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Obrigado por me salvar a vida

03 jun 2016 às 10:56
- Foto: Rei Santos
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No ano de 1993, após concluir a universidade, eu estava desempregado e desesperado. Lembro uma tarde cinzenta, em que atravessei a Avenida Higienópolis e pensei: "Em cinco anos, não estarei mais vivo". Vinte e três anos depois, eu contemplo a Avenida Higienópolis pela janela e me sento diante do computador para escrever estas palavras. Felizmente, sou um péssimo profeta do meu próprio destino.

Se estou vivo, devo agradecer a algumas pessoas. A meu pai e minha mãe, que me deram todo apoio naquele período de trevas; ao compositor João Sebastião Bach, cuja música me ajudou a suportar as piores crises de melancolia; aos amigos que sempre me acolheram e consolaram (Preto, Zé, Beto, Marcelo, Agda, Carina...); e, por fim, à companhia de alguns escritores, que me fizeram superar o pessimismo doentio e acreditar no sentido da vida. Um destes eu viria a conhecer pessoalmente: o filósofo Olavo de Carvalho. Graças às mãos estendidas, eu pude recriar dentro de mim o que havia perdido em algum momento da juventude: a fé em Deus.

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A depressão teve seu lado bom, pois me ensinou o valor fundamental do amor ao próximo. Com 23 anos, eu não era um sujeito fácil. Estava dominado por um profundo niilismo e tinha obsessão pela revolução socialista. Levei muitos anos para me livrar das mentiras que aprisionaram meus pensamentos e tanta dor já causaram (e causam) à humanidade. Com o passar do tempo, aprendi que a verdadeira bondade se faz de indivíduo para indivíduo, sem a intermediação de coletivismos ideológicos. É preciso estender a mão sempre — mesmo que as palavras sejam duras e as verdades, amargas.

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Uma amiga leitora compara a depressão a um lobo cheio de malícia, que fica à espreita para atacar quando menos esperamos. Winston Churchill dizia algo semelhante: apelidou a sua melancolia de "cão negro". Carlos Lacerda gostava muito dessa imagem do estadista inglês, tanto que a utilizou no título de um livro. (Há uma estranha irmandade entre os que já foram depressivos.)


Para ser justo, devo dizer que não recebi apenas ajuda de ordem familiar e intelectual, mas também o apoio objetivo de pessoas que acreditaram no meu trabalho. Em 1994, a FOLHA me contratou como repórter. Sempre serei grato aos colegas que me deram essa primeira oportunidade no jornal que acabou por ser a minha escola profissional, a minha verdadeira faculdade.

Vinte três anos depois de cruzar a Higienópolis, achando que estaria morto em pouco tempo, eis-me aqui, com os cabelos já ficando prateados e as preocupações normais de um trabalhador e pai de família. Algo me diz que fazer aquela travessia valeu a pena. Hoje, no Dia do Sagrado Coração de Jesus, padroeiro de Londrina, eu me penso na ária de Bach: "Blute nur, du liebes Herz!" Em português claro: — Sangra, querido Coração!


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