A Agência FAPESP divulgou nesta semana as conclusões de um estudo sobre os efeitos da maconha. Segundo o estudo, realizado por 12 anos na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, a maconha não seria a "porta de entrada" que leva ao uso de outras drogas. O pressuposto que acaba de ser refutado pela pesquisa tem sido a base das políticas de prevenção utilizadas naquele país por mais de 60 anos.
Os pesquisadores acompanharam 214 jovens que tinham, no início da pesquisa, entre 10 e 12 anos e eram usuários de drogas legais ou ilegais. Quando chegavam aos 22 anos, os jovens eram divididos em três categorias: os que usavam apenas álcool e tabaco, os que começavam com álcool e tabaco e depois usavam maconha e os que usavam maconha antes do álcool ou tabaco.
Dos indivíduos que usaram ao mesmo tempo drogas legais e ilegais em algum período, 28 exibiram o padrão de uso de marijuana antes do álcool e tabaco. De acordo com os pesquisadores, esses jovens não desenvolveram maior tendência ao abuso de drogas do que os que seguiram a sucessão tradicional de álcool e tabaco antes das drogas ilegais. O estudo será publicado na edição de dezembro do The American Journal of Psychiatry.
"Tanto o padrão do uso de maconha antes das outras drogas quanto o padrão contrário têm a mesma eficiência para se prever o futuro abuso de drogas", disse o orientador do estudo, Ralph Tarter, da Escola de Farmácia da Universidade de Pittsburgh.
Ainda de acordo com informações a Agência FAPESP, os pesquisadores também procuraram identificar características que distinguiam os usuários de ambos os padrões. Das 35 variáveis observadas, apenas três apresentaram fatores diferenciais: os usuários que começaram com maconha antes de outras drogas tinham maior tendência a ter vivido em ambientes pobres, maior exposição às drogas na vizinhança e menor envolvimento com os pais.
Enquanto a teoria da "porta de entrada" supõe que cada tipo de droga esteja associada a um determinado fator de risco de futuro uso de outras drogas, a pesquisa indica que aspectos do ambiente têm influência mais forte do que o tipo de substância utilizada.
"Os programas de prevenção e as políticas de drogas deram maior ênfase à droga em si do que aos fatores de formação do comportamento da pessoa, que parece ser o mais importante. Para lutar de forma mais efetiva contra o abuso de drogas, deveríamos dar maior atenção às modificações de comportamento", disse Tarter.