, evitar levar as mãos aos olhos, nunca coçar os olhos, este hábito pode romper os pontos.
Diante de um diagnóstico de necessidade de transplante de córnea, o paciente deve:
1) Solicitar ao médico a indicação sobre onde encontrará o formulário para se inscrever no banco de olhos como receptor;
2) Preenchido o formulário em instituição credenciada e assinado por médico também credenciado, o paciente deve levar o documento ao banco de olhos de seu estado e inscrever-se como candidato a receptor de córnea. A fila é única para cada Estado.
3) Uma vez inscrito e integrante da fila, o paciente tem que aguardar o banco de olhos avisar ao hospital ou instituição de saúde que encaminhou a solicitação. Esta instituição é que irá avisar o paciente quando chegar a sua vez de realizar o transplante por disponibilidade de córnea.
Patrick Tzelikis comenta que atualmente, os meios de preservação de órgãos, como córneas, permitem uma espera de até 10 dias para a realização do transplante. "É importante para o caso do receptor estar impossibilitado de receber a córnea por alguma razão na data em que recebe o aviso", conclui.