Balaio

NA ESCURIDÃO DA MENTE

22 mai 2017 às 16:04

Eis um livro que eu comecei a ler sem saber de absolutamente nada, solicitei receber esse livro da editora pelo titulo. Só basta ter um "escuridão" e "mente" que já quero, então eu li. E meu Deus!


Logo na capa temos a ilustre frase de Stephen King onde este mesmo diz que não é fácil de se assustar, e que neste livro sentiu muito medo. Adiando para vocês que me considerei mais corajosa que o King, porque eu não senti nem um pingo de medo. Somente raiva, nossa e quanta raiva.


Na Escuridão da Mente de Paul Tremblay conta de uma família dos EUA, tudo muito comum e normal, até que a filha mais velha de 14 anos começa a apresentar sintomas de esquizofrenia. Depois de muitas consultas e medicamentos e a constante piora da menina, o pai, um religioso que por culpa do desemprego se volta mais para a igreja. Começa a acreditar que sua filha está possuída por forças malignas e com a ajuda do padre da região decidem fazer um show de TV (??????????????) chamado "A Possessão" para documentar todo o comportamento estranho da filha, propagar o cristianismo, fazer um exorcismo pra todo mundo ver e de quebra ganhar um dinheirinho.


Preciso dizer que eu não gosto de livros de possessão, nem demônios, nem de qualquer dessas coisas da igreja em formato de terror (ou qualquer coisa de igreja e ponto. ) Então cai nesse livro de paraquedas, que segundo tudo o que eu já ouvi, considero esse livro um tanto diferente de todos os outros, eu te digo o porquê.


Começamos a história com Merry, a irmã mais nova, que presenciou todo o horror digno de um filme de terror. Sendo entrevistada, 15 anos depois de tudo, por uma escritora a fim de publicar um livro contando a real história de tudo o que aconteceu na sua infância.


Então temos essa intercalação de momentos: o passado sendo contado por uma adulta, o presente em primeira pessoa e posts de um blog falando sobre a série de TV.


O livro é muito bem escrito, os personagens são muito bem construídos, principalmente as duas irmãs. Mas o que me chocou mesmo, que me fez ferver de ódio ( não do livro, entendam, mas da situação que nos é apresentada) foi o fato do autor ter flertado tanto com obras como "O exorcista" onde a pobre menininha pura é, sem nenhuma explicação ou motivos convincentes, possuída por um espirito maligno e é salva no final por um homem branco da igreja. E com obras de terror feminista como "O Papel de Parede Amarelo" onde uma mulher sã é trancada em um hospício a mando do seu marido, dizendo que ela está louca, nesse quarto com papel de parede amarelo ela literalmente fica doida.


Então temos todo o tempo essa crítica a filmes e livros de terror onde a menina pura começa a fazer coisas malignas como se tocar, ser inteligente e saber de coisas que só homens da igreja saberiam. Você fica o tempo todo entre A) Todo mundo é doido coitada da menina que tem esquizofrenia e B) A menina ta possuída coitada da família.


Mas tudo é muito ambíguo, o fato de os pais aceitarem serem expostos, e exporem suas filhas de 8 e 14 anos, como animais de circo para todo mundo sobre um pretexto religioso ou sei lá o que é já por si só absurdo e horrível. Entretanto as meninas são inteligentes, e juro, foram a melhor parte do livro. Merry e Marjorie são ótimas personagens, mesmo depois de tudo, eu ainda queria conhecer e saber mais das duas.


É um horror reflexivo, onde no final (eu estava certa, obvio) as cosias tomam um rumo totalmente convincente e chocante. Que faz você, mesmo lendo indícios de que alguma coisa bem ruim aconteceu, ainda se surpreende com o final macabro. E percebe que (graças a deus) o livro é extremamente real por falar de pessoas que podem ser reais, podem ser você e eu. De como todos temos o bem e o mal dentro de nos e fazemos merda e coisas boas também. Então está aqui um ótimo livro, se você tem estômago, nervos e coragem para lê-lo. Vale muito a pena.

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