Falando de Literatura

A Eternidade das águas (Crônica de Rita Queiroz)

16 set 2021 às 06:01

Éramos crianças e brincávamos. Eu acreditava na eternidade dos sonhos e não sabia que havia o fim, que um dia os sorrisos se apagam. Ele se foi e eu não entendia o porquê. Ríamos tanto, éramos luz!
As águas. As águas são fortes. As águas que nos banham, matam nossa sede, alimentam a vida.
Eu era apenas uma criança que queria saber onde ele estava e só recebia como resposta lágrimas. E todos me faziam entender que não podia perguntar por ele. E eu só queria o seu sorriso brincando com o meu.
Em um domingo de sol, dia lindo, toda a família foi à praia. Ao final da tarde, aquele menino que conhecia não voltou. As águas o tinham levado. Eu continuava criança e não entendia porque isso acontecia. Porque havia crianças que não cresciam.
Cresci, vivi tantas coisas, perdi... Os sonhos continuavam e ainda acreditava na eternidade, que sempre se distanciava de mim. Um dia recebi uma notícia que me fez a mulher mais feliz do mundo. Um ser dentro de mim, nadando em meu ventre.
As águas levaram todos de mim, para um oceano profundo onde ainda há o desdobrar das flores, onde relâmpagos e trovões não apagaram meu sorriso, onde as verdades da retina são apenas efemeridades e as asas dos sonhos não são cortadas.
Ainda continuo sem entender porque os sorrisos se apagam!

Rita Queiroz


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