Nos últimos 30 anos, a tragédia brasileira pode ser resumida em duas letrinhas: PT. Eu estive no PT e sobrevivi a ele. Espero que o Brasil também sobreviva.
Pouco tempo atrás, disse um querido amigo da época de universidade: "Paulo, nós somos sobreviventes". Hoje meu amigo é um profissional realizado e um pai de família amoroso, mas há 20 anos eu e ele éramos seres revoltados contra a estrutura da realidade e mergulhados na angústia. Sobrevivemos para contar a história e é isso que tentamos fazer todos os dias, com nosso trabalho e nossa vida familiar.
Nós sobrevivemos à mentira política e à mentalidade revolucionária. Votamos no PT e fizemos campanhas com estrelinha no peito. Até descobrir o grande golpe em que estávamos envolvidos, colaboramos para reforçar o mito de que petistas são seres inimputáveis, farsa que até hoje pessoas da minha geração levam a sério.
Filhos da ditadura, nós sobrevivemos a uma visão distorcida dos valores de liberdade, fraternidade e igualdade. Acreditávamos que a liberdade era uma licença irrestrita até mesmo para a autodestruição; que a fraternidade era defender um ideal coletivo e desconsiderar os indivíduos; que a igualdade não era de oportunidades, mas de resultados. Enfim, nós acreditávamos em Revolução Francesa; e isso nada mais é do que acreditar na guilhotina.
Sobrevivemos ao hedonismo e à convicção de que nada poderia nos aniquilar. Com isso, mergulhamos fundo no lamaçal do vício e da degeneração psicológica. Até hoje, quando vejo viciados e bêbados caídos na rua, penso que esse poderia ter sido o nosso destino. Personagens suicidas e desesperados eram nossos modelos de conduta.
Por nos julgarmos livres e especiais, ferimos sem dó muitas pessoas que se colocaram em nosso caminho. A elas eu peço perdão até hoje, mais de 20 anos depois. O estrago que um só egoísta pode causar em volta é incalculável. E pior: é possível agir com total egoísmo acreditando-se muito solidário, sensível e honesto.
Sobrevivemos, enfim, a um dos piores tipos de fanatismo religioso: o fanatismo ateu. Enxergávamos o mundo como uma estrutura impessoal e o indivíduo humano como uma máquina desprovida de alma. A verdade, para grande parte da minha geração, era um conceito relativo. Isso nos afastou das grandes tradições religiosas e culturais, guardiãs dos valores que mantêm viva a civilização.
Na condição de sobrevivente, vejo, com muita preocupação, que a sociedade brasileira hoje percorre o caminho que quase nos levou à morte. Setenta mil assassinatos por ano, instituições aparelhadas, economia destruída, sistema de educação falido, saúde caótica, desemprego em massa, tráfico de drogas, aborto e ideologia de gênero: temos todos os elementos de um país dominado pelo Mal. Tudo aquilo que quase destruiu tanta gente da minha geração hoje está acabando com o país inteiro. Só Deus pode nos salvar: mas Ele precisa da nossa colaboração.
(Publicado hoje na Folha de Londrina.)