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Vacinação contra Covid só atingiu um terço das pessoas nos grupos prioritários, diz estudo

15 mar 2021 às 10:51


O Brasil só conseguiu vacinar até agora um terço das pessoas que integram grupos classificados como prioritários para a vacinação contra a Covid-19 e que já foram chamados para tomar a primeira dose, segundo um estudo feito por pesquisadores com base em dados do Ministério da Saúde.

Ligados à Rede de Pesquisa Solidária, os especialistas calculam que 32% dos integrantes desses segmentos da população já receberam a primeira aplicação, e somente 10% a segunda, considerados os registros compilados pelo ministério nos primeiros 49 dias da vacinação, até o último dia 6.


Os dados mostram que apenas 56% dos profissionais de saúde, 54% das pessoas com mais de 80 anos de idade e 55% dos indígenas conseguiram receber a primeira dose até agora, embora todos nesses grupos tenham lugar garantido na frente da fila desde o começo da vacinação, em janeiro.


Em segmentos que foram classificados como prioritários desde o início, mas só recentemente foram chamados para tomar a vacina, a cobertura ainda é reduzida. Somente 12% dos brasileiros entre 75 e 79 anos e 3% dos que têm entre 70 e 74 anos receberam a primeira aplicação até o início deste mês.


"Falta vacina, mas falta também organização", diz o professor Guilherme Loureiro Werneck, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Temos dificuldades para alcançar até mesmo grupos que são relativamente pequenos numericamente".


O estudo considerou 9 grupos que já foram chamados para a vacinação, de um total de 29 inicialmente classificados como prioritários pelas autoridades. Novos segmentos foram incluídos na lista desde o início do ano, aumentando de 49 milhões para 77 milhões o número de pessoas com preferência, pouco mais de um terço da população do país.


Os grupos que já podem tomar a vacina, que reúnem cerca de 22 milhões de pessoas, são considerados mais vulneráveis ao coronavírus por causa da idade e de outros fatores, ou por estarem muito expostos a riscos, como médicos e enfermeiros que trabalham no enfrentamento da pandemia.


Parte do problema é a inconsistência dos critérios para estabelecer prioridades, dizem os pesquisadores. Embora todos os profissionais da saúde possam entrar na fila, a insuficiência de vacinas tem levado prefeituras e governos estaduais a vacinar primeiro os mais velhos ou que estão na linha de frente.


O levantamento também aponta grande desigualdade regional nos resultados alcançados até aqui. Quase dois terços das pessoas com mais de 80 anos de idade já receberam a primeira dose no Norte e no Centro-Oeste. No Nordeste e no Sul, a cobertura ainda é inferior à metade do grupo populacional.


Até a primeira semana de março, o Ministério da Saúde distribuiu 18 milhões de doses de dois imunizantes, desenvolvidos pela AstraZeneca e pela Sinovac, que começaram a ser produzidos pela Fundação Oswaldo Cruz e pelo Instituto Butantan no Brasil, com matéria-prima importada da China, respectivamente.


O Ministério da Saúde já anunciou outros 183 milhões de doses para os próximos meses, incluindo as que serão fabricadas pelos dois institutos públicos e as que poderão ser importadas de outros laboratórios, alguns ainda em negociação com o governo. As previsões têm sido revistas com frequência.


Nos cálculos dos pesquisadores, isso seria mais do que suficiente para aplicar duas doses nos 77 milhões de pessoas dos grupos considerados mais vulneráveis, mas não para atingir o grau de cobertura que seria necessário para proteger o conjunto da população em idade adulta contra a Covid.


Considerando a eficácia das vacinas que já foram aprovadas para distribuição no país, os especialistas calculam que seria necessário vacinar 70% da população para alcançar esse nível de segurança, o que exigiria cerca de 320 milhões de doses, ou seja, muito mais do que o governo prevê conseguir.


"Teremos mais vacinas nos próximos meses, mas não conseguiremos alcançar a cobertura necessária com rapidez se continuarmos fazendo as coisas sem coordenação", afirma Werneck, que trabalhou no levantamento com Ligia Bahia, da UFRJ, e Mário Scheffer, da Universidade de São Paulo (USP).


Mesmo que a vacinação demore a atingir cobertura mais ampla, a imunização dos grupos mais vulneráveis tende a contribuir para reduzir de forma expressiva os casos mais graves da doença e a necessidade de internação para tratamento, aliviando a pressão que os hospitais sofrem atualmente.


Além da aceleração dos esforços para aquisição de vacinas, o grupo sugere a criação de mecanismos de coordenação, incluindo um comitê técnico para rever o Plano Nacional de Imunização, composto por representantes indicados pelos três Poderes, pela comunidade científica e pela sociedade civil.


Os pesquisadores propõem a fixação de metas de cobertura para imunização dos grupos definidos como prioritários, de no mínimo 90%, e sugerem que novas etapas da campanha de vacinação sejam iniciadas somente depois que a cobertura dos grupos chamados primeiro atingir o mínimo de 70%.

Eles também defendem a ampliação dos horários de atendimento da população e campanhas publicitárias nos meios de comunicação e na internet. "A falta de vacinas interrompe o processo de imunização da população e gera descrédito", diz Werneck. "A comunicação pode ajudar a conter esse efeito."


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