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Diógenes de Sínope – parte II

08 fev 2018 às 11:59
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"As qualidades que deves ter são essas: ser desavergonhado e arrogante, insultar a todos igualmente, sem ter respeito por reis ou particulares; e assim todos te admirarão e te considerarão corajoso." (Diógenes em trecho da obra: Vidas à Venda ou Leilão dos Filósofos de Luciano de Samôsata, ou Samósata.)

O supracitado descaramento não deve ser visto como um conselho mal-intencionado, muito ao revés, o nosso genial sábio-maltrapilho ensina que o homem tem sempre a sua disposição o que é suficiente e necessário para viver. Não precisa ter pudor de usufruir as coisas que a Natureza lhe oferta, nem se encher de vergonha de praticar abertamente todos os atos fisiológicos, afinal de contas tudo o que é convencionado e determinado pelas sociedades não é natural, é desmerecedor de atenção, é supérfluo. Se Diógenes tem vontade de expelir um pum (estrondoso ou recatado), ele segue firme em seu propósito; se Diógenes sente fome, sobe nas árvores para apanhar seus frutos, ignorando marcas ou limites de propriedade; se Diógenes está cansado, enrodilha-se feito um tatuzinho em seu manto e adormece ali mesmo. Considera-se o homem mais livre e feliz da face da Terra, de tal maneira que escarnece do maior filósofo macedônio de todos os tempos: "Aristóteles pede permissão para tomar o seu café da manhã, almoçar e jantar, Diógenes come quando a vontade chega".

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Proclama que a felicidade vem de dentro do indivíduo e não de fora. Ao observar uma criança beber na cavidade das mãos decide livrar-se de sua caneca, argumentando: "Um menino deu-me lição de simplicidade". Em seguida, depara-se com outro ente infantil que saboreia lentilhas no côncavo de um pedaço de pão (ignorando a utilidade de prato e talheres), Diógenes, igualmente, sente-se tentado a abandonar a sua bacia.

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Alimenta-se daquilo que encontra. Solicita uma pequena casa, não atendem o seu pedido, resolve então residir dentro de um barril. Liberdade é a sua busca incansável em todos os níveis, é o seu modo de vida, e a Natureza representa e abriga tudo o que é bom e digno. Pela primeira vez na História Universal, ele emprega o termo "cidadão do Mundo", declarando-se um ser independente e cosmopolita. Curiosamente, ele poupa do sarcasmo a importância da criação de cidades e/ou sociedades organizadas apesar de ridicularizar profundamente as regras e convenções sociais.

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Certa feita, indagaram-no a respeito da idade ideal em que alguém deveria casar-se, a resposta só podia ser curta, grossa e sincera: "Quando se é jovem, ainda não, quando se é velho, não mais". Fantástico, deita por terra qualquer contra-argumento hipócrita!


Como é de conhecimento geral, Alexandre "Magno" (356-323 a.C.) – considerado o maior gênio militar da Antigüidade – havia sido educado pelo eminente Aristóteles (384-322 a.C.). O implacável general estima em demasia o seu preceptor-filósofo, afirmando: "Amo-o tanto ou mais que o meu próprio pai (Filipe II, rei da Macedônia), porque este me deu a vida, aquele me ensinou a arte de viver". Em sua estada na cidade-estado grega de Corinto, Alexandre ordena que o conduzam até o estouvado filósofo-mendigo. O todo-poderoso macedônio - altivo e generoso - encontra Diógenes escarrapachado no chão "pegando um bronze" ao redor de sua residência fixa, uma enorme pipa. O monarca detém-se ante o nosso incorruptível herói, fazendo-lhe sombra, e anuncia: "Sou Alexandre III, Senhor do Mundo, peça o que quiser e atenderei o seu rogo". O esfarrapado volta-se para o onipotente "salvador", aponta o Sol e responde: "Ponha-te de lado; não me tires o que não me podes dar". Desnecessário dizer que os puxa-sacos da comitiva ficam indignados e pretendem reagir à insolência com a espada. Alexandre breca-os, comentando: "Este é o maior vitorioso de todos os homens, pois venceu a si mesmo, não precisa de absolutamente nada".

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Alexandre sabe reconhecer e admirar um espírito elevado. Seus lacaios bajuladores continuam a zombar do genial esmolambado até o momento em que se volta para eles e silencia de modo decisivo a turbamulta, exclamando imperiosamente: "Se não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes!".


Aproximamo-nos do fim das infinitas observações que gostaria de tecer sobre Diógenes e o seu único e maravilhoso meio de vida. Convém falar de seu esbarrão com o bambambã da Filosofia mundial Platão (429-347 a.C.). Perambulando pelas ruas de Atenas, Diógenes assiste o renomadíssimo filósofo definindo o ser humano tal qual "um bípede implume". Rápido como um raio, corre para o mercado mais próximo, consegue um frangote, depena-o, cata o pobre e humilhado bicho pelo pescoço, conduz o desgraçado até Platão, e afirma: "Honorável Senhor, eis o seu homem!". Reza a lenda que, talvez, tenha sido esta a única vez que alguém conseguira desnortear, "vis-à-vis", o famosíssimo pensador.

Ora, ora, ora se não fosse a ganância ilimitada do homem (e da mulher), o nosso querido planeta Terra continuaria por muito tempo ainda saudável, com seu ar puro, matas exuberantes e verdes e águas límpidas. Mas não, dá-lhe poluição! Para quê? Como bem diz meu pai: "O homem acha que está a destruir a Natureza, na verdade, é ela que vai arruiná-lo, vingando-se ciclopicamente".


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