Vinte dias após o primeiro paciente receber o diagnóstico de Covid-19 no Brasil, o país contabiliza 291 casos confirmados da doença causada pelo novo coronavírus. Para comparação, no 20º dia após seus primeiros casos, Itália e Espanha tinham, respectivamente, 3 e 2 diagnósticos confirmados.
Especula-se que, por falhas em hospital de Milão, o salto da Itália foi rápido. Em 23 dias já eram 155 casos e três mortes; entre o 29º e o 30º dias, a epidemia explodiu e foram registrados mais de mil casos e 29 mortes. Hoje já há mais de 31 mil pessoas com Covid-19.
Já a Espanha tem mais de 11 mil infecções confirmadas.
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O Irã, por outro lado, já tinha 8.000 confirmações no seu 20º dia, mas, diferentemente dos países europeus, só dobrou esse número -hoje tem um total de mais de 16 mil.
Já a China ainda nem tinha uma quantificação oficial do surto 20 dias após o primeiro caso. Cientistas estimam que a primeira pessoa a contrair o Sars-Cov-2 (nome oficial do patógeno) tenha se infectado no final de novembro de 2019. O vírus foi identificado somente no dia 7 de janeiro, e só após o dia 21 de janeiro, quando havia mais de 500 casos, é que os dados chineses começaram a ser sistematicamente disponibilizados.
Singapura e Coreia do Sul, exemplos positivos de como lidar com o coronavírus, não tinham tão poucos pacientes quanto os países europeus no 20º dia – 58 e 28, respectivamente –, mas já adotavam medidas para conter a doença.
Singapura, em seu 20º dia, 12 de fevereiro, tinha um dos maiores números de infectados fora da China (que já somava na data quase 60 mil casos). O número relativamente alto se devia ao programa de testes, que diagnosticou pessoas com sintomas leves. A proibição à entrada de pessoas que passaram pela China aconteceu em 3 de fevereiro e a de quem tivesse passado pela Coreia do Sul veio depois, em 26 de fevereiro.
Da mesma forma, a Coreia do Sul testou o máximo possível de indivíduos suspeitos ou com relação com pessoas infectadas e se tornou referência para o mundo por seu modo de lidar com a epidemia. Em seu 20º dia de epidemia, em 10 de fevereiro, o estágio de alerta era intermediário. Testes diagnósticos já eram distribuídos para postos de todo o país e todos os viajantes provenientes da China passaram a ser monitorados.
Depois de um pico no número de casos na Coreia do Sul (provavelmente causado por uma única pessoa que não foi adequadamente isolada e infectou centenas em uma igreja), o alerta subiu e a intensidade da resposta também. Os indivíduos suspeitos passaram a ser monitorados, e os testes ganharam escala. Em 53 dias, o país de 51 milhões de habitantes já acumulou mais de 250 mil testes realizados.
No Brasil, que tem 209 milhões de habitantes, o número de testes realizados (entre suspeitos, confirmados e descartados) até esta terça (17) é de cerca de 11 mil, segundo o Ministério da Saúde. O teste tem sido feito apenas em pacientes mais graves.
A Fiocruz está aumentando a produção de kits diagnósticos para suprir a necessidade do sistema público do país.
Até agora, cerca de 20 mil kits foram disponibilizados. O Ministério da Saúde disse que avaliaria a sugestão da OMS (Organização Mundial da Saúde) de ampliar a testagem, apesar do custo – cada exame custa mais de R$ 100 – e da necessidade de importação dos insumos. O setor privado também aumenta sua produção.
Um artigo publicado nesta semana na revista médica Jama argumenta que países de renda baixa e média (categoria na qual está o Brasil) podem ter maiores dificuldades para lidar com a pandemia.
A recomendação é que o diagnóstico clínico seja feito caso testes moleculares não sejam possíveis. Outra preocupação é manter altos os estoques de medicamentos e outros itens necessários em internações, como respiradores.
Os EUA também tinham menos casos que o Brasil em seu 20º dia –apenas 13–, mas o baixo número de testes pode ajudar a explicar. Desde que começaram a circular as primeiras notícias sobre o vírus, no fim de janeiro, americanos encontram dificuldade para fazer o exame em diversas cidades do país. As autoridades de saúde têm priorizado até agora pessoas que com os principais sintomas (febre e tosse seca) e que estiveram em contato direto com pacientes com diagnóstico.
Os problemas vão desde escassez no número de testes e material disponíveis até a morosidade dos protocolos.
Nenhum outro país, porém, teve um início de surto tão ruim quanto o Irã, que anunciou duas mortes já no primeiro dia de epidemia. A falta de estrutura do sistema de saúde e até de material estão na raiz do problema. O país não impôs quarentenas e as autoridades de saúde têm entrado em conflito com as religiosas.
Até agora, o governo brasileiro Brasil não adotou medidas muito drásticas – o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou nesta terça-feira (17) que vai fechar a fronteira do Brasil apenas com a Venezuela. Além disso, o isolamento para viajantes, de sete dias, só é recomendado para pessoas com diagnóstico confirmado e contatos próximos.