O chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que o Brasil precisa liderar o processo de reconstrução do Haiti, principalmente depois de ter perdido a médica sanitarista e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, no terremoto que atingiu o país na última terça-feira. Durante o velório de Zilda Arns, no Palácio das Araucárias, sede do governo do Paraná, em Curitiba, Carvalho afirmou que o Brasil deixou uma "mártir" no Haiti, mas ganhou uma "padroeira."
"O governo tem consciência do papel da nossa força de paz lá, que, embora muitas vezes tenha sido criticada, tem um papel de reconstrução naquele país. Eu dizia ontem ao presidente Lula que temos de adotar o Haiti. Temos uma mártir no território haitiano", disse Carvalho. "Nós perdemos uma grande militante. Mas ganhamos uma grande padroeira que deve nos estimular a seguir seu exemplo."
Mais de 500 pessoas formam uma fila em frente ao Palácio das Araucárias para acompanhar o velório de Zilda Arns. O senador Flávio Arns (PSDB-PR), sobrinho da médica, afirmou que a situação no Haiti é "caótica" e que a atuação da força de paz conduzida pelos militares brasileiros é fundamental para o Haiti. "Eu arriscaria dizer que a organização do Estado no Haiti é hoje das forças de paz", disse. Carvalho concordou e disse que o Brasil deve trabalhar ao lado das Organizações das Nações Unidas (ONU) para viabilizar a chegada de recursos e doações ao Haiti e para que o país tenha capacidade e autonomia para se reerguer.
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O senador elogiou publicamente a atuação do governo brasileiro no país e citou nominalmente Carvalho, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Arns também fez agradecimentos especiais ao padre William, que conversava com Zilda no momento do terremoto e indicou o local onde a médica estava, e à embaixatriz do Brasil em Porto Príncipe, Roseana Teresa Aben-Athar Kipman, que empreendeu esforços para localizar o corpo de Zilda debaixo dos escombros da igreja em que ela havia acabado de proferir uma palestra. "O papel da embaixatriz foi fundamental, e a força da paz, os jovens militares, tiveram um papel extraordinário ao remover os escombros para localizá-la."
Emocionada, a freira Rosangela Altoé, de 55 anos, da Congregação Imaculada Conceição, narrou os últimos momentos de Zilda Arns. Ela estava na mesma igreja em que o teto desabou e onde Zilda morreu. Segundo ela, a médica preparava a visita ao Haiti desde agosto e, apesar dos entraves burocráticos, estava ansiosa para visitar o país. "A todo momento ela me dizia 'fique sossegada, vai dar tudo certo', me tranquilizava a respeito da viagem", afirmou.
Rosângela contou ter ouvido o estrondo que parecia o de uma bomba quando o terremoto começou. "Depois já não vi mais o que aconteceu. A parede caiu e eu caí em cima de escombros. Outras paredes começaram a ruir e eu me joguei do edifício", afirmou. "Nesse momento subiu uma nuvem branca, era poeira dos escombros e a gente não via mais nada, parecia que iríamos sufocar."
Com algumas escoriações e hematomas, a freira afirmou que a morte de Zilda, com quem trabalhou por muitos anos, foi muito dolorosa, mas que se consolava pelo fato de a médica ter falecido fazendo o que gostava. "A doutora Zilda deu a vida dela pela Pastoral da Criança. Ela viveu essa missão nesses 26 anos e morreu nessa missão", declarou. Ela manifestou solidariedade ao povo haitiano. "A gente não consegue imaginar o tamanho da dor de quem ficou sem nada, tinha pouco e hoje não tem mais nada, água, roupa, calçado, comida, casa. Não dá para esquecer o choro das crianças, pais e mães gritando por eles."